Por que o derretimento das geleiras e a degradação das montanhas colocam bilhões de vidas e ecossistemas em risco? Entenda os dados do mais novo relatório da ONU sobre a crise da água.
Imagine abrir a torneira e a água simplesmente não sair. Ou ver a agricultura de uma região inteira colapsar por falta de irrigação. Para muitos, isso parece distante. Mas segundo o relatório “Montanhas e Geleiras: Torres de Água”, lançado por ocasião do Ano Internacional da Preservação das Geleiras, pela ONU, esse cenário já está acontecendo e pode se intensificar dramaticamente nos próximos anos. Acesse o relatório na íntegra:
Montanhas e geleiras são conhecidas como as “torres d’água do mundo” porque fornecem até 60% da água doce utilizada por bilhões de pessoas e ecossistemas em todo o planeta. No entanto, segundo o relatório, essas regiões estão enfrentando o derretimento acelerado do gelo, alterações severas no clima e um aumento sem precedentes de atividades humanas insustentáveis.
Glaciares em risco
O estudo revela que as geleiras dos Andes perderam entre 30% e 50% de sua massa desde os anos 1980, e que cadeias como o Himalaia podem perder metade de seu volume até 2100. Na África, as geleiras do Monte Quênia e do Kilimanjaro podem desaparecer até 2040.
Além dos impactos ambientais, o relatório destaca desafios para a segurança alimentar, energia, saneamento básico e prevenção de desastres, sobretudo em áreas remotas de montanha. A degradação desses ecossistemas agrava a escassez hídrica, a insegurança alimentar e o risco de desastres, como deslizamentos e enchentes.
A UNESCO defende ações coordenadas e transnacionais para enfrentar os riscos, com foco em governança hídrica, investimentos em infraestrutura verde, integração de conhecimentos indígenas e incentivo à cooperação internacional. O documento aponta que o progresso global rumo ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, água potável e saneamento para todos, está seriamente atrasado.
O relatório alerta: o colapso das "torres d’água do mundo" não é apenas uma ameaça ambiental, é um risco existencial. “Nada do que acontece nas montanhas permanece nas montanhas”. Todos no planeta estão na rota dessas ameaças.
Escalada da escassez
O relatório mostra que a demanda por água cresce mais rapidamente em regiões de desenvolvimento acelerado, sobretudo nas cidades. E mesmo em países com grande disponibilidade de recursos, a distribuição desigual está criando zonas de escassez crítica.
Mais de 25 países enfrentam estresse hídrico extremo todos os anos, afetando cerca de 2 bilhões de pessoas. Cerca de 4 bilhões enfrentam escassez de água severa durante parte do ano. E o problema não é só quantidade: poluição, desmatamento e degradação do solo comprometem também a qualidade da água disponível.