o último sábado, 10, uma notícia encheu de pesar os meios de comunicação do Pará e do Brasil: a liderança e ativista indígena Tuíra Kayapó Mẽbêngôkre, mais conhecida como Tuíra, havia falecido, aos 57 anos, vítima de câncer de útero. A informação foi confirmada pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Kaiapó do Pará, no município de Redenção, região sul do Estado.
Protesto com facão
Tuíra
ficou conhecida quando, aos 19 anos, em 1989, durante o I Encontro da Nações
Indígenas, em Altamira, sudoeste do Estado, com a presença do cantor inglês
Sting, centenas de lideranças dos povos ancestrais e muitas autoridades
nacionais, enfrentou e afrontou com um terçado o então presidente da
Eletronorte, José Antônio Muniz.
A
indígena pressionou o terçado algumas vezes no rosto de Muniz, falando frases
na língua-mãe dos Kayapós, em um protesto contra a construção da hidrelétrica
no rio Xingu, que viria a ser a hoje conhecida como usina de Belo Monte.
O
protesto de Tuíra foi imortalizado pelas lentes do fotógrafo paraense - já
falecido - Paulo Jares, e ganhou o mundo, sendo uma das mais conhecidas fotografias
sobre a luta dos indígenas por seus direitos. Na foto, ao lado de Muniz, estão
o cacique xavante Mário Juruna, deputado federal, anos depois, e grande amigo
do cantor Sting; e Domingos Juvenil, deputado federal pelo PMDB, na época.
Repercussão do projeto
A
atitude corajosa de Tuíra em defesa dos povos da floresta teve uma imensa
repercussão e o projeto foi parar nas gavetas da Eletronorte por quase 20 anos,
até que o governo federal decidiu construir a usina, que se chamaria Kararaô -
considerado uma afronta para os indígenas nativos -, com o novo nome de Belo
Monte.
Na
ocasião, o bispo de Altamira, Dom Erwin Krautler, alguns cientistas e
defensores do meio-ambiente foram contrários, elencando o custo social e
ambiental que a obra acarretaria. Outra voz contra a construção foi a do
cacique Raoni.
A
oposição levou a sucessivas reduções do escopo do projeto, que originalmente
previa outras barragens rio Xingu acima e uma área alagada total bem maior. Em
2008, o Conselho Nacional de Política Energética decidiu que Belo Monte seria a
única usina hidrelétrica na região.
A
dependência do Brasil em energia elétrica falou mais alto e os apelos foram em
vão. Depois de algumas mudanças no projeto, o ano de 2010 foi decisivo para a
usina hidrelétrica, com a licença foi publicada em 1º de fevereiro, o leilão
realizado em 20 de abril - sendo vencedor o Consórcio Norte Energia S.A - e em
26 de agosto foi assinado o contrato de concessão. Em fevereiro de 2016, a
usina de Belo Monte colocou em operação a primeira turbina, ainda em testes,
mas em abril começou a operar normalmente.
Rastro e confusão
A
construção da usina de Belo Monte trouxe e continua a trazer grandes impactos
aos municípios sob sua influência. No pico da construção, podiam ser
contabilizados até 30 mil trabalhadores na construção e esse impacto do aumento
da população é sentido até hoje em Altamira e Vitória do Xingu, que cresceram
desordenadamente, mais ainda. Outro ponto é que Pará não se beneficia da
energia gerada por Belo Monte e continua a pagar uma das tarifas mais caras no
País.
Outros problemas
Com
aumento da população flutuante, que mais tarde, em sua maioria, se tornaria
oficial, em fevereiro de 2013 foi descoberto em Altamira um esquema de tráfico
de mulheres, incluindo menores de idade, mantidas em cárcere privado em uma
boate localizada perto a um dos canteiros de obras da usina.
O
tráfico de drogas também aumentou na região. Entre 2011 e 2012, a polícia
apreendeu uma quantidade doze vezes maior de cocaína e nove vezes maior
de crack na cidade de Altamira. Nos anos de 2011 e 2012, a
população aumentou em 46 mil habitantes, dos quais 16 mil eram contratados e
outros quatro mil subcontratados do Consórcio Belo Monte. Em julho de 2019, um
confronto entre facções provocou a morte de 62 detentos no Presídio de
Altamira.
A última aparição
Em
2023, Tuíra passou por quimioterapia e braquiterapia e ficou aguardando
cirurgia. Devido à sua condição de saúde debilitada, ela estava vivendo longe
de sua aldeia, em Redenção. Foi criada uma ‘vaquinha virtual’ convidando as
pessoas a doarem valores para o tratamento de Tuíra. A indígena não resistiu,
mas permanece viva nas fotos emblemáticas que foram para muitos museus e
compêndios ambientais, até a notícia de seu falecimento, na Aldeia Gorociré,
Terra Indígena Kayapó, onde morava, cerca de 60 km da cidade Cumaru do Norte,
no sudeste do Pará.
Antes
de morrer, Tuíra apareceu em Brasília, ano passado, em luta com seu povo contra
o Marco Temporal.
Papo Reto
· Perguntar não ofende: largaram a mão do todo poderoso
ministro Alexandre de Moraes (foto)? As denúncias dos jornais de
ontem sugerem...
· Terá o ministro virado patsy - personagem
que, nos serviços de inteligência, é a pessoa escolhida para arcar com as
consequências em caso de necessidade de ocultar as digitais dos verdadeiros
culpados?
· O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, virou a cara para
o lado e marcou presença na solenidade de passagem de Comando do CMN, na sede
do Batalhão "Pedro Teixeira", o 2⁰ BIS.
· O prefeito é avesso ao meio, como se sabe. Já o governador
Helder Barbalho, que era esperado, não compareceu. Foi
representado pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Chicão Melo.
· O sistema de computação do Banpará entrou em colapso
novamente ontem em todo Estado. Nem na boca do caixa os clientes conseguem
sacar dinheiro. O banco não confirma se ocorreu invasão do sistema.
· Em Marabá, população volta a conviver com fumaça de
queimadas. Ninguém toma providências, e é grande o número de pessoas com a
saúde prejudicada.
· Não foi por falta de aviso que parte da Escola Alfredo
Chaves desabou, em Icoaraci - e tomara não acontece o mesmo com
muitas outras.
· O corpo de Bombeiros visitou a escola, segunda-feira,
interditou todo o prédio e suspendeu o funcionamento. A Semec ficou de alugar
outro espaço para abrigar a comunidade escolar.
· Relatório do Sintepp Belém aponta que 35% das escolas da
rede municipal foram reformadas ou passaram por reparos, mas é pouco.
· Também estão ameaçadas as Escolas Avertano Rocha, em
Icoaraci; Maria Amoras, no Bengui; João Nelson Ribeiro, no Telégrafo; Inês
Maroja, no Barreiro; Parque Amazônia, na Terra Firme; João Carlos Batista, na
Cabanagem; e Ernestina Rodrigues, em São Braz.