Economia

Inteligência Artificial deve impactar 31,3 milhões de empregos no Brasil e afetar 13 profissões

Estudo da OIT aponta mudanças que tecnologias como ChatGPT trarão ao mercado de trabalho em todo o mundo

08/06/2025, 00:44 /

Inteligência Artificial deve impactar 31,3 milhões de empregos no Brasil e afetar 13 profissões

São Paulo, SP - A inteligência artificial generativa (GenAI, na sigla em inglês) deve impactar 31,3 milhões de empregos no Brasil e afetar ao menos 13 áreas profissionais, que representam 5,538 milhões de trabalhadores, segundo análise da consultoria LCA 4intelligence feita com base em estudo da OIT (Organização Internacional do Trabalho).


De acordo com o levantamento, 5,4% dos trabalhadores brasileiros estão hoje em ocupações com alto nível de exposição a esse tipo de tecnologia, como o ChatGPT, e podem ter suas funções quase que totalmente automatizadas, impactando o número de contratações. O percentual representa um aumento de 4,3% em comparação a estudo de 2012.


A lista inclui profissões como analista financeiro, agente e corretor de Bolsas de valores, desenvolvedor de páginas na internet, vendedor por telefone, entre outras.


O grau de impacto na função é medido pelo nível de exposição. Quanto maior esse nível, chegando ao 4, mais a profissão deverá ser impactada pela inteligência artificial.


Os dados da OIT adaptados para o mercado de trabalho do Brasil pela LCA apontam que a proporção de trabalhadores brasileiros com algum tipo de exposição à IA subiu de 26,8%, em 2012, para 30,5%, em 2025.


A análise da LCA mostra, no entanto, que embora essas profissões sejam altamente impactadas, ainda haverá a necessidade de intervenção humana, fazendo com que haja uma transformação dos empregos e não uma extinção das funções, como ocorreu em outros momentos de transformação do mercado de trabalho.


Segundo Bruno Imaizumi, autor do estudo da LCA, o que ocorrerá é uma "reestruturação de tarefas dentro das ocupações, com a IA assumindo partes rotineiras, liberando tempo para atividades mais complexas e criativas". Ele vê a possibilidade de ganhos de produtividade para esses trabalhadores.


Luís Guedes, professor da FIA Business School, afirma que o conceito de "impacto" sobre as profissões é amplo e requer análise cuidadosa. "Se no início do século 20 alguém perguntasse quem seria afetado pela eletricidade, a resposta provavelmente seria 'todos'", diz.


Para Guedes, a IA deve transformar quase todas as ocupações, mas isso não implica, necessariamente, na extinção de funções.


Veja as 13 profissões mais impactadas pela IA Generativa

  1. Escriturários gerais
  2. Analistas financeiros
  3. Desenvolvedores de páginas de internet (web) e multimídia
  4. Agentes e corretores de Bolsa, câmbio e outros serviços financeiros
  5. Agentes de empréstimos e financiamento
  6. Operadores de máquinas de processamento de texto e mecanógrafos
  7. Operadores de entrada de dados
  8. Trabalhadores de contabilidade e cálculo de custos
  9. Trabalhadores de serviços estatísticos, financeiros e de seguros
  10. Trabalhadores encarregados de folha de pagamento
  11. Trabalhadores do serviço de pessoal
  12. Trabalhadores de apoio administrativo em geral
  13. Vendedores por telefone


Segundo professor, o processo de transição pode ser mais duro para trabalhadores mais vulneráveis, que têm menos escolaridade, fazendo com que requalificação e apoio a pequenas e microempresas sejam encarados como políticas de Estado.


Essa é a mesma linha defendida pelo prêmio Nobel de Economia James A. Robinson durante conferência sobre mercado de trabalho realizada na Arábia Saudita para debater os impactos da IA nos empregos especialmente no Sul global —onde ficam as nações consideradas menos prósperas.


Para ele, governos devem desenvolver políticas públicas que aumentem a produtividade frente à alterações no mercado de trabalho com a IA e a crise climática. Os jovens são os mais impactados pelas mudanças. Relatório apresentado na conferência mostra que, nos países do Sul global, 6 em cada 10 jovens entre 15 e 24 anos estão na informalidade, em média.


Nas nações mais pobres, são 8 a cada 10. Em 2023, havia 1,1 bilhão de jovens nesta faixa etária e a projeção para 2033 é que o Sul global abrigue 1,2 bilhão de jovens, dos quais somente 420 milhões terão empregos, a maioria precários.


No relatório da OIT adaptado pela LCA para o Brasil, os jovens de 14 a 17 anos ocupam o terceiro grupo mais vulnerável a ser atingido pela IA generativa. Ao menos 12,8% dos trabalhadores nesta faixa etária estão no gradiente 4, refletindo a maior presença de jovens em funções administrativas e operacionais.


A pesquisa da LCA aponta que embora países como o Brasil sejam impactados pela GenAI, as mais afetadas serão nações com alta renda, que concentram trabalhadores mais qualificados.


"A maior exposição dos países de renda elevada à IA generativa está relacionada a uma combinação de fatores: maior digitalização, infraestrutura tecnológica, qualificação dos trabalhadores, urbanização, presença de setores intensivos em informação e tecnologia", afirma Imaizumi.


Guedes diz que o avanço da tecnologia não deve ser encarado apenas como uma ameaça, pois é esperado que surjam novos cargos diretamente ligados à inteligência artificial. Além disso, a reestruturação do mercado deve abrir espaço para novas especializações e perfis profissionais.


As mulheres são outro grupo afetado. Segundo a consultoria LCA, no Brasil, 7,8% das mulheres estão em profissões no gradiente 4, proporção que é mais do que o dobro da masculina (3,6%).


Isso se explica pelo fato de que há concentração de mulheres em ocupações administrativas, em escritórios e no atendimento ao cliente. O mesmo impacto está estimado para quem tem ensino superior incompleto ou apenas o ensino médio. Esse público representa 13,9% dos que serão afetados.


A IA generativa afeta ainda quem tem carteira assinada. Ao menos 13,2% desses profissionais no Brasil se encontram no cenário de maior exposição. O setor público, especialmente órgãos e secretarias, também deve ter alto impacto, pois possui alta concentração de funções administrativas e de processamento de informações.


O estudo mostra ainda que à medida que a idade avança, o percentual de trabalhadores em ocupações pouco expostas à GenAI cresce. Quase 60% dos trabalhadores com 50 anos ou mais não devem ser afetados pela automação, padrão que se explica pelo fato de os mais experientes ocuparem cargos menos rotineiros.


Para adaptar o estudo da OIT à realidade brasileira, a LCA 4intelligence utilizou microdados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).


Foram consideradas 435 ocupações presentes no Brasil, classificadas de acordo com o nível de exposição definido pela OIT, e analisada a probabilidade de influência da IA dentro de cada ocupação.


Foto: Divulgação
(Com a Folha)