Alimentos e a alta de preços no Brasil: quem é o grande vilão do pedaço?

O governo, que tem claudicado na melhoria de estradas, portos e sistemas de armazenamento, não tem contribuído para reduzir custos logísticos e evitar desperdícios.

José Croelhas | Especial para o POD

16/03/2025, 11:00
Alimentos e a alta de preços no Brasil: quem é o grande vilão do pedaço?

Uma coisa ninguém pode negar: qualquer produção agrícola, por menor que seja, implica custos, naturalmente impactados pela elevação dos preços de insumos tipo fertilizantes, combustíveis, sementes.


A responsabilidade do governo federal pela disparada dos preços dos alimentos não só é cristalina, mas está atrelada a fundamentos econômicos, agrícolas, infraestruturais e sociais.


É inquestionável que episódios climáticos e outros eventos extremos também impactam na agricultura no planeta. O aumento da demanda global por alimentos, igualmente, também tem fustigado os preços internacionais, comprometendo toda cadeia até a ponta.


Registre-se, porém, que no âmbito logístico e infraestrutural, estradas precárias e a falta de investimentos em cadeias de frio - responsabilidade dos governos - também oneram significativamente o preço final da comida, tão ou mais fortemente que a especulação financeira, alimentada na volatilidade nos mercados futuros de commodities.


Ademais, a desvalorização cambial e as pressões inflacionárias complementam o "mix da desgraça”. Ou seja, o conjunto de causas que, unidas, agravam a disparada do preço dos alimentos no Brasil.


Desta maneira, não há como não considerar tremenda a responsabilidade do governo federal neste processo, a começar por não garantir a estabilidade da produção, através de planejamento e promoção de medidas estimuladoras aos produtores rurais. Refiro-me, obviamente, aos subsídios, crédito rural e seguro agrícola, recente e injustificadamente travados na burocracia palaciana sob as justificativas mais nebulosas.


Aliás, o que se observa é um descontentamento unânime daqueles que produzem, em razão do desmantelamento de políticas públicas historicamente consagradas de estímulo ao produtor. Ao não utilizar as políticas monetárias e fiscal para o conter o ímpeto inflacionário, que impacta e enlouquece os preços dos insumos, o governo põe sua digital no aquecimento do preço dos alimentos.


Além e pior que isso, o governo, que tem claudicado na melhoria de estradas, portos e sistemas de armazenamento, não tem contribuído para reduzir custos logísticos e evitar desperdícios, nem combater práticas abusivas, como cartéis ou especulação, que também ajudam a distorcer preços.


E o que dizer do incentivo à agricultura familiar e da diversificação de culturas como forma de aumentar a oferta de alimentos e reduzir a dependência de importações? O governo federal tem acenado com muita pirotecnia e raras ações concretas.


Há, portanto, um longo caminho a ser percorrido até que consigamos ajustar as engrenagens internas, reduzir a dependência dos fertilizantes importados e buscar alternativas locais ou acordos comerciais vantajosos capazes de alterar o andamento das leis naturais.


Por questões ideológicas ou políticas - não vem ao caso -, não é inteligente o governo interromper o ímpeto agrodesenvolvimentista que colocou o Brasil no topo mundial da produção de alimentos. Precisa é estimular a inovação e técnicas agrícolas sustentáveis para que o aumento da produtividade possa favorecer a todos.


Embora o governo federal não tenha controle de todos os fatores que influenciam os preços dos alimentos, o papel dele é crucial na adoção de políticas que possam mitigar os impactos desses aumentos, garantindo o abastecimento e a segurança alimentar da população.


A combinação de medidas de curto prazo, como subsídios emergenciais; e de longo prazo, como investimentos em infraestrutura e tecnologia, é essencial para enfrentar esse desafio.


Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


__________________________________

*José Croelhas é economista, consultor, escritor e palestrante.




Mais matérias Opnião