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meio à polêmica envolvendo a exploração e abuso de crianças e adolescentes na Ilha do
Marajó, a Escola de Conselhos Tutelares do Estado volta a funcionar depois de
ficar seis anos fechada por falta de recursos. Ontem, 20, na Sudam, com a
presença do ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida,
aconteceu a posse do Conselho Gestor da escola, seguido do lançamento das ações
formativas.
A proposta é formar mil conselheiros tutelares e de
direitos e demais integrantes do Sistema de Garantia de Direitos dos 144
municípios do Estado, em 18 meses. A escola recebeu investimento de R$ 1
milhão. Parte desse recurso será destinado ao Marajó e o restante, a outros
municípios.
A
Escola de Conselhos do Pará é vinculada ao Instituto de Ciências da Educação, da UFPA, em conjunto
com o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente. A cerimônia
de posse foi uma espécie de pacto envolvendo os governos federal, estadual e
municipais; OAB, Ministério Público e sociedade civil pelos direitos
infantojuvenis.
“População invisível”
“É
importante o alinhamento e a união em torno dos problemas que envolvem a
criança e adolescente. A volta da escola de conselhos é fundamental nesse
processo”, afirma Rita Dias, presidente do Conselho Estadual da Criança
e do Adolescente. “As crianças e os adolescentes são a parte mais fraca
na sociedade. E se não tiverem apoio não terão como vencer as mazelas que os
atingem”, declarou o secretário de Assistência Social, Trabalho, Emprego e
Renda, Inocêncio Gasparim.
Márcia Sarmento, representante da sociedade civil do
Marajó, disse que o problema é histórico no arquipélago e que está ligado
também aos demais problemas sociais que atingem as comunidades. A gente se
pergunta: quais são as saídas para uma população sem visibilidade há centenas
de anos? A necessidade da Rede de Proteção à criança e ao adolescente de modo
geral acaba sendo o reflexo da ausência do Estado na região. A estrutura do
Estado atualmente não consegue atender a ilha como um todo, principalmente as
comunidades mais isoladas, como os quilombolas, devido a sua complexidade
territorial e distâncias, afirma Márcia Sarmento.
O superintendente da Sudam, Paulo Rocha, afirmou que é
preciso criar oportunidades de desenvolvimento e combate à pobreza para
combater as questões que envolvem a infância e a adolescência. O diretor da Escola
de Conselhos, Salomão Hage, disse que a escola vai trabalhar com as comunidades
e com os saberes tradicionais com base na pedagogia da alternância. “A
Amazônia não é só rica em biodiversidade, mas também em sociobiodiversidade. Temos
que olhar o social também. Queremos todas as nossas crianças e adolescentes
vivas e com dignidade, protegidas contra o abuso e exploração sexual”, disse.
Bandeira ideológica
“Quando
um conselheiro tutelar é eleito, o seu partido tem a Constituição Federal e o
Estatuto da Criança e do Adolescente como base”, afirmou Jarbas Vasconcelos,
secretário de Igualdade Social e Direitos Humanos. Jarbas aponta que “os
conselhos não podem ser apropriados por igrejas e nem servir de trampolim
político”.
O
ministro dos Direitos
Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida,
também condenou o uso do problema envolvendo as crianças e adolescentes do
Marajó como bandeira ideológica. Silvio Almeida ressaltou a importância
de promover campanhas de comunicação permanentes esclarecendo sobre as
atribuições do conselheiro tutelar.
“A
atuação dos conselheiros tem que ter como base a Constituição Federal e o
Estatuto da Criança e do Adolescente”, disse o ministro.
Polêmica nacional
Irmã
Henriqueta Cavalcante, presidente do Instituto Dom Azcona, que atua no combate
à exploração e ao abuso sexual contra crianças e adolescentes do Marajó, disse
que o problema é antigo, existe e precisa ser combatido. Porém, ela condena a
utilização de uma questão que seria para outros fins que não sejam o trabalho
de combate para solucionar o problema.
“Temos
que tratar desse tema com muito respeito e responsabilidade e com muito
conhecimento do território. Não é assim que a gente fala do Marajó e de suas
crianças”, afirma a irmã Henriqueta Cavalcante ao se referir a polêmica que
repercutiu em todo o País envolvendo o Marajó.
Interesses escusos?
“Não
é alguém que vem me contar uma situação e vou divulgar para o Brasil inteiro e
falar sem conhecimento de causa para que a população olhe para o Marajó com
esse olhar de pena. As crianças do Marajó não precisam de esmola, mas de
políticas públicas, de cuidado e de saúde”. A gente tem que falar do problema
com muita cautela e com muito respeito; não dessa forma irresponsável”,
afirma.
Irmã
Henriqueta disse ainda que quando as pessoas ficam divulgando informações
incorretas, irresponsáveis e sem conhecimento de causa, existe um interesse. “A
gente precisa saber que interesses são esses. A gente não pode permitir que as
pessoas cresçam em cima da miséria e da informação que não é correta”,
finaliza.