arece consensual que quando os
governos se dão conta de estarem em meio a uma crise econômica os primeiros
setores atingidos por eventuais medidas reparadoras são a educação e a cultura.
O Pará e Belém não escapam a essa regra: esses dois setores têm sido alvo de
propostas polêmicas sob o manto de uma parcialmente frustrada reforma
administrativa do Estado.
No primeiro caso, o governador Helder
Barbalho veio a público, com dias de atraso, para esclarecer que a proposta
elaborada pela Secretaria de Planejamento - reestruturação da máquina pública,
incluindo a extinção da Funtelpa e da Fundação Cultura, para garantir mais
recursos para investimento em obras -, representou “um erro brutal”, por isso
foi retirado da Assembleia Legislativa e não existe mais (veja vídeo
abaixo).
O segundo caso, em se tratando de
Belém, é quase prosaico, mas cai na conta do prefeito eleito, Igor Normando,
“sob orientação” do jornalista Mauro Bonna. Pelo primor da proposta, por assim
dizer - salvo interpretação equivocada do redator -, e pela data em que foi
anunciada, trata-se de um verdadeiro presente de Natal para a cultura da
cidade. O novo prefeito anunciou, alto e em bom tom, que o Palacete Pinho, na
Cidade Velha, “é subutilizado” e que “negociá-lo com a iniciativa privada”
seria uma ótima opção para dar uma “destinação melhor” ao espaço. Cai o pano
que vem mais polêmica.
A fala de Normando foi feita na
quarta-feira, 25, no programa de entrevistas do apresentador, na RBA. Na
verdade, Bonna, ao entrevistar o prefeito eleito, foi quem
afirmou que “o Palacete Pinho é subutilizado” e sugeriu que seja entregue à
iniciativa privada, ao que o prefeito respondeu, incontinenti: “Nós vamos fazer
isso, Mauro”. Pergunta-se: de quem é mesmo essa ideia?
Grito dos atingidos
Desnecessário dizer que esse trecho
da entrevista causou enorme surpresa por expor completo desconhecimento a
respeito do que representa o Palacete Pinho como equipamento público de
educação e cultura em Belém.
Em nota pública, por exemplo,
servidores do Núcleo de Arte, Cultura e Educação da Semec-Escola Municipal de
Artes de Belém, órgãos que funcionam no palacete desde 22 de
fevereiro de 2024, indicam que tanto o prefeito eleito quanto o
entrevistador mostraram desconhecer as atividades no local - ou essa prosa
pública teria sido um “balão de ensaio”, do tipo como é conhecido como “se colar,
colou”?
Por onde passa a cultura
O documento informa que desde o final
de fevereiro deste ano, o Palacete Pinho, reformado e reinaugurado, passou
a abrigar o Núcleo de Arte, Cultura e Educação da Secretaria de Educação,
responsável pelas ações e projetos executados no Palacete e anexos, como
a Escola de Arte de Belém, Cinema Dira Paes, Ecomuseu de Belém, o Memorial
Bruno de Menezes, Formação Continuada dos Professores de Artes, Escola de Dança
e outros.
Desde sua criação, o Núcleo tem
demonstrado para a Rede de Ensino de Belém, bem como para a
cidade, “investimentos na qualidade da educação pública e, neste
caso, em especial, no potencial das expressões artísticas e da cultura popular
em uma perspectiva de ensino-aprendizagem integral das pessoas que fazem parte
desta grande rede de educação”.
O documento afirma que
“quer acreditar que o futuro prefeito tenha feito uma afirmação
equivocada, porque ainda desconhece as ações realizadas no Palacete Pinho
e terá a sensibilidade e o compromisso de garantir a continuidade de um espaço
público tão relevante e significativo para a cidade”.
No curso da história
O Palacete Pinho é uma
edificação histórica localizada na rua Doutor Assis, na Cidade Velha, tombado
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sendo considerado
um ícone da arquitetura moderna em Belém.
O prédio foi construído em 1897,
sob as ordens do comendador Antônio José de Pinho que, juntamente com sua
família, passou a ocupar o imóvel, naquele momento em que
se vivia o Ciclo da Borracha. Nos
anos posteriores, se converteu em um espaço com intensa atividade social,
cultural e política. A família Pinho morou no prédio até a década de
1970.
Em 1982, o prédio foi comprado pela
extinta rede de supermercados Y. Yamada, que supostamente o transformaria em
uma fundação cultural ou em uma casa de recepção. Após seu tombamento, que evitou
sua demolição, foi desapropriado em 1992. Em 2010, a Justiça Federal
determinou que o município efetivasse as obras de restauração do palacete.
Parceria não deu certo
Em 2011, a obra de restauração foi
concluída, ao valor final de R$ 7,8 milhões, sendo R$ 3,8 milhões de empresas,
como a Vale e a Eletrobras, por meio da Lei Rouanet, na gestão de Duciomar
Costa. Após a inauguração, não teve uma destinação final, o que acabou por
deixá-lo à ação do tempo e mostrar sinais de deterioração.
Na gestão do prefeito Zenaldo
Coutinho, em 2017, uma possível parceria quase foi concretizada entre a
Prefeitura de Belém e o Consulado de Portugal, mas não vingou por conta
dos altos custos da reforma. Em 2022, a administração do Palacete passou à
Secretaria de Educação. Naquele momento, estava em curso uma obra de
restauração, ao custo de R$ 6 milhões, com o objetivo de abrigar
atividades artísticas, relacionadas com o Núcleo de Artes, Cultura e Educação
da Secretaria.
Papo Reto
· O presidente da Câmara de Belém, John
Wayne (foto), deve acionar vereadores não reeleitos a devolverem os
computadores cedidos pela Casa e entregá-los aos novos parlamentares.
· Não bastasse a meia centena de lombadas
que infernizam a vida de motoristas no percurso Santa Maria do
Pará-Salinópolis, o trecho acaba de ganhar mais quatro monstrengos inibidores
de velocidade.
· O governo recuou, adiando até 1⁰ de
julho de 2024 o prazo de fiscalização de CACs (Colecionador, Atirador
Desportivo e Caçador) pela Polícia Federal.
· Não sem tempo, a 123milhas mostrou,
finalmente, plano de recuperação judicial de R$ 2,4 bilhões, acolhendo cerca de
800 mil credores.
· Acredite, o consumo de álcool foi a
maior causa de 3.507 sinistros de trânsito registrados de janeiro a novembro
deste ano, com 178 mortes, só nas rodovias federais.
· Decididamente, álcool e direção não
combinam mesmo, por isso a Polícia Rodoviária Federal promete ser
"implacável" contra condutores teimosos, reforçando a fiscalização no
feriadão de Ano Novo.
· Bastante polêmica a implantação de um
Terminal Pesqueiro na área da Ceasa ou na avenida Arthur Bernardes, acabando de
vez com a Pedra do Peixe da Feira do Ver-o-Peso, que muitos consideram
inadequada para um “cartão postal”.
· Enquanto alguns apoiam, outros
consideram que a comercialização do pescado na Pedra é a alma da feira, mantém
o movimento em alta e uma tradição secular.
· Enquanto espera a sabatina do Senado
Federal para assumir uma diretoria da Agência Nacional da Mineração, o
presidente da Cosanpa, José Fernando Gomes Jr. comemora com os servidores os 59
anos da empresa, que este ano terá parte de sua estrutura entregue à iniciativa
privada.
· A empresa que assumir o sistema de
abastecimento terá que investir em saneamento básico com a construção de
estações de tratamento de esgoto.