O coordenador Nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), Renan Santos,
publicou nesta quinta-feira, 4, em suas redes sociais que o grupo não faz parte
do pedido de criação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) protocolado na
Câmara dos Vereadores de São Paulo que tem por objetivo investigar a atuação do
padre Júlio Lancelotti junto aos moradores de rua. "Essa briga com esse
padre não é nossa", enfatiza a mensagem, que faz ataques ao religioso.
A postagem afirma que "haverá o momento de confronto com ele e com a
indústria da miséria que destrói o centro de SP. Mas não é agora". Renan
Santos ainda escreveu que este ano o MBL já tem "causas, lutas e
objetivos" acertados e convida os militantes a não serem "vítimas de
circunstâncias alheias".
Apesar de não se envolver diretamente com a possível CPI que pretende
investigar Lancellotti, e que foi capitaneada pelo vereador Rubinho Nunes
(União Brasil), Renan Santos critica a atuação do sacerdote católico.
"Conhecemos bem a índole e os contatos desse bizarro. É a figura mais
blindada da esquerda - quiçá da política brasileira", escreve ele na publicação
que foi repostada também pelo deputado federal Kim Kataguiri (União-SP),
pré-candidato à Prefeitura de São Paulo.
CPI das ONGs
A CPI articulada na Câmara de São Paulo tem por objetivo investigar
organizações não governamentais (ONGs) que atuam na Cracolândia, região central
de São Paulo. As assinaturas necessárias já foram recolhidas. O autor da
proposta prevê que a comissão será instaurada em fevereiro, após o recesso
parlamentar. Segundo ele, o padre Júlio Lancellotti será um dos principais
alvos da CPI das ONGs.
Rubinho Nunes acusa as organizações de promoverem uma "máfia da
miséria", que "explora os dependentes químicos do centro da
capital". Segundo ele, essas organizações recebem dinheiro público para
distribuir alimentos, kit de higiene e itens para o uso de drogas, prática
conhecida como política de redução de danos, à população em situação de rua, o
que, argumenta ele, gera um "ciclo vicioso" no qual o usuário de
crack não consegue largar o vício.
Em sua defesa, o padre Júlio Lancellotti afirma que se trata de uma ação
legítima quando se instala uma CPI para investigar o uso de recursos públicos
pelo terceiro setor. Ele acrescenta que não faz parte de nenhuma organização
conveniada à Prefeitura de São Paulo, mas, sim, da Paróquia São Miguel Arcanjo.
O sacerdote diz ainda que seus trabalhos estão vinculados à Ação Pastoral da
Arquidiocese de São Paulo, que, por sua vez, "não se encontra vinculada,
de nenhuma forma, as atividades que constituem o objetivo do requerimento
aprovado para criação da CPI em questão".
A Craco Resiste, um dos alvos do vereador, informou que não é uma ONG e sim um
projeto de militância que atua na região da Cracolândia para reduzir danos a
partir de vínculos criados por atividades culturais e de lazer. "Quem
tenta lucrar com a miséria são esses homens brancos cheios de frases de efeito
vazias que tentam usar a Cracolândia como vitrine para seus projetos pessoais.
Não é o primeiro e sabemos que não será o último ataque desonesto contra A
Craco Resiste", diz a entidade em nota divulgada nas redes sociais. A
reportagem não conseguiu contato com o Centro Social Nossa Senhora do Bom
Parto, conhecida como Bompar, também mencionada por Rubinho.
Apoiadores de Lancellotti
A Arquidiocese de São Paulo afirmou acompanhar com "perplexidade" as
notícias sobre a possível abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) que "coloca em dúvida a conduta do padre Júlio Lancellotti no
serviço pastoral à população em situação de rua".
Em nota divulgada nesta quarta-feira, 3, a instituição afirma que o sacerdote
"exerce importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos
vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das
pessoas em situação de rua na cidade".
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, manifestou seu apoio ao
padre Júlio Lancellotti diante da possível criação da CPI. Em uma postagem
nesta quinta-feira, 4, o petista afirmou que Lancellotti "dedica sua vida
a seguir o exemplo de Jesus", e, ainda, que seu trabalho é "essencial
para dar algum amparo a quem mais precisa."
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Instagram/ renansantosmbl