ircula em Belém pesquisa eleitoral retratando um dos cenários prospectados pelo Instituto Mentor, empresa com base física no Pará, Amapá e Maranhão, apresentando empate técnico entre Edmilson Rodrigues (Psol), Úrsula Vidal (MDB) e Éder Mauro (PL). Essa pesquisa coincidiu com uma publicação na “Folha de S. Paulo” listando nomes que poderiam vir a figurar na disputa do ano que vem em Belém.
Curiosamente, um disparo em massa de WhatsApp fez circular na manhã de ontem outro levantamento, assinado pelo Instituto Paraná Pesquisas, que exclui do formulário a secretária de Cultura de Helder Barbalho e coloca o deputado federal Eder Mauro (PL) com larga vantagem sobre os demais postulantes. A TV RBA, da família Barbalho, também divulgou a pesquisa.
Só para lembrar, o Paraná Pesquisas
foi o instituto que recebeu R$ 2,7 milhões na pré-campanha de 2022, pagos com o
Fundo Eleitoral do PL, partido de Bolsonaro. Os números da Paraná sempre
ofereceram vantagem ao então presidente da República em sua tentativa de
reeleição. O PL é o partido de Éder Mauro que, por coincidência, teria vantagem
expressiva nos números que buscam influenciar a disputa pelo cargo do
prefeito Edmilson Rodrigues.
Há algum tempo, soube-se que o PL,
partido de Waldemar da Costa Neto, havia investido mais de R$ 1,6 milhão na
mesma empresa de análise de opinião pública. O resultado do investimento teria
afetado a amostra coletada em Belém?
Palavra de marketeiro
Irônico, um marqueteiro paraense
resumiu assim a posição da Paraná Pesquisas quando se trata de pesquisas
eleitorais: “Eles têm 0% de rejeição em relação ao dinheiro controlado pelo PL
e pelos candidatos da direita, de norte a sul do Brasil. Me surpreenderia se
apresentasse algo diferente do que apresentou”. “Os números me pareceram
coerentes, embora o Éder Mauro esteja um pouco maior do que imagino”, avalia
outro.
Há formas e formas
Que pesquisas eleitorais são
ferramentas importantes para entender o cenário político e prever resultados de
eleições, todo mundo está careca de saber. No entanto, o que nem todo mundo
sabe é que a forma como pesquisas são conduzidas pode influenciar sua efetividade.
Nesse sentido, pesquisas eleitorais feitas presencialmente têm se mostrado mais
efetivas do que aquelas realizadas por telefone. E a Paraná Pesquisas coleta
seus dados justamente por telefone.
Dentre outras razões para essa
diferença de efetividade entre pesquisas presenciais e telefônicas está o fato
de que o lugar onde o telefone móvel está pode não ser, sequer, o cenário onde
a disputa eleitoral acontecerá.
Com o avanço da tecnologia, é cada
vez mais comum que as pessoas se desloquem com frequência, seja por motivos de
trabalho, estudo ou mesmo lazer. Há pessoas com DDD 91 espalhadas País afora e
que nem votam mais na região de abrangência dessa cobertura telefônica,
invalidada com o avanço da tecnologia. Dessa forma, é possível que um eleitor
esteja em uma cidade diferente daquela em que está registrado para votar, o que
pode distorcer os resultados do estudo.
Interação direta
Além disso, as pesquisas presenciais
permitem uma interação mais direta entre o entrevistador e o entrevistado,
evitando a indução, mais facilmente manipulada por telefone. O contato pessoal
gera maior confiança e sinceridade por parte do eleitor, resultando em
respostas mais precisas e verdadeiras. Por outro lado, nas pesquisas por
telefone, como a da Paraná, é comum que as pessoas se sintam menos à vontade
para expressar suas opiniões políticas, seja por medo de represálias ou
simplesmente por não quererem se envolver em uma conversa desconfortável com
uma voz anônima.
Outro fator que contribui para a
maior efetividade das pesquisas presenciais é a possibilidade de verificar a
identidade do entrevistado. Nas pesquisas por telefone, não há como garantir
que a pessoa que está respondendo às perguntas é realmente quem ela diz ser.
Isso pode levar a distorções nos resultados, uma vez que uma mesma pessoa pode
responder várias vezes à mesma pesquisa, contaminando os dados coletados.
