A Coluna Ver Amazônia segue com a segunda reportagem da série sobre o calor extremo no planeta, não apenas para alertar, muito menos para alarmar, mas para contribuir e mostrar alguns possíveis caminhos para mitigar a crise climática e adaptar a vida aos novos tempos de mudança do clima.
Depois de a ONU alertar que vivemos uma epidemia de calor extremo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) chamou atenção para as consequências do aquecimento global. Segundo a OMS, o stress térmico é a principal causa de morte pelo calor, uma vez que agrava condições crônicas como doenças cardiovasculares, respiratórias e diabetes. Temperaturas acima de 40°C e até 50°C são cada vez mais frequentes e mortes por calor chegam a quase meio milhão por ano.
Sertão Nordestino. Uma expedição pela região central do Rio Grande do Norte retrata os riscos desse calor para a vida no planeta. O trabalhador tenta se proteger e a camisa no rosto mantém o mínimo de condições para seguir com o trabalho.
O mundo esquenta e as temperaturas chegam aos extremos; a vida segue. Muitos acreditam, outros negam. A maioria não percebe. Enquanto isso, a ciência e os organismos internacionais ligam os megafones e gritam em alto e bom som. O mundo já ultrapassou o limite de segurança de 1,5º estipulado no Acordo de Paris. Entrou na zona do risco.
A ONU diz que a situação induzida pela ação humana amplifica desigualdade, agrava insegurança alimentar e empurra as pessoas para a pobreza. Os países com maior vulnerabilidade social são os mais atingidos pelos desastres, entre incêndios, secas, cheias e inundações, como a que ocorreu no Rio Grande do Sul. “O calor extremo é o “novo normal”. Os líderes mundiais precisam estar à altura do desafio do aumento das temperaturas”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Um caso a avaliar
A Europa, um dos continentes mais desenvolvidos, onde estão os países mais industrializados do mundo, como Alemanha e França, sempre foi considerado sinônimo de qualidade de vida e bem-estar. Na sexta-feira, dia 2 de agosto, foi revelado que a região europeia é a que regista o aquecimento mais rápido das seis regiões cobertas pela OMS, com as temperaturas subindo em um ritmo duas vezes maior que a taxa média global.
Em comunicado, o diretor regional da OMS para a Europa, Henri Kluge, afirmou que os três anos mais quentes registados ocorreram desde 2020, e a década mais quente foi desde 2007. De acordo com OMS, a região europeia, composta por 53 estados-membros, “detém 36% dessas mortes, o que equivale a 175 mil vidas perdidas todos os anos”.
Stress térmico e a saúde
Segundo Kluge, nos últimos 20 anos houve um aumento de 30% na mortalidade relacionada com o calor na Europa. Ele diz que “o stress térmico é a principal causa de morte relacionada com o clima. “Os extremos de temperatura agravam as condições crônicas, incluindo doenças cardiovasculares, respiratórias e cerebrovasculares, saúde mental e condições relacionadas com a diabetes”, afirma a OMS.
“As temperaturas elevadas são um problema em particular para os idosos, especialmente aqueles que vivem sozinhos e também para as mulheres grávidas”, diz a OMS.
Possíveis saídas
Para aumentar a resiliência nos países afetados pelo calor, a agência de saúde da ONU recomenda que sejam elaborados planos de ação no eixo calor-saúde, para melhorar a adaptação de comunidades.
A OMS afirma que o objetivo é proporcionar referências baseadas em evidências para que os governos nacionais e locais estabeleçam os seus próprios planos ou atualizem os existentes, para assim melhorar a gestão dos riscos térmicos. Segundo a organização, algumas medidas simples incluem evitar sair e realizar atividades extenuantes nos horários mais quentes do dia, passar de duas a três horas por dia em um local fresco, como um supermercado ou cinema, manter a casa fresca e o corpo hidratado. Nesse sentido, é importante evitar bebidas açucaradas, alcoólicas ou com cafeína devido ao seu efeito desidratante no corpo.
Integração da ciência
Preocupada com o aumento da insegurança alimentar no planeta devido à crise climática, a FAO faz algumas recomendações. Entre elas estão as ações estratégicas para apoiar a inclusão de povos indígenas e outros detentores de conhecimento local que contribuem com práticas e percepções valiosas e específicas do local que aprimoram as decisões de gerenciamento de incêndios. Para a FAO, o envolvimento desses grupos é fundamental para prevenir incêndios florestais, lidar prontamente com os focos de incêndio e restaurar áreas devastadas por queimadas severas.
A participação das comunidades na proteção ambiental tem colaborado para preservação de importantes fontes para mitigar os riscos climáticos. Um exemplo ocorre na Área de Proteção Ambiental, em Maracajaú.
“A preservação dos corais é muito importante, porque o coral é considerado o agricultor do fundo do mar. Através dos corais surgem as algas marinhas, que liberam oxigênio. Isso filtra a água e tira a toxina do mar. O mar é como um pulmão do mundo. Se não cuidamos e não zelarmos do mar estamos destruindo a nossa própria natureza”, afirma seu Abi.
A colaboração geral
A ONU chamou os países para que apresentem planos para mitigação e adaptação diante dos riscos climáticos. O secretário-geral, António Guterres, identifica quatro áreas de ação: cuidado dos vulneráveis, proteção dos trabalhadores, aumento da resiliência das economias e das sociedades e limitação do aumento da temperatura global a 1,5°C.
Farol Ver Amazônia
Energia
Os ventos fortes do Rio Grande do Norte fizeram do Estado o maior produtor de energia eólica do Brasil. O Estado consome 100% de energia eólica produzida nos parques e tornou-se autossuficiente em energia limpa. O excedente é vendido.
Discurso
A gestão de riscos e desastres no Brasil deságua em discurso e na falta de dinheiro para ações imediatas.
Mais discursos
No Grupo de Trabalho de Redução do Risco de Desastres do G20, no Rio de Janeiro, o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, partiu para o discurso ao propor taxar as grandes fortunas e destinar parte dos recursos para amenizar os efeitos da crise climática.
Na porta
A crise climática é coisa do presente. Os desastres chegam com mais força e com efeitos devastadores. No Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas vivem em área de alto ou altíssimo risco.
Turismo
A indústria do turismo no Brasil começa a atentar para o turismo sustentável e responsável com o meio ambiente.
Ver Amazônia em vídeo.
Os corais do mar do Rio Grande do Norte ajudam na mitigação dos riscos climáticos. O turismo sustentável praticado nos locais colabora para preservação ambiental. Assista ao vídeo acima!