m obras há cinco anos e sem prazo definido para conclusão de ponta a ponta - Belém-Marituba -, o BRT Metropolitano perdeu a primazia das reclamações da população - pelo cansaço - para as obras da chamada avenida Liberdade, um projeto considerado “arrojado” pelo governo, e “temerário” para os defensores do meio ambiente e das comunidades tradicionais.
O projeto prevê avançar sobre áreas
de proteção ambiental, com a supressão de quase 70 hectares de floresta, e
efeitos colaterais sobre os Lagos Bolonha e Água Preta e no território
Quilombola do Abacatal, em Ananindeua, sem falar em áreas ocupadas por
comunidades ribeirinhas no curso do traçado. A essa miscelânia soma-se
ainda, em se tratando de mobilidade urbana, a duplicação da rua da Marinha, na
Marambaia, outra área de proteção ambiental - um parque ecológico municipal.
Agora, o chamado Coletivo Indígena
Tupinambá Renda Wa Murucutu e a rádio Ribeirinha Murukutu, emissora do
Instituto Idade Mídia Comunicação para Cidadania, que integram o Fórum
Socioambiental de Belém, denunciam a “destruição contraditória de áreas
verdes” para a construção das avenidas com vistas à COP 30, em
2025, em Belém. O Coletivo afirma que vias expressas
estão, literalmente e sem trocadilhos, na contramão aos objetivos da
conferência da ONU.
Áreas protegidas
O Parque Ecológico Gunnar Vingren
possui 38 hectares de floresta nativa e foi criado por lei municipal
em 1991. Já a Área de Proteção Ambiental da Região Metropolitana de Belém
tem 7,5 mil hectares, foi criada por lei estadual de 1993 e abriga o
Sítio Arqueológico Engenho Murutucu, foi tombado pelo Iphan em
1981, sendo um Território Histórico e Ancestral Murukutu
Tupinambá.
Direto ao ponto
As obras da avenida Liberdade já
atingiram a Área de Proteção Ambiental Metropolitana de Belém. Essa área de
preservação foi criada para proteção dos mananciais de água que abastecem a
população, por meio da Cosanpa, e avançarm sobre a área de cobertura arbórea da
Unidade de Conservação Ambiental Parque Estadual do Utinga
Segundo o Coletivo Tupinambá,
“a obra avança também sobre as comunidades tradicionais
ribeirinhas e quilombolas sem observar seus protocolos de Consulta Prévia
Livre e Informada. Enquanto isso, as promessas de recompensas correm na direção
contrária”, explica.
O Coletivo indaga: “Que
COP 30 é essa, que arranca fauna e flora de sua proteção ambiental para
receber justamente a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas? “
Por sua vez, a obra de ampliação da
rua da Marinha avança sobre a Área Metropolitana de Proteção Ambiental de
Belém e o Parque Ecológico Gunnar Vingren. “Os animais tentam escapar dos
tratores e caminhões da obra, que está sendo executada às pressas. Há duas
semanas, uma preguiça foi vista no asfalto da avenida Júlio
César”, revela o Coletivo.
Reunião restrita
O governo do Estado promoveu
uma reunião na comunidade tradicional ribeirinha “Maria
Petronília”, do Porto Ceasa, localizada no Território Histórico
Murukutu, na quarta-feira, 2 de outubro, no prédio da Igreja
Assembleia de Deus, comandada pelo presidente da Associação de
Moradores, pastor Nonato.
Angelo Madson
Tupinambá, ativista ambiental, líder comunitário, morador
do Kuri'o Ytinga, tem casa e trabalha naquela comunidade. Ele
conta que sofre boicote nessas reuniões, não sendo convidado, “devido às nossas
críticas ao projeto da avenida Liberdade”. Madson também acusa o
pastor Nonato, líder local, em cuja igreja as reuniões do governo do
Estado são feitas, de ser testemunha de acusação de um processo forjado
contra ele na imputação de crime de ameaça, acusação movida
pela presidente do Instituto Cartografando Saberes.
