"Solidão invisível" afeta milhares de donas de casa silenciosamente TCM expõe rombos, irregularidades em contratos licitatórios e caos em Salinópolis Catálogo da COP30 aponta para consumo elitista, com escolha "verde" inflacionada

Sequência de crises eleva custo político de Helder Barbalho para manter controle do Estado

Impasses, embate com movimentos sociais, ações na Justiça e “árvores de ferro” abrem brecha para concorrência em 2026.

  • 1824 Visualizações
  • Por Olavo Dutra
  • 08/04/2025, 08:00
Sequência de crises eleva custo político de Helder Barbalho para manter controle do Estado
E


m um ano pautado por desacertos em sua comunicação, impasses políticos severos, crise com o movimento social e cortes de custeio que travam o funcionamento interno, o governo do Pará caminha ancorado nos investimentos externos em obras em Belém, na esteira da COP30. Os recursos vieram do Orçamento Geral da União, do BNDES e de Itaipu.

Nos últimos meses, governador tem acumulado perdas da popularidade no caminho que traçou para as próximas eleições/Fotos: Divulgação.
Mesmo surfando na onda dos investimentos de cerca de R$ 4,7 bilhões em Belém, o governador tem visto sua popularidade regredir. O custo político de manter a unidade em um cenário de perda de densidade de imagem aumenta, agravado pela pouca altitude alcançada por sua preferida à sucessão, Hana Ghassan, que segue na rabeira da viabilidade qualificada. Não é por falta de mídia e visibilidade. O que trava Hana são o seu parco carisma, empatia escassa e inexperiência em lidar com a baixa política, força motriz dos governos por essas paragens.

Os investimentos do governo federal, nos quais, inclusive, o prefeito de Belém tenta pegar carona, foram destinados a obras de infraestrutura, mobilidade, saneamento, revitalização do centro histórico e modernização de terminais hidroviários. Estaria tudo bem não fosse a “bateção” de cabeça do comando interno. O último episódio foi a inspiração da “árvore de ferro” na Nova Doca, em vias de revitalização.

Ao invés de plantar árvores de verdade, o governo instalou árvores fake: estruturas em formato de árvores que chamou de "jardins suspensos".

A estrutura seria estranha na Amazônia em qualquer momento, mas se torna ainda mais surreal quando o empreendimento se apresenta como uma das obras para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas m a COP30, em novembro deste ano.

Segundo a informação oficial, plantas naturais e ornamentais foram fixadas em estrutura de vergalhões metálicos que seriam descartados. "O projeto inclui o plantio de árvores nas áreas adequadas e a instalação de jardins suspensos", diz o governo.

Até a COP serão colocadas 180 unidades desses jardins em duas obras de parques lineares, sendo 80 na Nova Doca e outras 100 na avenida Almirante Tamandaré. O valor do investimento não foi informado.

O sistema teria sido inspirado em modelos usados em Singapura e foi nomeado inicialmente de "árvores artificiais" pelo próprio governo. No entanto, a iniciativa resultou em uma avalanche de críticas nas redes sociais, sobretudo de ambientalistas, paisagistas e até mesmo entre a população civil.

Entrou no vácuo

Mas as “árvores de ferro” não são o único problema de Helder Barbalho. O sobrevivente Daniel Santos e suas incursões pelo interior prometem dar ainda mais dor de cabeça ao governador.

O prefeito de Ananindeua acaba de assumir o controle do PSB no Pará. A direção nacional não renovou a Comissão Provisória do PSB no Estado - espécie de feudo da família Andrade no Pará, passando de pai para filho - e isso atingiu em cheio o vice-prefeito de Belém, Cássio Andrade, se encaixando nos planos de Daniel Santos de concorrer ao governo estadual. Sua filiação e reeleição em Ananindeua foram passos estratégicos para consolidar sua candidatura ao governo em 2026.

Efeito colateral

Como num jogo de vídeogame, Helder faz com que o caminho de Daniel nunca esteja livre de obstáculos. Mas Daniel contra-ataca. O Procurador-Geral de Justiça, Cezar Mattar, agora enfrenta uma reclamação no Conselho Nacional do Ministério Público que pode resultar em seu afastamento. A acusação de plágio em uma ação contra a Secretaria de Saúde de Ananindeua é uma manobra política que enfraquece o governo, tenha ele ou não participação na “marmelada”. O vereador Vanderray Lima, presidente da Câmara de Ananindeua e aliado do prefeito, argumenta que o pedido de intervenção na saúde de seu município é frágil e atende a interesses do grupo político do governador, que vê Daniel como um desafeto.

