Crescimento desordenado e descaso deixam Belém sem defesa contra os humores da natureza

Especialistas apontam desigualdade ambiental entre bairros e defendem ações para tornar a cidade verde, saudável e sustentável.

31/10/2024 08:00
Crescimento desordenado e descaso deixam Belém sem defesa contra os humores da natureza
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m registro com foto do Grupo Archiurbe no Instagram mostra a desigualdade ambiental entre os bairros de Batista Campos e do Jurunas, este último mais próximo ao rio Guamá, em Belém, especialmente sobre a questão da arborização.


Belém parece, mas não é suficientemente arborizada, estando entre as piores cidades do País neste item, segundo o IBGE/Fotos: Divulgação.

O grupo afirma que não é somente o Jurunas que sofre com a falta de árvores, mas Guamá e Terra Firme estão entre os bairros menos arborizados de Belém, segundo levantamento do projeto “Belém mais Verde”, da Universidade Federal Rural da Amazônia, a Ufra, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do município.

 

O projeto “Caracterização da urbanização no município de Belém, semente do amanhã: Belém mais Verde” começou em 2022 e apresentou resultado no início deste ano, com pesquisadores da Ufra fazendo mapeamento florístico nos bairros da Terra Firme, Guamá, Marco, Fátima, Batista Campos e Nazaré.  

 

Em parceria formada com a Secretaria de Meio Ambiente, o projeto buscou fazer um levantamento do patrimônio arbóreo nessas regiões, fornecendo dados que podem auxiliar nas ações de arborização, como necessidades de tratamentos, substituição e implantação de novas árvores. 

 

Ao sabor do tempo 

 

Com o estudo é possível conhecer as características principais dessas plantas, onde estão localizadas, se estão causando algum dano ao calçamento e quais necessitam de cuidados. O estudo é fundamental para levantar dados sobre o clima da cidade, para que se possa mensurar temperatura, umidade, concentração de gás carbônico e a formação de ilhas de calor.  

 

“Os dados podem também subsidiar ações e melhorias públicas nesses locais, além da elaboração de planos de arborização em bairros em que não há presença de árvores e verificar se há alguma vegetação que está causando danos na infraestrutura da cidade”, explica o professor Cândido Ferreira Neto, que coordena o projeto juntamente com a professora Joze Melisa, com apoio do professor Antônio Moreira, todos da Universidade Federal da Amazônia. 

 

Casa do sem jeito

 

Por outro lado, o Grupo Archiurbe aponta que o crescimento desordenado da cidade foi e ainda é uma das principais causas para a perda de cobertura vegetal, juntamente com projetos que até hoje, simplesmente, ignoraram a arborização urbana. 

“É preciso implementar ações que ajudem a transformar Belém em uma cidade mais verde, saudável e sustentável, a partir de uma política pública que considere programas de educação ambiental nas escolas e comunidades, mas também, a aplicação de fato, do plano de arborização integrado ao planejamento urbano da cidade”, opina o grupo. 

 

Ainda segundo o grupo, o aumento da quantidade de árvores na cidade pode trazer muitos benefícios para a comunidade e o meio ambiente, como redução da temperatura local; melhora na qualidade do ar; aumento da biodiversidade, redução do estresse e a uma melhora no bem-estar mental e emocional dos moradores, entre outros.  

 

Cidade mapeada 

 

A equipe realizou, por exemplo, todo o mapeamento da avenida Duque de Caxias, no bairro do Marco, onde estão localizadas 430 árvores, de diversos tamanhos e espécies, que vão de frutíferas a outras que não são necessariamente adequadas ao local. O bairro do Marco já tinha mapeadas 1.334 árvores.   

 

O professor Cândido explica que o ideal para Belém são árvores que tenham a copa grande e formem sombra, além de plantas que não possuam o sistema radicular superficial, ou seja, raízes expostas. “O indicado são plantas nativas, como Cenostigma tocantinum, mais conhecido como pau preto”, aponta.  

 

Salva-se Mosqueiro?

 

Pelo mapeamento da Secretaria de Meio Ambiente, apresentado em janeiro deste ano, o maior quantitativo de área verde pública em Belém foi registrado Mosqueiro, que abrange 19 bairros e totaliza uma área de 5.427,59 hectares, dos quais 90% correspondem a áreas verdes como praças, canteiros e bosques - em Mosqueiro, nesta semana, o Carananduba ardeu em fogo por conta da estiagem (vídeo abaixo). Em segundo lugar, com 88% de área verde, está Outeiro, com quatro bairros em uma área de 1.328,89 hectares.  



 

O Entroncamento, formado por dez bairros, dos 6.422,46 hectares, 83% correspondem a áreas verdes e ficou em terceiro lugar. Enquanto que em Icoaraci, a área verde representa 69% dos 3.341,67 hectares dos nove bairros que o formam e ficou em quarto lugar. Em quinto lugar, na classificação por áreas verdes, com 39%, está o Bengui, formado por oito bairros divididos em 3.092,68 hectares. 

 

Os bairros da Sacramenta, Centro de Belém e do Guamá, formados por sete, oito e seis bairros, respectivamente, possuem menos de 20% de seus territórios compostos por áreas verdes. Sacramenta contabiliza 19% de seus 1.344,66 hectares; o Centro de Belém tem 12% de 1.529,64 hectares e o Guamá finaliza a lista, com 8% de seus 1.281,33 hectares correspondentes a praças, canteiros e bosques. 

 

Largada e pelada

 

Segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, Belém é a capital menos arborizada do Brasil, o que a coloca em uma situação crítica, tornando-a um grande desafio para pesquisadores que trabalham com a natureza.  

 

Papo Reto

 

· A Federação das Indústrias do Pará informa que o empresário Hélio de Melo Filho foi nomeado e empossado como presidente da Junta Governativa para gerir a entidade até as próximas novas eleições.

 

· A medida atende a decisão judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região. Também já foram nomeados e empossados os novos membros da Diretoria Executiva - Roberto Kataoka, Rogério Dias e Nilde Souza.

 

· Os ministros da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e das Cidades, Jader Filho (foto), presidem amanhã a reunião ministerial do Grupo de Trabalho de Redução do Risco de Desastres do G20, no Hangar, em Belém.

 

· O grupo aborda questões críticas relacionadas à gestão de crises e catástrofes em escala global e desempenha papel crucial na promoção da resiliência, prevenção e mitigação de riscos nos países membros.

 

· Da série "se a inveja matasse...": o Ceará acaba de assinar com a norueguesa Fuella AS pré-contrato para instalação de planta industrial de hidrogênio verde (H2V) na Zona de Processamento de Exportação do Porto do Pecém, com investimento de R$ 9 bilhões e geração de mais de mil empregos.

 

·  Transferir o Programa Calha Norte do Ministério da Defesa para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, já em 2025, escancara preocupações quanto à capacidade de um órgão civil gerir um projeto essencialmente ligado à defesa nacional.

 

· O Calha Norte, para quem não sabe, engloba 85% da população indígena nacional em um território correspondente a 99% da extensão das terras que estes possuem.


· Diz o governo, no entanto, que só quer "reorganizar a administração pública", mas deixa no ar dúvidas sobre o impacto nas áreas de fronteira e na proteção da Amazônia Legal.

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