O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou na noite desta sexta-feira (1º), em uma postagem nas redes sociais, que segue aberto ao diálogo com os Estados Unidos (EUA), em meio a imposição de tarifas comerciais e sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), e que a prioridade é reduzir os impactos econômicos e sociais das medidas unilaterais adotadas pelos norte-americanos.
"Sempre estivemos abertos ao diálogo. Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições. Neste momento, estamos trabalhando para proteger a nossa economia, as empresas e nossos trabalhadores, e dar as respostas às medidas tarifárias do governo norte-americano", escreveu Lula.
A declaração ocorre horas após o presidente dos EUA Donald Trump afirmar que pode conversar com Lula em qualquer momento que o brasileiro quiser.
Na Casa Branca
Brasília, 01 - O presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, disse ontem, 1º, que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva,
pode falar com ele quando quiser. A declaração foi dada na Casa Branca, em
resposta à jornalista Raquel Krähenbühl, da TV Globo e da GloboNews.
Trump foi questionado diretamente sobre se estava disposto a discutir as
tarifas aplicadas ao País e reafirmou que Lula pode falar com ele, repetindo a
mesma frase: "Ele pode falar comigo quando quiser". Na sequência, ao
ser perguntado sobre o que estaria em pauta para o Brasil, completou:
"Vamos ver o que acontece. Eu amo o povo brasileiro".
Ao ser indagado sobre o fato de as tarifas impostas ao Brasil não parecerem ter
ligação com questões comerciais, Trump afirmou que "as pessoas que
governam o Brasil fizeram a coisa errada".
Em meio às pressões para que Lula entre em contato com o norte-americano e
discuta o tarifaço de 50% imposto aos produtos brasileiros comercializados com
aquele país, integrantes do governo Lula vinham enfatizando que a organização
de uma conversa entre os dois presidentes era complexa e não poderia ocorrer de
"improviso".
Como mostrou o Estadão, Lula cogita ligar para Trump, mas queria antes ter a
certeza de que o americano iria atender a ligação e focar em comércio na
conversa - ou seja, o petista não vai dar margem a negociar assuntos
institucionais e de soberania
Há receio no Palácio do Planalto de que ele seja submetido a algum tipo de
constrangimento político ou humilhação, mesmo por telefone ou videochamada.
Em entrevista ao The New York Times, o mandatário brasileiro afirmou que o País
"não negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande".
O próprio Lula disse que deseja ser tratado com respeito e civilidade.
Ambos têm um histórico de declarações hostis mútuas no passado e jamais
interagiram ou se encontraram pessoalmente. Integrantes do governo dizem que
movimentos exploratórios, que podem ajudar a preparar o terreno para um contato
no mais alto nível estão em curso.
O estreitamento de contatos entre equipes de governo faz parte desse processo.
Na quarta-feira, dia 30, pela primeira vez o ministro Mauro Vieira (Relações
Exteriores) conversou com o secretário de Estado, Marco Rubio, em encontro
discreto em Washington, fora do Departamento de Estado e da embaixada brasileira.
Os contatos mais frequentes têm sido feitos pelo vice-presidente Geraldo
Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. A
equipe dele trabalha com expectativa de novos contatos, em nível técnico e
político.
Na última quarta-feira, 30, o presidente americano assinou a ordem que define a
tarifa adicional de 40% sobre o Brasil (além dos 10% inicialmente aplicados
como tarifa recíproca), apontando especialmente razões políticas em seu
comunicado, com ataques ao governo brasileiro e ao ministro Alexandre de
Moraes, em razão do julgamento de Jair Bolsonaro e da regulação das big techs.
Apesar disso, quase 700 produtos brasileiros foram isentos da tarifa.
Contatos entre os governos Lula e Trump:
- Videoconferência entre Geraldo Alckmin e Howard Lutnick (Secretário de
Comércio) em 6/3
- Reuniões virtuais entre Mauro Vieira e Jamieson Greer (USTR) em 6/3 e 2/4
- Encontro presencial entre Fernando Haddad e Scott Bessent (Secretário do
Tesouro) em 4/5 na Califórnia
- Encontro presencial entre Mauro Vieira e Marco Rubio (Secretário de Estado)
em 30/7 na capital Washington
- Viagem do embaixador Maurico Lyrio e equipe da Secretaria de Assuntos
Econômicos e Financeiros a Washington em março
- Seis reuniões de negociação tarifária entre técnicos e diplomatas de 8/3 a
4/7
Fonte: Agência Brasil/ Estadão conteúdo
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil