A Polícia Federal (PF) concluiu
que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o seu filho, Carlos Bolsonaro, fizeram
parte uma organização criminosa para comandar a realização de ações de
espionagem clandestina de opositores na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A conclusão consta no relatório
final das investigações do caso "Abin Paralela", que foi finalizado
ontem, quando a PF indiciou cerca de 30 investigados, entre eles, Carlos
Bolsonaro. O sigilo do documento foi retirado hoje pelo relator do caso,
ministro Alexandre de Moraes.
O ex-presidente não foi indiciado
porque responde às acusações sobre o uso clandestino da Abin na ação penal da
trama golpista, que tramita no STF.
Conforme conclusão dos
investigadores, ficou comprovado nas investigações o uso ilegal da Abin contra
quem se opusesse ao denominado núcleo político, formado pelo ex-presidente e
seu filho.
"As evidências colecionadas
ao longo da presente investigação não deixam dúvidas sobre a existência de um
núcleo de propagação de desinformação, responsável pela produção e
desinformação direcionada contra aqueles que se opusessem de forma contrária ao
intento do núcleo político", afirmou a PF.
De acordo com as
investigações, foram monitorados ilegalmente o ministro Alexandre de
Moraes, os ex-deputados Jean Willys, Rodrigo Maia, Joyce Hasselmann, o
ex-governador de São Paulo João Dória e os jornalistas Leandro Demori e Mônica
Bergamo.
Para os investigadores, Bolsonaro
era o principal beneficiado pelas ações clandestinas.
"Jair Messias Bolsonaro
figura como o principal destinatários do produto das ações clandestinas e da
instrumentalização da Abin", diz o relatório.
A investigação também apontou o
uso ilegal do órgão para a propagação de desinformação para desacreditar o
sistema eleitoral.
"Esta estrutura utilizou-se
dos recursos da agência para atender interesses particulares de ordem política,
incluindo ações destinadas a influenciar o resultado das eleições presidenciais
de 2022".
Conforme a apuração, as ações
clandestinas foram implementadas durante a gestão do ex-diretor da Abin
Alexandre Ramagem, que é réu na ação penal da trama golpista e também foi
indiciado, por meio do uso de policiais federais e outros servidores de confiança
cedidos ao órgão e com a utilização ilegal do programa de monitoramento
Firstmile.
Atual cúpula
A PF também indiciou a atual
cúpula da Abin, formada pelo diretor-geral, Luiz Fernando Correa, sob a
acusação de tentar obstruir a investigação sobre a "Abin
Paralela". José Fernando Moraes Chuy, atual corregedor, também foi
indiciado.
"Este núcleo atuou para
dificultar as investigações sobre a ORCRIM da gestão anterior, por meio de
estratégias conjuntas com investigados, recalcitrância na entrega de provas
(logs), ações para assediar e desacreditar a ex-corregedora, omissão sobre
operações ilegais e potencial manipulação de informações e procedimentos
internos", concluiu a investigação.
Próximos passos
Após receber o relatório final da
PF, o ministro Alexandre de Moraes deve enviar o documento para apreciação da
Procuradoria-Geral da República (PGR).
Caberá à procuradoria decidir se
uma nova denúncia será protocolada contra os acusados ou se o caso será
apensado nas ações penais sobre a trama golpista ocorrida durante o governo de
Bolsonaro.
Defesa
Após as conclusões da PF, Carlos
Bolsonaro foi às redes sociais e insinuou que o indiciamento tem motivação
política.
"Alguém tinha alguma dúvida
que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já
sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!", declarou.
A Agência Brasil entrou
em contato com a Abin e aguarda retorno. O espaço está aberto para
manifestação.
Fonte: Agência Brasil
Foto: Renan Olaz/CMRJ