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Asfalto e floresta

Metas tímidas travam desmatamento zero na Amazônia até 2030, diz o Imazon

Belém ferve sem árvores enquanto discute clima e estudo do Imazon aponta metas estaduais incompatíveis com o Acordo de Paris

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  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 18/11/2025, 08:00
Metas tímidas travam desmatamento zero na Amazônia até 2030, diz o Imazon
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ntes mesmo de entrar na Blue Zone, qualquer participante da COP30 descobre uma contradição gritante: Belém fala de clima, mas não tem sombra para caminhar. Fora dos corredores de mangueiras do Centro, o trajeto entre hotéis, Parque da Cidade e áreas oficiais do evento é um desafio à sobrevivência sob o sol. Árvores, o remédio mais barato e eficaz contra o calor urbano, são artigos de luxo.

 

Capital paraense vive hoje o cenário que o mundo tenta evitar amanhã, segundo as discussões da COP30/Fotos: Divulgação.

Não à toa, corada de tanto calor - ou de vergonha -, a primeira-dama do Brasil, Sra. Janja da Silva, chegou a pedir desculpas aos visitantes. Estava sob 39°C e sentia tanto quanto se estivesse em Santarém ou Manaus. 

Segundo o INMET, em 50 anos, a temperatura máxima média da capital paraense subiu 1,9°C - acima da meta global do Acordo de Paris, que tenta limitar o aquecimento a 1,5°C. A cidade, portanto, já vive hoje o cenário que o mundo tenta evitar amanhã.

E é impossível ignorar o contraste histórico: em 1902, o intendente Antônio Lemos considerou a arborização questão de “necessária importância” para proteger a população - e mandou plantar duas mil mangueiras. Um século depois, elas seguem de pé, mas o planejamento urbano parece ter caído. Belém precisa de árvores, e precisa agora, sobretudo nas periferias que vivem sem sombra.

Metas e matas

Enquanto a cidade esquenta, outro aquecimento preocupa: o da floresta. Entre as discussões centrais da COP30 está como levar a Amazônia ao desmatamento zero até 2030, condição essencial para cumprir o Acordo de Paris. Mas, segundo o Imazon, a ambição dos estados amazônicos está bem aquém do discurso.

O plano federal prevê o desmatamento zero na 5ª fase do PPCDAm, mas ainda admite o desmatamento legal compensado, o que já reduz a chance de zerar totalmente a derrubada. Até setembro, o governo nem havia oficializado a estimativa desse desmate legal. O Plano Setorial da Agricultura e Pecuária sugere reduzir a supressão em 50% até 2030, o que equivaleria a 703 km² de derrubada legal.

Estados fora do tom

Nas contas estaduais, os números são bem mais altos. Mato Grosso e Pará, juntos, projetam 2.109 km² de desmatamento até 2030 - três vezes a estimativa federal. O valor inviabiliza o compromisso do Consórcio Interestadual da Amazônia Legal, que fala em desmatamento zero total e recuperação de 3 mil km².

A meta intermediária do Consórcio - 10 mil km² de perda florestal até 2025 - já foi superada em 2023.

Pará, Amazonas e Roraima apresentam compromissos “parcialmente compatíveis”, mas todos admitem desmatamento ilegal compensado. O Pará se destaca negativamente: projeta 1.538,3 km² em 2030, mais que o dobro da projeção federal para toda a Amazônia. 

Acre, Amapá, Maranhão, Rondônia e Tocantins não têm metas de redução específicas para 2030. Mato Grosso é o mais alinhado ao plano federal, mas precisaria quadruplicar a recuperação de áreas degradadas para cumprir o prometido. Para metas anteriores a 2030, apenas o Pará não apresentou compromisso nenhum.

O caso paraense

O governo paraense informou ao Imazon que pretende alcançar emissão líquida zero no uso da terra até 2030, com 56.500 km² restaurados. Ainda assim, a compatibilidade com as metas federais é apenas parcial, porque o Estado aceita desmatamento ilegal compensado.

Em 2024, o Pará registrou desmatamento 3% abaixo da linha de base 2014–2018. Para 2050, a meta é emissão líquida zero e limite de 2 tCO₂e per capita. Os pesquisadores fazem um alerta direto: metas sem execução não entregam resultado. Estados precisam agir, e uma medida crucial está sob responsabilidade direta deles - dar transparência à cadeia da pecuária, principal vetor do desmatamento. Abertura de GTAs e CARs continua sendo promessa não cumprida.

A floresta e o asfalto

No fim, floresta e cidade se encontram no mesmo problema: falta de política pública concreta. A Amazônia segue perdendo mata em ritmo incompatível com o Acordo de Paris, e Belém, anfitriã da COP30, mal consegue oferecer sombra aos seus visitantes e moradores.

Uma ironia amarga: sem árvores nas ruas e sem metas robustas na floresta, o calor - urbano e climático - só tende a aumentar (Com informações do Imazon e Amazônia Vox).

Papo Reto

·O presidente da CPH, Hilton Aguiar (foto), talvez desconheça, mas, no Terminal Turístico recentemente inaugurado em Icoaraci, sete pessoas da mesma família ganharam contratos temporários de trabalho.

·Um motorista da Uber pediu desculpas ao repórter pelo excesso de Bom Ar no interior do veículo. 

·O produto foi usado, disse ele, "para amenizar o odor deixado por passageiro da COP30, um daqueles que prometem salvar o planeta.

·O Ministério Público do Pará promove hoje o evento “MP na COP30”, voltado à apresentação da atuação em defesa do equilíbrio climático e da agenda socioambiental

·Moradores da travessa Quintino Bocaiúva, na área do bairro do Reduto, não sabem mais a quem apelar sobre a falta de sossego proporcionada pelo bar Katedral e as boates Barka e Liv que perturbam a noite de sono de todos, com muito barulho.

·Para piorar, os frequentadores desses locais não respeitam as garagens das imediações. No final de semana, um homem, por volta das 5h, aparentando embriaguez, acabou quebrando a porta do edifício Abílio Velho e ainda tentou agredir o porteiro.

·Cerca de 50 famílias vivem acuadas em um prédio, por conta do barulho insuportável das festas e de situações geradas pelo público. 

·As mortes anuais por doenças cardiovasculares no mundo devem saltar de 20 milhões em 2025 para aproximadamente 35 milhões em 2050, um aumento de mais de 73%. 

·Pesquisadores garantem que esse crescimento exponencial está ligado ao fumo, ao explosivo consumo de alimentos ultraprocessados, ao estresse e ao sedentarismo, além do envelhecimento da população e fatores genéticos.


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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.