Coluna

Ataque a deputado em Capitão Poço afeta saúde da população, parece retaliação, e é, e tende a piorar.

Pequeno município do nordeste do Pará demonstra como uma oligarquia familiar atua para se perpetuar no poder - e ainda tem a ajuda de “circunstâncias favoráveis”

09/03/2024 08:13 /

Ataque a deputado em Capitão Poço afeta saúde da população, parece retaliação, e é, e tende a piorar.

 

o início deste mês, a coluna divulgou que, em medida que mais parecia retaliação, a Prefeitura de Capitão Poço, nordeste do Pará, havia publicado uma portaria proibindo o Hospital Maternidade do Povo de licitar com a administração pública para atender aos usuários do Sistema Único de Serviço (SUS). Com a publicação da notícia, a repercussão que chegou a esta coluna é que, de fato, trata-se de retaliação. Contra quem, não é surpresa.

 

A Maternidade do Povo é vinculada ao Hospital Aldomar Aarão Monteiro, da família do deputado estadual Erick Montteiro, do PSDB, principal adversário político do atual prefeito da cidade, João Tonheiro, do PL. Tonheiro tem dois mandatos e não pode mais se reeleger, mas já deixou claro que quer se manter no poder, tanto que trabalha para indicar a sobrinha, médica veterinária Fernanda Tonheiro, que já aparece em movimento com seu padrinho político, conforme os outdoors espalhados pela cidade para quem quiser ver, inclusive o Ministério Público Eleitoral.

 

Tratamento aos adversários

 

Por outro lado, fonte da coluna assegura que a retaliação a Erick, oficialmente feita por Tonheiro, tem total apoio do Palácio dos Despachos, mais conhecido como sede do governo do Pará. É que o deputado Erick é, também, adversário político do nome que o governador Helder Barbalho e o MDB escolheram apoiar em Capitão Poço, o ex-deputado Raimundo Belo, que também já foi duas vezes prefeito da cidade e é marido deputada estadual Diana Belo que, assim como seu marido, já teve dois mandatos de prefeita na cidade.

 

Foi para Diana Belo que o ministro das Cidades, Jader Filho, irmão do governador Helder Barbalho, discursou na última segunda-feira, 4, no município de Mãe do Rio, no evento de lançamento da pré-candidatura de Bruno Rabelo a prefeito daquela cidade. No palanque, Jader Filho abraçou Diana e prometeu que irá também a Capitão Poço para lançar a candidatura de Raimundo Belo.

 

Contra a tal “República”

 

A questão não é apenas ser adversário político na sua terra natal, onde Erick já foi o vereador mais votado de Capitão Poço há 24 anos, por ser médico e filho do também conhecido e já falecido médico Dr. Aldomar, que foi vice-prefeito da cidade, na qual, atualmente, Erick preside o diretório municipal do PSDB. É que nesse intervalo ele veio para Ananindeua, onde teve dois mandatos de vereador e se tornou amigo do também médico e, na ocasião, vereador Daniel Santos, que ainda nem era do MDB. Sempre aliados, juntos se tornaram deputados, sendo Daniel o mais votado e Erick, um dos mais bem votados.

 

Essa condição de aliado de Daniel pesa contra Erick na métrica do do governador, no que a fonte chama de “ressaca” da postura da turma da “República de Ananindeua”, da qual a cúpula emedebista paraense não aceita a independência e desenvoltura política, liderada pelo prefeito Daniel Santos e a mulher dele, Alessandra Haber, que, em 2022, sem nunca antes ter exercido qualquer mandato eletivo - até onde se sabe nem mesmo de síndica -, foi eleita pelo MDB a deputada federal mais votada do Pará.

 

Desde então, há claros sinais de poda da cúpula emedebista aos movimentos do casal e dos seus aliados. Como cereja do bolo, abalou ainda mais os já à flor da pele nervos do governo a postura de protagonismo da primeira dama Alessandra Haber na Câmara Federal em relação aos casos de abuso sexual infantil no arquipélago do Marajó, que entrou fortemente na pauta nacional há poucos dias.

 

“Se não posso com ele...”

 

Segundo a fonte da coluna, temor de Helder Barbalho e companhia ao time da “República de Ananindeua” seria igual ao que havia em relação ao ex-deputado federal Lúcio Vale e sua família, a ponto de, ainda na condição de vice-governador, Lúcio Vale ser agraciado com o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Pará. Com isso, à época, o Pará ficou sem a figura do vice-governador, e Helder Barbalho sem a figura do risco de qualquer medida não controlada, já que, na sua ausência do primeiro mandato, e na ausência do vive, o posto por lei passava automaticamente para o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Chicão Melo, homem de confiança do governador.

 

No caso de Daniel, e isso também já foi dito aqui, a saída que o governador Helder Barbalho encontrou para tirá-lo do caminho foi a mesma ofertada a Lúcio Vale - uma vaga no TCM, no caso a futura vaga do conselheiro Sérgio Leão, este em iminência da aposentadoria por idade. Ocorre que, diferente de Lúcio Vale, do prefeito Daniel, o governador recebeu um não. E, na sequência, tem se seguido todo um gestual indicando que esse “não” não foi bem recebido.

 

A queda e o coice

 

O impedimento ao funcionamento da Maternidade do Povo pelo SUS é, portanto, a segunda rasteira que Erick Monteiro recebe do governador Helder Barbalho. O coice após a queda, em abril do ano passado, quando o Hospital Aldomar Aarão Monteiro foi fechado por falta de pagamento.

Dois meses depois, em junho, o governador Helder Barbalho recebeu o deputado Erick Montteiro, com a vice-governadora Hana Ghassan devidamente à tiracolo, para assegurar, com gravação em vídeo, a reabertura do hospital, o que nunca aconteceu.

 

Ataque frontal


A crise política está instaurada em Capitão Poço Na manhã de ontem, fiscais da Secretaria de Meio Ambiente tentaram invadir a casa do deputado Erick Montteiro sem autorização da Justiça. A ação seria mais um caso de perseguição política do prefeito Tonheiro.



Ataque a deputado em Capitão Poço afeta saúde da população; parece retaliação, e é, e tende a piorar.