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Eleições 2024: Paraná Pesquisas coloca Éder Mauro na ponta em Belém, mas estudo provoca polêmica

Especialistas avaliam que levantamento feito por telefone não é tão efetivo quanto o presencial, especialmente ao omitir concorrentes do cenário, além das ligações do instituto responsável pelo estudo com o partido de Bolsonaro.

08/11/2023, 07:53 / Por Olavo Dutra | Colaboradores

Eleições 2024: Paraná Pesquisas coloca Éder Mauro na ponta em Belém, mas estudo provoca polêmica


ircula em Belém pesquisa eleitoral retratando um dos cenários prospectados pelo Instituto Mentor, empresa com base física no Pará, Amapá e Maranhão, apresentando empate técnico entre Edmilson Rodrigues (Psol), Úrsula Vidal (MDB) e Éder Mauro (PL). Essa pesquisa coincidiu com uma publicação na “Folha de S. Paulo” listando nomes que poderiam vir a figurar na disputa do ano que vem em Belém.


O então presidente Jair Bolsonaro com Murilo Hidalgo, dono do Instituto Paraná Pesquisas, que coloca o deputado federal Éder Mauro (PL) na liderança da disputa pela Prefeitura de Belém com estudo feito por telefone e supressão de concorrentes/Fotos: Divulgação.

Curiosamente, um disparo em massa de WhatsApp fez circular na manhã de ontem outro levantamento, assinado pelo Instituto Paraná Pesquisas, que exclui do formulário a secretária de Cultura de Helder Barbalho e coloca o deputado federal Eder Mauro (PL) com larga vantagem sobre os demais postulantes. A TV RBA, da família Barbalho, também divulgou a pesquisa.

 

Só para lembrar, o Paraná Pesquisas foi o instituto que recebeu R$ 2,7 milhões na pré-campanha de 2022, pagos com o Fundo Eleitoral do PL, partido de Bolsonaro. Os números da Paraná sempre ofereceram vantagem ao então presidente da República em sua tentativa de reeleição. O PL é o partido de Éder Mauro que, por coincidência, teria vantagem expressiva nos números que buscam influenciar a disputa pelo cargo do prefeito Edmilson Rodrigues.

 

Há algum tempo, soube-se que o PL, partido de Waldemar da Costa Neto, havia investido mais de R$ 1,6 milhão na mesma empresa de análise de opinião pública. O resultado do investimento teria afetado a amostra coletada em Belém?

 

Palavra de marketeiro

 

Irônico, um marqueteiro paraense resumiu assim a posição da Paraná Pesquisas quando se trata de pesquisas eleitorais: “Eles têm 0% de rejeição em relação ao dinheiro controlado pelo PL e pelos candidatos da direita, de norte a sul do Brasil. Me surpreenderia se apresentasse algo diferente do que apresentou”. “Os números me pareceram coerentes, embora o Éder Mauro esteja um pouco maior do que imagino”, avalia outro.

 

Há formas e formas

 

Que pesquisas eleitorais são ferramentas importantes para entender o cenário político e prever resultados de eleições, todo mundo está careca de saber. No entanto, o que nem todo mundo sabe é que a forma como pesquisas são conduzidas pode influenciar sua efetividade. Nesse sentido, pesquisas eleitorais feitas presencialmente têm se mostrado mais efetivas do que aquelas realizadas por telefone. E a Paraná Pesquisas coleta seus dados justamente por telefone.  

 

Dentre outras razões para essa diferença de efetividade entre pesquisas presenciais e telefônicas está o fato de que o lugar onde o telefone móvel está pode não ser, sequer, o cenário onde a disputa eleitoral acontecerá.

 

Com o avanço da tecnologia, é cada vez mais comum que as pessoas se desloquem com frequência, seja por motivos de trabalho, estudo ou mesmo lazer. Há pessoas com DDD 91 espalhadas País afora e que nem votam mais na região de abrangência dessa cobertura telefônica, invalidada com o avanço da tecnologia. Dessa forma, é possível que um eleitor esteja em uma cidade diferente daquela em que está registrado para votar, o que pode distorcer os resultados do estudo.

 

Interação direta

 

Além disso, as pesquisas presenciais permitem uma interação mais direta entre o entrevistador e o entrevistado, evitando a indução, mais facilmente manipulada por telefone. O contato pessoal gera maior confiança e sinceridade por parte do eleitor, resultando em respostas mais precisas e verdadeiras. Por outro lado, nas pesquisas por telefone, como a da Paraná, é comum que as pessoas se sintam menos à vontade para expressar suas opiniões políticas, seja por medo de represálias ou simplesmente por não quererem se envolver em uma conversa desconfortável com uma voz anônima.

