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Com Edmilson Rodrigues em queda livre, núcleo do governo aposta: Helder deve oferecer plano B a Lula

Murmúrios do Palácio do Governo apontam que o prefeito de Belém é apenas um ponto nas reticências do governador.

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  • Por Olavo Dutra | Colaboradores
  • 26/11/2023, 08:10
Com Edmilson Rodrigues em queda livre, núcleo do governo aposta: Helder deve oferecer plano B a Lula
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maior lição da vida é a de que, às vezes, até os tolos têm razão”. A frase, cunhada por Winston Churchill, mostra que o estadista que levou a Inglaterra à vitoriosa resistência contra os nazistas, mas que sofreu uma derrota humilhante nas eleições em 1945, entendia muito da alma humana e das reviravoltas que as circunstâncias impõem aqueles que dependem dos humores voláteis da opinião pública para erguer os dedos em “V” diante de bandeiras tremulando ao vento e uma multidão exultante após uma campanha extenuante.


Para o governador, 2024 não é um destino, mas apenas uma escala importante, diante da qual o aparente atraso da decisão sobre a eleição em Belém acende o sinal amarelo para a tripulação/Fotos: Divulgação-Ilustração-Pesquisa.

 Maior eleitor do Estado, Helder Barbalho, tem sobre seus ombros o peso dos resultados positivos de uma opinião pública cativa. Todas as pesquisas de opinião apontam o governador do Pará não apenas com aprovação de dois terços do eleitorado, mas com a principal força na alavancagem de qualquer candidatura a prefeito em 2024.

 

Viajante incansável em pontes aéreas improváveis que vão de Altamira a Londres, de Nova Iorque a Curralinho, de Brasília a Piçarras, Helder Barbalho, com evidentes e legítimos sonhos nacionais, mantém o silêncio obsequioso sobre suas escolhas para as eleições municipais do ano que vem nas praças mais populosas do Estado, cabeças de ponte para qualquer projeto sucessório que se queira bem-sucedido.

 

Os interlocutores de Helder, até 2022 cheios de certezas, hoje especulam sobre o que realmente o líder estaria pensando. Voando distâncias grandes ou pequenas, Helder encara a solidão do poder se nutrindo no silêncio. O burburinho das ruas parece não perturbar o governador, mas o adiamento de decisões estratégicas pode levar à perda da oportunidade de fazer escolhas sem o desespero que nutre a pressa e antecipa o erro.


 

Pouso e decolagem

 

Para Helder, 2024 não é um destino; é apenas uma escala. O destino é 2026 e alhures. Mas qualquer intercorrência nesses ligeiros pouso e decolagem pode fazer o destino se perder. Diante da importância da escala, o atraso da decisão parece ter despertado o pânico na tripulação.

 

Existem dez cidades paraenses decisivas para quem tem, como Helder, planos sucessórios bem definidos e trajetória nacional em ascensão.

 

Belém - População: aproximadamente 1.499.641 habitantes; Ananindeua - População: aproximadamente 525.520 habitantes; Santarém - População: aproximadamente 306.566 habitantes; Marabá - População: aproximadamente 287.075 habitantes; Parauapebas - População: aproximadamente 213.445 habitantes; Castanhal - População: aproximadamente 195.046 habitantes; Abaetetuba - População: aproximadamente 157.698 habitantes; Cametá - População: aproximadamente 142.089 habitantes; Marituba - População: aproximadamente 137.364 habitantes; Bragança - População: aproximadamente 125.960 habitantes.

 

Esse quadro mostra que sem Belém, todo o resto se tornaria muito mais difícil. Ou seja, em Belém, Helder tem que ganhar sim ou sim, ou poderá colocar em risco o restante do plano.




Garantia mínima


Até as pedras sabem que Helder e Jader Barbalho, pai dele, tiveram papel decisivo na vitória de Edmilson em 2022 desde o primeiro turno. O deputado José Priante, candidato do MDB e adversário de Edmilson naquele pleito, não esconde de ninguém sua insatisfação com essa manobra que teria operado em seu desfavor.

 

A ligação de Helder, embaixador amazônico da COP30, e Jader Filho, ministro das Cidades, com o presidente Lula obrigam os detentores do poder local a combinar o jogo com o Planalto. E essa combinação passa por um mínimo de garantia para manter a aliança com o Psol: a garantia de que o prefeito tem condições de se reeleger, de acordo com as pesquisas de opinião. “Lula e Helder têm compromisso com a vitória, não com Edmilson”, disse um prócer petista ligado ao senador Beto Faro. Isso não é totalmente verdade. O compromisso existe, mas seu cumprimento certamente depende de condições objetivas que não estão se confirmando.

