Coluna

Morre índia Tuíra, 57 anos, que se notabilizou por enfrentar Eletronorte contra hidrelétricas

Então com 19 anos de idade, ativista kayapó virou um dos personagens mais emblemáticos da luta dos povos indígenas no Pará; sua imagem no episódio corre o mundo até hoje.

14/08/2024, 09:29 /

Morre índia Tuíra, 57 anos, que se notabilizou por enfrentar Eletronorte contra hidrelétricas


o último sábado, 10, uma notícia encheu de pesar os meios de comunicação do Pará e do Brasil: a liderança e ativista indígena Tuíra Kayapó Mẽbêngôkre, mais conhecida como Tuíra, havia falecido, aos 57 anos, vítima de câncer de útero. A informação foi confirmada pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Kaiapó do Pará, no município de Redenção, região sul do Estado.


Altamira, 1989: Tuíra ameaça o então presidente da Eletronorte José Antônio Muniz com um facão em punho/ Fotos: Arquivo-Paulo Jares-João Ramid/Luto.

Protesto com facão

 

Tuíra ficou conhecida quando, aos 19 anos, em 1989, durante o I Encontro da Nações Indígenas, em Altamira, sudoeste do Estado, com a presença do cantor inglês Sting, centenas de lideranças dos povos ancestrais e muitas autoridades nacionais, enfrentou e afrontou com um terçado o então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz.

 

A indígena pressionou o terçado algumas vezes no rosto de Muniz, falando frases na língua-mãe dos Kayapós, em um protesto contra a construção da hidrelétrica no rio Xingu, que viria a ser a hoje conhecida como usina de Belo Monte.

 

O protesto de Tuíra foi imortalizado pelas lentes do fotógrafo paraense - já falecido - Paulo Jares, e ganhou o mundo, sendo uma das mais conhecidas fotografias sobre a luta dos indígenas por seus direitos. Na foto, ao lado de Muniz, estão o cacique xavante Mário Juruna, deputado federal, anos depois, e grande amigo do cantor Sting; e Domingos Juvenil, deputado federal pelo PMDB, na época.

 

Repercussão do projeto

 

A atitude corajosa de Tuíra em defesa dos povos da floresta teve uma imensa repercussão e o projeto foi parar nas gavetas da Eletronorte por quase 20 anos, até que o governo federal decidiu construir a usina, que se chamaria Kararaô - considerado uma afronta para os indígenas nativos -, com o novo nome de Belo Monte.

 

Na ocasião, o bispo de Altamira, Dom Erwin Krautler, alguns cientistas e defensores do meio-ambiente foram contrários, elencando o custo social e ambiental que a obra acarretaria. Outra voz contra a construção foi a do cacique Raoni.

 

A oposição levou a sucessivas reduções do escopo do projeto, que originalmente previa outras barragens rio Xingu acima e uma área alagada total bem maior. Em 2008, o Conselho Nacional de Política Energética decidiu que Belo Monte seria a única usina hidrelétrica na região.

 

A dependência do Brasil em energia elétrica falou mais alto e os apelos foram em vão. Depois de algumas mudanças no projeto, o ano de 2010 foi decisivo para a usina hidrelétrica, com a licença foi publicada em 1º de fevereiro, o leilão realizado em 20 de abril - sendo vencedor o Consórcio Norte Energia S.A - e em 26 de agosto foi assinado o contrato de concessão. Em fevereiro de 2016, a usina de Belo Monte colocou em operação a primeira turbina, ainda em testes, mas em abril começou a operar normalmente.

 

Rastro e confusão

 

A construção da usina de Belo Monte trouxe e continua a trazer grandes impactos aos municípios sob sua influência. No pico da construção, podiam ser contabilizados até 30 mil trabalhadores na construção e esse impacto do aumento da população é sentido até hoje em Altamira e Vitória do Xingu, que cresceram desordenadamente, mais ainda. Outro ponto é que Pará não se beneficia da energia gerada por Belo Monte e continua a pagar uma das tarifas mais caras no País.

 

Outros problemas

 

Com aumento da população flutuante, que mais tarde, em sua maioria, se tornaria oficial, em fevereiro de 2013 foi descoberto em Altamira um esquema de tráfico de mulheres, incluindo menores de idade, mantidas em cárcere privado em uma boate localizada perto a um dos canteiros de obras da usina.

 

O tráfico de drogas também aumentou na região. Entre 2011 e 2012, a polícia apreendeu uma quantidade doze vezes maior de cocaína e nove vezes maior de crack na cidade de Altamira. Nos anos de 2011 e 2012, a população aumentou em 46 mil habitantes, dos quais 16 mil eram contratados e outros quatro mil subcontratados do Consórcio Belo Monte. Em julho de 2019, um confronto entre facções provocou a morte de 62 detentos no Presídio de Altamira.

 

A última aparição

 

Em 2023, Tuíra passou por quimioterapia e braquiterapia e ficou aguardando cirurgia. Devido à sua condição de saúde debilitada, ela estava vivendo longe de sua aldeia, em Redenção. Foi criada uma ‘vaquinha virtual’ convidando as pessoas a doarem valores para o tratamento de Tuíra. A indígena não resistiu, mas permanece viva nas fotos emblemáticas que foram para muitos museus e compêndios ambientais, até a notícia de seu falecimento, na Aldeia Gorociré, Terra Indígena Kayapó, onde morava, cerca de 60 km da cidade Cumaru do Norte, no sudeste do Pará.

 

Antes de morrer, Tuíra apareceu em Brasília, ano passado, em luta com seu povo contra o Marco Temporal.

 

Papo Reto

 

·  Perguntar não ofende: largaram a mão do todo poderoso ministro Alexandre de Moraes (foto)? As denúncias dos jornais de ontem sugerem...

 

· Terá o ministro virado patsy - personagem que, nos serviços de inteligência, é a pessoa escolhida para arcar com as consequências em caso de necessidade de ocultar as digitais dos verdadeiros culpados?

 

· O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, virou a cara para o lado e marcou presença na solenidade de passagem de Comando do CMN, na sede do Batalhão "Pedro Teixeira", o 2⁰ BIS.

 

· O prefeito é avesso ao meio, como se sabe. Já o governador Helder Barbalho, que era esperado, não compareceu. Foi representado pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Chicão Melo.

 

· O sistema de computação do Banpará entrou em colapso novamente ontem em todo Estado. Nem na boca do caixa os clientes conseguem sacar dinheiro. O banco não confirma se ocorreu invasão do sistema.

 

· Em Marabá, população volta a conviver com fumaça de queimadas. Ninguém toma providências, e é grande o número de pessoas com a saúde prejudicada.

 

· Não foi por falta de aviso que parte da Escola Alfredo Chaves desabou, em Icoaraci - e tomara não acontece o mesmo com muitas outras.

 

· O corpo de Bombeiros visitou a escola, segunda-feira, interditou todo o prédio e suspendeu o funcionamento. A Semec ficou de alugar outro espaço para abrigar a comunidade escolar.

 

· Relatório do Sintepp Belém aponta que 35% das escolas da rede municipal foram reformadas ou passaram por reparos, mas é pouco.


· Também estão ameaçadas as Escolas Avertano Rocha, em Icoaraci; Maria Amoras, no Bengui; João Nelson Ribeiro, no Telégrafo; Inês Maroja, no Barreiro; Parque Amazônia, na Terra Firme; João Carlos Batista, na Cabanagem; e Ernestina Rodrigues, em São Braz.

Morre índia Tuíra, 57 anos, que se notabilizou por enfrentar Eletronorte contra hidrelétricas