A dois meses do fim, BRT Metropolitano é uma incógnita para o povo que acompanha o Círio

Ao preço médio de R$ 43,4 milhões pagos por cada um dos 10,8 quilômetros de extensão, obra atormenta Grande Belém com adiamentos recorrentes e mais, pelo andar da carruagem.

04/11/2024 08:00
A dois meses do fim, BRT Metropolitano é uma incógnita para o povo que acompanha o Círio
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uem entra ou sai de Belém pela BR-316, trecho Entroncamento-Ananindeua, conhece bem os dissabores que é trafegar pela rodovia, graças às intermináveis obras de construção do BRT Metropolitano. Com o início do mês de novembro, inevitável é lembrar que faltam dois meses para o fim do último prazo divulgado pelo governo do Pará para a conclusão da obra, prevista para o final deste ano.


Imagens como a da área do Entroncamento apontam que dificilmente a obra será concluída no prazo - final deste ano; o começo ainda não começou e o fim está longe de acabar/Fotos: Divulgação.
 

De acordo com o Portal da Transparência, até outubro de 2023 já haviam sido gastos R$ 423,7 milhões com o BRT Metropolitano, valor correspondente a 88,6% do orçamento previsto, atualmente de R$ 478,1 milhões, segundo um levantamento da Agência Cenarium.

 

História do sem fim 

 

Já se vão três anos para a conclusão da obra. Única via de entrada e saída de Belém, desde 2019, quem precisa utilizar a BR parece cumprir uma dolorosa penitência. A situação piora quando chuvas intensas e maré alta, aliadas, fazem transbordar o Igarapé do Toro (vídeo abaixo) - ou Igarapé do Aurá para os locais -, que corta a rodovia, causando alagamentos e grandes congestionamentos, em cenas que se repetem continuamente.

  

O projeto BRT Metropolitano, iniciado em 2019, tinha prazo de conclusão de 19 meses, ou um ano e sete meses. A contar do início da obra, a população já deveria estar usufruindo das instalações desde agosto de 2020. Entretanto, ao final de outubro de 2024, as pistas do BRT seguem em obras.

 

Centenas de blocos de concreto, máquinas, homens e equipamentos; escavações, desvios que nascem do dia para a noite sem iluminação, acidentes, trombadas de veículos pesados destruindo estruturas já erguidas, pavimentação inacabada e nem metade das 13 passarelas previstas instaladas até agora. O trânsito é caótico, chova ou faça sol.

  

O projeto do BRT Metropolitano integra um sistema chamado Nova BR, que inclui a implantação de integração do BRT que deverá ligar os municípios de Belém, Ananindeua, Marituba e Benevides, com orçamento, em 2023, de R$ 478 milhões. As obras são coordenadas pelo Núcleo de Gerenciamento de Transporte Metropolitano (NGTM), do governo do Pará.  

 

Em 7 de dezembro de 2018, o então governador do Pará, Simão Jatene, a Agência de Cooperação Internacional (Jica) e a Embaixada do Japão no Brasil assinaram a ordem de serviço das obras, com início previsto para a segunda-feira seguinte, dia 10. Nesse dia, se bem observaram, os japoneses aprenderam que o Brasil não é para amadores. A obra não andou. 



 

Os olhos da cara

 

O arrojado projeto previa uma grande reforma estrutural para a entrada da capital paraense, desde a rede de drenagem até os chamados retoques finos, como paisagismo e moderna rede de iluminação pública em LED, em 10,8 km de extensão. Na ponta do lápis, cada mil metros, ou cada quilômetro do BRT Metropolitano custou, até o momento, R$ 43.454,54.

  

As obras de reconstrução e requalificação previam pistas com três faixas de rolagem nos dois sentidos, pavimento flexível, uma faixa em cada sentido exclusiva para o BRT Metropolitano, duas ciclovias bidirecionais, gramado próximo à ciclovia para arborização, dois passeios para circulação de pedestres com 2,5m de largura, faixa de piso tátil e rampas de acessibilidade, além de mobiliário urbano, com bancos, lixeiras e abrigos em paradas de ônibus convencionais. 

 

O governador de então, no dia da assinatura da ordem de serviço, destacou que acompanhava o início das discussões desse projeto de mobilidade urbana desde a década de 1980, quando ainda era técnico do governo do Estado. Ele ressaltou o papel da parceria com o governo japonês, que defendeu esta intervenção com garra e persistência. A obra começou com orçamento em dia e toda planejada, mas houve várias alterações no projeto inicial 

 

A visagem das águas

 

Sobre a questão dos recorrentes alagamentos, a resposta é que seriam construídos dispositivos de drenagem para coleta e condução dos efluentes, como sarjetas, bocas de lobo, caixas de inspeção e passagem, e tubulação de drenagem profunda, com diâmetros entre 800 mm e 1.500 mm, para lançamentos do sistema de drenagem nas vias secundárias adjacentes à rodovia. Não combinaram isso com o Igarapé do Aurá, um morto que ressurge despertado pelas grandes chuvas e as marés para fazer visagem para toda a Grande Belém.