 

Outro fator que contribui para a maior efetividade das pesquisas presenciais é a possibilidade de verificar a identidade do entrevistado. Nas pesquisas por telefone, não há como garantir que a pessoa que está respondendo às perguntas é realmente quem ela diz ser. Isso pode levar a distorções nos resultados, uma vez que uma mesma pessoa pode responder várias vezes à mesma pesquisa, contaminando os dados coletados.

 

Espaço demarcado

 

Durante a disputa presidencial de 2022, uma nota divulgada pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa demarcou o campo entre pesquisas, realizadas presencialmente, e enquetes, feitas por telefone e sem valor científico. "Os levantamentos e coletas de opiniões realizados por meio de ligações telefônicas para pesquisas eleitorais [...] não são recomendados para esse fim, pois nem sempre retratam com fidelidade a percepção real da maioria dos eleitores e não possuem valor científico ou precisão em relação a localização e domicílio eleitoral de quem responde a enquete".

 

Assinada pelo presidente da entidade, Duilio Novaes, a nota foi divulgada logo após aparecer no site do TSE o registro da encomenda de um levantamento telefônico de intenções de voto para presidente com 500 entrevistas em todo o País, em setembro de 2022.

 

Mauro Paulino, diretor geral do Datafolha, endossa a posição da Abep. Ele reconhece que pesquisas feitas por telefone são válidas para investigar imagem de produtos de mercado ou opiniões de públicos selecionados, mas "têm muitas limitações" para retratar a disputa eleitoral. Segundo ele, a principal limitação é a impossibilidade de o entrevistador apresentar um cartão de resposta circular com o cardápio de candidatos aos entrevistados. "O cartão circular é um instrumento básico", diz. "Sem isso, não dá para estimular adequadamente".

 

Telemarketing, não

 

Outro problema, diz Paulino, é que a pesquisa telefônica "lembra o telemarketing, que é muito rejeitado pelos brasileiros". A taxa de recusa tende a ser maior, contaminando o resultado final. "Não sabemos, por exemplo, se há um perfil específico de eleitor que recusa mais frequentemente. Se há isso, há influência no resultado", explica.

 

Na mesma linha, o cientista político Sérgio Santos explica que “nas pesquisas por telefone, o entrevistador é obrigado a ler os nomes dos candidatos em cada cenário investigado, podendo a ordem da leitura contaminar o resultado, o que não acontece na pesquisa presencial, onde um cartão circular com os nomes é mostrado ao entrevistado, evitando indução por prevalência”.

 

O risco é potencializado quando há um quadro como o atual, em Belém, com muitos pré-candidatos, exclusão de nomes relevantes e diferentes cenários precisam ser repetidos. Santos diz ter acompanhado esse tipo de enquete e que nele “a tendência de o entrevistado cansar, se aborrecer com o entrevistador, desistir no meio ou escolher qualquer um só para encurtar a conversa é muito maior”.

 

Limitação geográfica

 

Sérgio Santos ressalta que as pesquisas eleitorais presenciais também permitem uma amostragem mais representativa da população: “ao realizar entrevistas em diferentes regiões, é possível captar as particularidades de cada localidade e obter uma visão mais abrangente do eleitorado. Já nas pesquisas por telefone, há uma limitação geográfica, uma vez que apenas as pessoas que possuem telefone móvel e estão disponíveis para responder às perguntas são incluídas na amostra”.

 

A interação direta entre entrevistador e entrevistado, o cartão circular que garante igualdade entre os nomes colocados diante da vista do entrevistado, a possibilidade de verificar a identidade do respondente e a representatividade da amostra são aspectos que garantem a confiabilidade e precisão dos resultados de uma pesquisa, “e nenhum desses fatores se sustenta nessa enquete telefônica apresentada pelos filiados do PL paraense como se fosse uma pesquisa eleitoral a ser levada a sério”, finaliza Santos, para quem o cenário abrangente da pesquisa do Instituto Mentor é o mais representativo da fragmentação que deve acontecer nas eleições de 2024.

 

Estudo prejudicado

 

Feita de maneira presencial e com uma amostragem de 1.100 entrevistas em todos os distritos de Belém, a pesquisa do Instituto Mentor mostra o seguinte cenário: Edmilson Rodrigues 14.00%, Úrsula Vidal 9.91%, Éder Mauro 9,36%; José Priante 7.09%; Everaldo Eguchi 6,73%; Zeca Pirão 6,45%; Igor Normando 4,73%; Thiago Araújo 4,27%; Cássio Andrade 4,00%; Bob Fllay 4,00%; Adriano Coelho 1,55%; e Alessandra Haber 0,82%.


Santos explica que para comparar efetivamente pesquisas de institutos diferentes, seria necessário que todas elas incluíssem os mesmos nomes em sua grade. “A omissão de qualquer um deles impede que seja aferida a comparação, especialmente quando confrontamos uma pesquisa presencial, com base científica comprovada, a uma simples enquete telefônica”, finaliza.

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