A PGE acusa de superfaturamento de insumos hospitalares o Hospital Santa Maria, do qual Daniel já foi sócio. Em resposta, Daniel usou suas redes sociais para rebater que as compras são feitas com base na tabela nacional de preços e que o descredenciamento do hospital pelo governo é uma retaliação política. Ele defende que os serviços prestados foram devidamente verificados e pagos pelo Estado, e critica a perseguição ao hospital, que considera injusta e prejudicial à população.

Ampliação das bases

Enquanto a peleja judicial segue, Daniel continua a fortalecer sua base política. Em Marabá, participou de eventos e reuniões, buscando apoio para sua candidatura. Compareceu à entrega de um título na Câmara de Vereadores e encontros com líderes políticos locais.

A disputa entre Daniel Santos e Helder Barbalho é um exemplo clássico de como a política pode ser um jogo de xadrez, onde cada movimento é vital. Daniel busca consolidar sua candidatura ao governo, enquanto Helder tenta minar suas chances, utilizando todos os recursos à sua disposição.

A tensão entre os dois líderes é palpável e se reflete em diversas frentes. A tentativa de intervenção na saúde de Ananindeua, por exemplo, é uma tentativa óbvia de desestabilizar a administração de Daniel e enfraquecer sua imagem pública. A acusação de plágio contra Cezar Mattar, que está na lista para uma vaga de desembargador no TJE, é um revide que adiciona uma camada de complexidade à situação, sugerindo que interesses pessoais e políticos estão profundamente entrelaçados às estruturas estatais de controle no Pará.

Campo de batalha

A questão do Hospital Santa Maria destaca como a política pode impactar diretamente os serviços públicos e influenciar a percepção da população. Daniel, em seu vídeo, busca desviar a atenção das acusações de superfaturamento, enfatizando a transparência e a legalidade dos processos de compra. Ele critica a máquina estatal e midiática que, segundo ele, está sendo usada para persegui-lo e prejudicar o hospital, que tem um histórico de serviços prestados à comunidade.

A narrativa que se desenrola é de uma batalha política intensa, onde cada movimento é calculado para influenciar o cenário eleitoral de 2026. Daniel Santos está determinado a consolidar sua candidatura ao governo, enquanto Helder Barbalho utiliza todos os recursos à sua disposição para minar suas chances. A política no Pará é um campo de batalha onde alianças são formadas e desfeitas, e onde cada ação tem o potencial de mudar o curso dos eventos futuros.

Com a aproximação das eleições, a disputa entre Daniel e Helder promete se intensificar ainda mais. Ambos os lados estão se preparando para uma campanha acirrada, onde cada detalhe será escrutinado e cada erro será explorado pelo adversário.

As “árvores de ferro” prometem dar frutos em 2026. 

Papo Reto

·Pronto, ministra Marina Silva (foto): a Petrobras já concluiu as obras do "hospital dos bichos", exigido para licença da Margem Equatorial.

·A campanha nacional de vacinação contra a gripe começou ontem, com meta de imunizar 90% dos grupos prioritários: crianças de seis meses a menores de seis anos, idosos e gestantes.

·O Brasil não tem estatísticas oficiais sobre pessoas com espectro de autismo. Dados disponíveis apontam o número de 2 milhões, mas autoridades médicas estimam o dobro, cerca de 4 milhões.

·Frequentes denúncias de empréstimos fraudulentos, desde 2020, expõem as bizarras fragilidades na fiscalização do Banco Central, colocando em risco a integridade do sistema financeiro nacional.

·Não à toa, a falta de monitoramento dos recursos oriundos de planos de previdência de empresas públicas escancarou as portas para a corrupção e irregularidades em bancos, onde banqueiros emergem com crescimentos inexplicáveis e nunca auditados.

·Depois dos casos do C6 e do Banco PAN, que protagonizaram esquemas de empréstimos fraudulentos entre 2020 e 2022, atingindo milhões de aposentados vulneráveis do INSS, a bola da vez é o Banco Máster, que já levanta preocupações quanto aos impactos negativos por vir sobre o mercado financeiro.

· Brasileiro gosta mesmo de dinheiro, principalmente quando é público. Boa parte dos recursos sociais destinados aos programas como o Bolsa Família, Seguro Defeso e agora o Pé-de-meia são desviados através de orquestrações bem engendradas.

·Com as tais emendas parlamentares, as práticas são as mesmas e constantemente espocam denúncias de malversação do combalido cofre da União. Alguns prefeitos fazem piada, alegando que o Brasil é o País dos 20% institucionalizados.

Mais matérias OLAVO DUTRA

img
Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.