erminou por volta das 21 horas de ontem, quinta-feira, 20, a tensa reunião entre representantes da sociedade civil dos municípios de Salvaterra, Soure e Cachoeira do Arari, no Marajó com o secretário de Segurança do Pará, Ualame Machado.
Diante da pressão, o governo do Estado suspendeu o reajuste aplicado pelos operadores da navegação nos preços das passagens, de mais de 23%
Meia volta, volver
No final da noite de quinta-feira, a Agência de Regulação e Controle dos Serviços Públicos de Transporte (Artran) informou que a aplicação do reajuste nas travessias entre Belém e o Marajó e entre os municípios da ilha foi suspensa pela operadora de transportes que atende a região. A decisão foi tomada após reunião no Centro Integrado de Comando e Controle, na sede da Secretaria de Segurança Pública.
Além de representantes do governo, participaram da reunião os prefeitos de Soure e Salvaterra, o Ministério Público do Pará, representantes de comunidades quilombolas e lideranças comunitárias do Marajó. Um Grupo de Trabalho deve discutir na segunda-feira, dia 24, o escalonamento da nova tarifa.
Marcas da violência
O protesto ganhou a adesão de todos os que se sentem prejudicados pelo aumento, que é considerado abusivo, frente a uma inflação que não chegou a 5% nos últimos 12 meses. O protesto começou a ficar mais acirrado na quarta-feira, 19, quando soldados da Polícia Militar do Pará começaram uma operação de repressão ao movimento, considerado pacífico.
Diante de imagens de redes sociais que mostraram casas de famílias sendo atacadas com bombas de efeito moral; integrantes quilombolas de uma vila às proximidades do Porto Camará que prestavam apoio ao movimento e que foram reprimidos com violência pela PM, com uso de gás de pimenta e balas de borracha - no meio dessas havia uma cápsula de projétil de bala normal e letal -, a população se revoltou mais ainda e um confronto mais direto só não aconteceu porque a reunião com a Segup, em Belém, estava em curso.
Durante os dois últimos dias, houve barricadas na estrada de acesso ao porto, fogo em pedaços de madeira e galhos de árvore e, do outro lado, a tropa de choque da PM quase partindo para o enfrentamento.
Na manhã de quarta-feira, pelo menos três pessoas foram detidas. Diversos vídeos e fotos nas redes sociais mostram a violência da ação policial, que atingiu até mesmo crianças em uma escola da comunidade Quilombola Campina Vila União.
Dito pelo não dito
Ao final da reunião, o secretário Ualame Machado, que também é delegado da Polícia Federal, afirmou que o aumento não será mais praticado. Antes, porém, a própria empresa Henvil, que faz o transporte de ferry boat e balsas para o Marajó, havia informado que, depois de reuniões na terça, 18, e quarta-feira, 19, com dirigentes da Atransmar, mediadas pela Promotoria de Justiça de Salvaterra, ficou acordado um escalonamento da aplicação do reajuste em duas parcelas para os associados da Atransmar, com 11%, em caráter imediato, e o restante, a partir de 10 de junho, em um prazo de 80 dias. A empresa disse também que não houve reajuste para os passageiros de classe econômica. Essa decisão caiu depois na reunião de quinta-feira à noite, quando o aumento foi revogado.
Pedido de explicações
A situação de repressão da PM sobre os manifestantes, em especial os quilombolas, levou o Ministério Público Federal a requisitar da autoridade paraense a apuração da ação praticada pela PM contra essas comunidades quilombolas.
O MPF aponta que o protesto era pacífico, mas a intervenção policial foi violenta, abusiva e desproporcional.
O pedido inclui abertura de investigações administrativas para apurar a responsabilidade pela operação; envio de manifestações e documentos sobre os fatos ocorridos; e fornecimento, em 24 horas, dos nomes e matrículas das autoridades que autorizaram a intervenção, do responsável pela operação e dos policiais envolvidos.
O documento do MPF destaca que o Marajó possui mais de 40 comunidades quilombolas, das quais 18 estão em Salvaterra. Os procuradores enfatizam que o protesto era pacífico e está alinhado ao direito constitucional de reunião e livre manifestação, previsto na Constituição Federal e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. O uso da força policial, segundo os procuradores, contraria princípios como legalidade, necessidade, razoabilidade e proporcionalidade.
Igreja faz apelo
O bispo da Prelazia do Marajó, Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, divulgou nota oficial, na noite de quinta-feira, 20, expressando publicamente solidariedade e apoio à população de Salvaterra e dos outros municípios envolvidos no protesto contra o aumento dos valores praticados no transporte aquaviário para o arquipélago marajoara. Dom Ionilton defende o direito de a população reagir e de se manifestar, de modo pacífico, quando promoveu a interdição em diferentes pontos da rodovia PA-154, mas vê com preocupação o modo de agir da Polícia Militar.
Papo Reto
·A descoberta de 14 computadores "mágicos" de dinheiro infinito do governo americano, capazes de usar inteligência artificial para produzir dinheiro e enviar pagamentos para qualquer canto do planeta sem qualquer controle ou auditoria, promete ser um capítulo à parte na guerra entre a direita mundial e elite globalista.
·A oposição promete "obstrução ampla, geral e irrestrita", no Congresso Nacional, caso o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (foto), não pautar a votação da lei da anistia aos presos do dia 8 de janeiro.
·Como já estava "escrito nas estrelas", o Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou ontem em mais 1 ponto (agora 14,25%) percentual os juros no País, maior patamar para a taxa básica desde agosto de 2016.
·A oposição, com justíssima razão, faz barulho: quer saber dos líderes do governo por quê a nova diretoria do Banco Central - agora indicada por Lula -, adotou a mesma metodologia usada nos tempos em que o comitê era composto por técnicos indicados por Bolsonaro.
·Silentes, parlamentares governistas sabem, no fundo, que tudo não passa de culpa do próprio governo e sua gastança desenfreada e sem planejamento, mas festejada pelos políticos.
·Da série "se a inveja matasse": o Piauí (isso mesmo, o Piauí!) vai receber, de 23 a 27/03, a Missão de Oficiais da União Europeia e de Países Europeus para Ciência, Tecnologia e Inovação, buscando conectar a comunidade científica e empresarial local às oportunidades oferecidas por países europeus.
·O Congresso vai passar o crivo, claro, para valer ano que vem, mas Lula já assinou o projeto de lei que amplia a isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil.
·Para compensar a perda de arrecadação, o governo propõe meter a marreta nos contribuintes com renda anual superior a R$ 600 mil.