 

O projeto também previa a construção de quatro túneis de acesso subterrâneo aos terminais e ao viaduto de Ananindeua, que permitiria a ligação direta entre as áreas ao sul da BR, como conjunto Júlia Seffer e Aurá, à Cidade Nova. Para a construção desse sistema complementar, os recursos eram da ordem de R$ 80 milhões, equivalente a 15% do total licitado, também contemplados pelo financiamento da agência japonesa. 

 

Um dia, talvez, quem sabe... 

 

Ainda segundo o planejamento de seis anos atrás, o novo sistema de transporte urbano pretendia reduzir em cerca de 50% o tempo de viagem do destino ao Centro de Belém e vice-versa. O ponto inicial do BRT é o Terminal Marituba, localizado no Km 10,7 da rodovia, próximo à Alça Viária, com integração das linhas alimentadoras que vêm de Marituba.  

 

Em Ananindeua, o projeto previa que o terminal seria no Km 6,5 da rodovia, em frente à sede campestre da Associação Atlética Banco do Brasil. Nesses terminais seriam ofertados serviços à população, como acesso gratuito à internet sem fio e a Estação Cidadania. 

 

“Cenários externos” 

 

Questionada sobre o porquê de tantos atrasos, a direção do NGTM alega que, ano passado, “cenários externos à administração estadual são motivos de tanto atraso, como a crise sanitária da covid 19, mudança de empresa responsável pela obra e metodologia de execução do projeto”.  

 

A obra começou sob a responsabilidade da empresa Odebrecht Engenharia e Construção, que montou acampamento em Belém com a recomendação: de “capacidade técnica reconhecida nacional e internacionalmente em importantes obras de infraestrutura no Brasil e no mundo”. 

 

Rasgando as folhinhas

 

 Entre 2020 e 2021, a Odebrecht recebeu cerca de R$ 153 milhões do governo do Pará, e largou a obra por discordar do governo nos “aspectos da execução do projeto”. No lugar da Odebrecht, assumiu o Consórcio Mobilidade Grande Belém - o segundo colocado na licitação -, que iniciou os serviços em outubro de 2021, quando recebeu R$ 47 milhões.  

 

Em 2022, o consórcio recebeu mais R$ 84 milhões. De janeiro a 30 de setembro de 2023, o Estado fez o maior repasse financeiro desde o início das obras: R$ 141 milhões. O prazo de conclusão estava previsto para agosto de 2020, mas veio a pandemia. Depois, ficou para o primeiro semestre de 2023 e, atualmente, o novo prazo foi definido para o final deste ano - o que não vai, com o perdão do trocadilho, se concretizar.   

 

Em visita às obras do BRT, em 9 de fevereiro de 2022, o governador Helder Barbalho prometeu entregar a obra no primeiro semestre de 2023, o que também não ocorreu. O novo prazo vence em dois meses. E também não vai ser cumprido.

  

A areia e o caminhão 

 

A rede social é pródiga em comentários sobre o BRT, um monstro devorador de dinheiro, de tempo e de paciência que já nasceu obsoleto e nem acabou: “Está devagar, quase parando”. Outro: “Passei hoje cedo por lá e contei nos dedos: tinha uns 15 trabalhadores, dois trabalhando de verdade e os outros no celular, tomando café e batendo papo”.  E outro: “Isso vai se arrastar por anos, é um sofrimento sem fim”.  E por fim: “O pior é o governo falar que essa obra gera empregos, mas, se forem ver, os trabalhadores são todos do Nordeste”. Exageros? 

 

Papo Reto

 

· Vereadora Sílvia Letícia (foto) quer saber da Prefeitura de Belém e da empresa Ciclus quais são as medidas para conter enchentes durante o inverno. A Ciclus é responsável pela coleta de resíduos sólidos na cidade.

 

· A parlamentar do Psol também quer uma cópia da multa de R$ 500 mil aplicada à empresa pela prefeitura e informações sobre quando será realizado o referido pagamento, que, segundo ela, deverá ser aplicado pelo Executivo para equipar com maquinários as cooperativas de catadores de resíduos sólidos.

 

· A multa aplicada pela prefeitura à empresa ocorreu devido à coleta irregular de lixo na cidade no final de semana de 26 e 27 de outubro.

 

· Quem foi homenagear entes queridos no Parque da Eternidade, em Marituba, no Dia de Finados, estranhou o ar de abandono que, lamentavelmente, tomou conta daquele cemitério.

 

· Em Icoaraci, nos cemitérios Santa Izabel e do Tapanã a coisa foi mais complicada: os visitantes precisaram se virar nos trinta para abrir trilhas e poder chegar às sepulturas dos entes queridos.

 

· Sem falar no fogaréu que consumia as matas circundantes e até dentro do cemitério, no caso do Tapanã, onde o serviço público só dá as caras uma vez por ano.

 

· Ontem, mais de 4 mil pessoas se submeteram às provas do Enem em 1.753 municípios brasileiros, com passe livre em 17 capitais, mas não em Belém, que diz ter ampliado o número de linhas e horário de funcionamento dos ônibus.


· Em São Paulo, as escolas públicas terão carga extra de português, matemática e educação financeira na grade escolar-2025.

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