 

Vacilo ou ato falho?

 

Percebendo que a terra se move sob seus pés, Edmilson vacilou. Em uma live gravada sobre fogo cerrado da oposição, em que misturou o lixo de Belém com lixo de Ananindeua antes da coleta, Edmilson chegou a verbalizar: “se eu for candidato...”, mostrando na condicional que essa decisão não é dele, mas de outro. Seria um ato falho?

 

“Helder já entendeu que Edmilson é apenas um ponto nas reticências que o cercam”, disse um analista.

 

Cartas na mesa

 

Nos bastidores do Palácio do Governo, há quem aposte que o governador aproveitará a COP de Dubai para ir a Lula apresentar um estudo onde justifica a desistência em apoiar Edmilson e a emergência em apresentar um nome de consenso MDB-PT.  O problema é o nome. Petistas ligados ao senador Beto Faro, cujo grupo segue nos cargos da administração Edmilson, dizem que esse nome “precisa ser do PT, para substituir e envernizar a troca”.

 

Pedro Montalvani, consultor político paranaense com passagens por várias eleições no Pará, analisa a situação de modo diverso: "Edmilson parece estar afundando na imperícia política de seu entorno, uma espécie de hiato de mando. Mas sigo achando que se tivessem negociado com o Beto Faro a questão do lixo-Sesan, a crise com o PT não existiria, porque francamente o partido não tem nome capaz de vencer essa disputa; nenhum. Qualquer nome que o PT lance terá 10, 12 pontos na melhor hipótese. Helder tem muitos nomes que estão pontuando em pesquisas e que são de seu partido. Por que ele correria o risco de perder a eleição com um nome do PT se pode ganhar com um nome do MDB?”.

 

As bolas da vez

 

“Os nomes do MDB testados em pesquisas foram José Priante, Ursula Vidal e Zeca Pirão, salvo engano”, afirma Montalvani. “Desses, Ursula Vidal e José Priante são os que apresentam trajetórias mais sólidas e têm margem para crescimento. Ursula é boa gestora, tem perfil de centro-esquerda e transita bem entre os ministros do PT. Priante, por outro lado, é um político habilidoso, emedebista raiz, experiente, e já esteve nessa disputa outras vezes, mostrando-se competitivo. Zeca Pirão teria um teto baixo para crescimento porque dos três é quem tem maior rejeição. Tem um perfil mais conservador e se confunde com os adversários, como Eder Mauro ou Eguchi”, conclui.

 

O jogo dos dados

 

Montalvani destaca em sua análise o levantamento realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas, que confirma sua percepção. Registrada sob número 0623, a pesquisa analisou dois cenários estimulados na disputa pela Prefeitura de Belém. No primeiro cenário, o prefeito Edmilson Rodrigues lidera com 17,0%, seguido por Everaldo Eguchi com 16,9%, Ursula Vidal com 15,4%, Cassio Andrade com 10,4%, José Priante com 8,3% e Thiago Araújo com 8,0%.

 

Já no segundo cenário, sem a presença de Everaldo Eguchi, o deputado federal Eder Mauro assume a dianteira, com 19,5%, seguido por Edmilson Rodrigues com 16,5%, Ursula Vidal com 15,4%, Cássio Andrade com 9,7%, José Priante com 7,9% e Thiago Araújo com 7,5%.

 

Na coleta espontânea, Edmilson Rodrigues lidera com 8,4%, seguido por Everaldo Eguchi com 1,4%, Eder Mauro com 1,1%, Ursula Vidal com 1,1%, José Priante com 0,7%, Cássio Andrade com 0,4% e Thiago Araújo com 0,3%.

 

Para a realização da coleta foi utilizada uma amostra de 736 eleitores, estratificada segundo gênero, faixa etária, grau de escolaridade, nível econômico e posição geográfica. O trabalho de levantamento dos dados foi feito através de entrevistas pessoais, com eleitores com 16 anos ou mais. A Paraná Pesquisas encontra-se registrada no Conselho Regional de Estatística sob o nº 3122/23.

 

Voltando aos tolos...

 

Em que pesem as pressões externas e até internas, certamente o governador tomará sua decisão se baseando em dados e fatos, mitigando esses elementos com sua própria experiência e sensibilidade e afastando os tolos do centro de decisão, já que perder a capital para a direita mais beligerante da história recente do Pará não é uma opção.


Afinal, se for verdade, como disse Churchill, que a maior lição da vida é a de que, às vezes, até os tolos têm razão, também é verdade que na maior parte das vezes os tolos não têm razão alguma.

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.