Tribunal de Justiça do Estado se rendeu ao jovem Alex Centeno na primeira rodada da escolha para o cargo de desembargador, vaga aberta havia dois anos com a aposentadoria do advogado Milton Nobre. O período entre a vacância e a nomeação teria atendido à necessidade de Alex Centeno atingir a ‘maioridade’ exigida para ocupar o cargo. Apenas quatro ou cinco desembargadores ousaram ignorar o nome do advogado como cabeça da lista tríplice, para a qual recebeu 18 votos. Esse era o desfecho esperado, afinal.
O presidente da OAB Pará, Eduardo Imbiriba, instituição considerada dona da vaga, nem passou perto do TJ, ontem, durante a escolha de Centeno, nomeado apenas horas depois pelo governador do Estado, Helder Barbalho, primo dele, subtraindo dos observadores até o direito a especulações. Teria sido a nomeação mais rápida da história, se antecipando inclusive à publicação no Diário Oficial do Estado. O governador não tem tempo a perder, nem explicar nada a quem quer que seja e a caravana segue, colossal e impávida.
Papai Noel existe
Na vã filosofia de alguns advogados,
José Ronaldo Campos era o cotado para entrar na lista, desde que seu nome saiu
na lista sêxtupla da OAB em primeiro lugar pelo critério de idade. Ele, Alex
Centeno e José Índio tiveram o mesmo número de votos, 40, seguidos de Kátia
Tolentino.
A ideia do grupo era aguardar que
Alex Centeno fosse o terceiro na lista do TJ e, sendo nomeado assim mesmo ao
cargo, o governador abriria brecha para uma ação na Justiça alegando prática de
nepotismo. A pantomima se espatifou no Tribunal, mas teve o condão de despertar
aquele mesmo grupo de advogados para a necessidade de criar uma espécie de
terceira via capaz de disputar a direção da OAB, ano que vem. Imbiriba, afinal,
é tido como o maior avalista da escolha de Alex Centeno ao desembargo, rasgando
a vã filosofia da Ordem.
Depois da caravana
Não à toa, veja o que circulou
em grupos de advogados logo após a escolha de Alex Centeno ao cargo de
desembargador.
“A vaga do quinto constitucional é um
mecanismo presente na Constituição brasileira que reserva uma parcela das vagas
em tribunais, como os tribunais de justiça estaduais e regionais federais, para
ser preenchida por advogados e membros do Ministério Público. Isso é feito com
o objetivo de garantir a participação dessas categorias profissionais na
composição dos tribunais, contribuindo para a diversificação e aperfeiçoamento
do Poder Judiciário. Portanto, essas vagas são destinadas a representar os
interesses e perspectivas dos advogados no sistema judiciário.
Fica a pergunta: quem Alex Centeno
irá representar, a classe ou o governador?”
Sobrou para Imbiriba
E mais: “O presidente da Ordem dos
Advogados, Eduardo Imbiriba, presenteou o primo do governador com a vaga
para o desembargo do quinto constitucional que estava desocupada desde novembro
de 2021 em função da aposentadoria do desembargador Milton Nobre, tendo o
presidente da OAB aguardado o ano de 2022 é só iniciado o processo seletivo em
abril de 2023, mais de um ano após a aposentadoria, já tendo a vaga destino
certo.
A idade mínima exigida para concorrer
à vaga é de 35 anos. Assim, o presidente da OAB esperou Alex Centeno completar
a idade constitucionalmente exigida, bem como aguardou também a reeleição
do governador do Estado.
Alex Centeno deverá assumir uma vaga
em uma das turmas cíveis, onde há assuntos polêmicos a serem discutidos, como
por exemplo o que envolve os respiradores.
Jogo de cena
Na sessão do TJ onde foi realizado o
escrutínio, o desembargador Luís Neto pediu a palavra e se manifestou
explicando que estaria votando de acordo com a lista que a Ordem dos Advogados
enviou para o Tribunal de Justiça, porém, o primeiro voto foi dele, para o
candidato do governador, assim como vários outros desembargadores, sem se
preocupar com a idade ou a experiência do advogado.
O Tribunal de Justiça, ao contrário
do que tentou justificar o desembargador Luiz Neto, não seguiu a escolha da
OAB, que na lista sêxtupla elegeu José Ronaldo Campos com 40 votos em primeiro
lugar na lista em função da idade de 70 anos; em segundo lugar João Índio, 40
votos, e em terceiro Alex Centeno também com 40 votos, sendo que, por conta da
idade, ficou em terceiro lugar.
Pela primeira vez o Tribunal de
Justiça do Pará escolhe uma lista tríplice onde o candidato mais votado tem
menos de 40 anos, inédito na história. Será que o Tribunal está mudando sua
concepção ou assim o fez apenas para atender os interesses pessoais do
governador?
Uma coisa é certa: OAB, oposição,
tribunal, advogados, todos calamos, alguns, por interesses pessoais; muitos
calados pela impotência e a maioria, atônita, pois a OAB, que seria a última
bandeira da resistência e da democracia não resistiu ao jogo e à conjuntura
político-partidária”.
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