Espaço demarcado
Durante a disputa presidencial de
2022, uma nota divulgada pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa
demarcou o campo entre pesquisas, realizadas presencialmente, e enquetes,
feitas por telefone e sem valor científico. "Os levantamentos e coletas de
opiniões realizados por meio de ligações telefônicas para pesquisas eleitorais
[...] não são recomendados para esse fim, pois nem sempre retratam com
fidelidade a percepção real da maioria dos eleitores e não possuem valor
científico ou precisão em relação a localização e domicílio eleitoral de quem
responde a enquete".
Assinada pelo presidente da entidade,
Duilio Novaes, a nota foi divulgada logo após aparecer no site do TSE o
registro da encomenda de um levantamento telefônico de intenções de voto para
presidente com 500 entrevistas em todo o País, em setembro de 2022.
Mauro Paulino, diretor geral do
Datafolha, endossa a posição da Abep. Ele reconhece que pesquisas feitas por
telefone são válidas para investigar imagem de produtos de mercado ou opiniões
de públicos selecionados, mas "têm muitas limitações" para retratar a
disputa eleitoral. Segundo ele, a principal limitação é a impossibilidade de o
entrevistador apresentar um cartão de resposta circular com o cardápio de
candidatos aos entrevistados. "O cartão circular é um instrumento
básico", diz. "Sem isso, não dá para estimular adequadamente".
Telemarketing, não
Outro problema, diz Paulino, é que a
pesquisa telefônica "lembra o telemarketing, que é muito rejeitado pelos
brasileiros". A taxa de recusa tende a ser maior, contaminando o resultado
final. "Não sabemos, por exemplo, se há um perfil específico de eleitor
que recusa mais frequentemente. Se há isso, há influência no resultado",
explica.
Na mesma linha, o cientista político
Sérgio Santos explica que “nas pesquisas por telefone, o entrevistador é
obrigado a ler os nomes dos candidatos em cada cenário investigado, podendo a
ordem da leitura contaminar o resultado, o que não acontece na pesquisa
presencial, onde um cartão circular com os nomes é mostrado ao entrevistado,
evitando indução por prevalência”.
O risco é potencializado quando há um
quadro como o atual, em Belém, com muitos pré-candidatos, exclusão de nomes
relevantes e diferentes cenários precisam ser repetidos. Santos diz ter
acompanhado esse tipo de enquete e que nele “a tendência de o entrevistado
cansar, se aborrecer com o entrevistador, desistir no meio ou escolher qualquer
um só para encurtar a conversa é muito maior”.
Limitação geográfica
Sérgio Santos ressalta que as
pesquisas eleitorais presenciais também permitem uma amostragem mais
representativa da população: “ao realizar entrevistas em diferentes regiões, é
possível captar as particularidades de cada localidade e obter uma visão mais
abrangente do eleitorado. Já nas pesquisas por telefone, há uma limitação
geográfica, uma vez que apenas as pessoas que possuem telefone móvel e estão
disponíveis para responder às perguntas são incluídas na amostra”.
A interação direta entre
entrevistador e entrevistado, o cartão circular que garante igualdade entre os
nomes colocados diante da vista do entrevistado, a possibilidade de verificar a
identidade do respondente e a representatividade da amostra são aspectos que
garantem a confiabilidade e precisão dos resultados de uma pesquisa, “e nenhum
desses fatores se sustenta nessa enquete telefônica apresentada pelos filiados
do PL paraense como se fosse uma pesquisa eleitoral a ser levada a sério”,
finaliza Santos, para quem o cenário abrangente da pesquisa do Instituto Mentor
é o mais representativo da fragmentação que deve acontecer nas eleições de
2024.
Estudo prejudicado
Feita de maneira presencial e com uma
amostragem de 1.100 entrevistas em todos os distritos de Belém, a pesquisa do
Instituto Mentor mostra o seguinte cenário: Edmilson Rodrigues 14.00%, Úrsula
Vidal 9.91%, Éder Mauro 9,36%; José Priante 7.09%; Everaldo Eguchi 6,73%; Zeca
Pirão 6,45%; Igor Normando 4,73%; Thiago Araújo 4,27%; Cássio Andrade 4,00%;
Bob Fllay 4,00%; Adriano Coelho 1,55%; e Alessandra Haber 0,82%.
Santos explica que para comparar
efetivamente pesquisas de institutos diferentes, seria necessário que todas
elas incluíssem os mesmos nomes em sua grade. “A omissão de qualquer um deles
impede que seja aferida a comparação, especialmente quando confrontamos uma
pesquisa presencial, com base científica comprovada, a uma simples enquete
telefônica”, finaliza.