O ativista diz que
o Instituto Cartografando Saberes, parceiro do religioso, é
o mesmo que apresentou um projeto falso à comunidade dizendo se
tratar do “Legado da COP 30”, meses atrás. “Esse projeto, de
fato, nunca foi aprovado em lugar algum e nem era de conhecimento do
Fórum Municipal de Mudanças Climáticas, da Prefeitura de Belém, que
desmentiu qualquer participação no projeto que seria apresentado
à comunidade”, explica.
“Sob ataque”
Madson também afirma que
os Tupinambá, organizados
em contexto urbano, “estão sob ataque, dentro de nosso
próprio território histórico e ancestral”, e pede ajuda às
autoridades competentes. Os Tupinambá estão representados junto
ao Fórum Socioambiental Metropolitano de Belém, na defesa dos
parques ecológicos e áreas
de interesse ambiental, dentro da área da capital
paraense e dele fazem parte entidades como a Rádio Ribeirinha
Murukutu; o Guardiões e Amigos de Parques Ecológicos, o
mandato coletivo da vereadora Silva
Letícia, o Movimento pela Vida Bosque
FelizCidade, os Voluntários Greenpeace Belém, a Associação
Umbandista Mãe Dinair e o Instituto Idade Mídia Comunicação para
Cidadania, que os apoia e participa.
Via expressa
Intitulado de “Eco Rodovia
Liberdade”, a via será uma rodovia expressa de mão dupla, com duas
faixas e acostamento nos dois sentidos, totalizando 14,5km de extensão, com
trecho inicial na avenida Perimetral, em Belém, indo até
a rodovia Alça Viária, em Marituba. E vai rasgar ao
meio a Área de Proteção Ambiental Metropolitana de
Belém, que protege os mananciais Água Preta e Bolonha que
abastecem a cidade e o Parque do Utinga.
O governo do
Pará defende que a rodovia Liberdade tem o único objetivo de diminuir
o número de acidentes e o fluxo de veículos da BR-316, como alternativa de
entrada e saída da Região Metropolitana. No entanto, Madson diz que
“os argumentos não justificam o impacto ambiental e são apenas
subterfúgios do Estado para fragmentar e aniquilar a área de
proteção ambiental”.
Segundo Madson, “o projeto da rodovia
Liberdade viola, desde o seu planejamento, o direito assegurado pelo artigo 6º
da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre Povos Indígenas
e Tribais, que é o de consultar os povos interessados, mediante procedimentos
apropriados e, particularmente, por meio de suas instituições representativas,
cada vez que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas
suscetíveis de afetá-los diretamente”.
Papo Reto
· Mais uma aposta do governo do
Estado para a melhoria da mobilidade urbana: a construção da ponte sobre o rio
Maguari, que prevê ligar a avenida Augusto Montenegro, em Belém, à avenida
Hélio Gueiros, em Ananindeua.
· As obras, iniciadas neste
mês, vão facilitar o deslocamento das pessoas, ampliar as possibilidades de
acessos e dar maior fluidez ao trânsito.
· Outro projeto em curso na
aposta do governador Helder Barbalho (foto) é a nova ponte
Icoaraci-Outeiro, que já ultrapassou 45% de execução.
·A obra prevê benefícios para
o transporte de pessoas e cargas entre os distritos de Outeiro e Icoaraci.
· A relação do governo Lula com
o Congresso Nacional nunca foi tão tóxica desde o início do mandato,
segundo os próprios parlamentares.
· De acordo com pesquisa Painel
do Poder, do Congresso em Foco, hoje, os parlamentares dão ao governo uma nota
média de 2,41 em uma escala de 1 a 5, nesse quesito.
· Esta é a quinta rodada do
Painel do Poder realizada durante o governo Lula 3. A nota é a mais
baixa dentre esses levantamentos.
· O Banco Central informa: o
Pix, que apresentou instabilidade, durante a manhã de segunda-feira, já voltou
ao normal.
· Aliás, o BC está
aperfeiçoando os mecanismos de segurança do Pix e divulga nova data de
lançamento do Pix Automático Objetivo, destinado a combater fraudes e golpes
·Pix superior a R$ 200 só
poderá ser feito por dispositivos previamente cadastrados pelos clientes. As
medidas devem ser implementadas a partir de 1º de novembro pelas instituições
participantes.