O “tarifaço” promovido pelo presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, contra parceiros comerciais é uma política ineficaz até mesmo
para os americanos, de acordo com o professor e economista da Universidade de
Harvard Dani Rodrik. Segundo ele, as sucessivas taxações sobre produtos
que chegam aos Estados Unidos, uma das principais políticas externas de
Trump, não servem para incentivar a economia americana, tampouco para garantir
melhores empregos para os próprios americanos.
"Há uma boa chance de que, no final das contas, isso
seja autodestrutivo", diz Dani Rodrik.
Rodrik é ganhador de inúmeros prêmios e, atualmente, é
codiretor do Programa Reimagining the Economy, na Kennedy
School, e da rede Economics for Inclusive Prosperity. Entre 2021 e
2023, foi presidente da Associação Econômica Internacional, na qual ajudou a
fundar a iniciativa Mulheres na Liderança em Economia.
Nesta semana, o economista participou do seminário
Globalização, Desenvolvimento e Democracia, realizado pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Open Society Foundations,
na sede do BNDES, no Rio de Janeiro.
Dani Rodrik fez duras críticas à política adotada por Trump.
Segundo ele, os objetivos alegados pelo presidente, como a reconstrução da
indústria americana e o fortalecimento da classe média, não serão alcançados
com tarifas de importação.
“O problema com a América de Trump não é o nacionalismo
econômico, é que Trump não está adotando políticas que sejam nacionalistas o
suficiente. Na verdade, não apenas não está claro de quem é o interesse, mas
posso dizer que não está servindo ao interesse econômico americano” afirma.
Os produtos do Brasil estão entre os alvos de
Trump. No
último dia 6, entrou em vigor a tarifa de 50% imposta sobre parte das
exportações brasileiras para o país norte-americano. Segundo o governo
brasileiro, a medida, assinada
no dia 30 de julho, afeta 35,9% das mercadorias enviadas ao mercado
norte-americano, o que representa 4% das exportações do Brasil.
Cerca
de 700 produtos foram incluídos em uma lista de exceções que não sofrerão a
sobretaxa. Para reduzir o impacto aos demais produtores nacionais, foi
divulgado o Plano
Brasil Soberano, no último dia 13.
Dani Rodrik explica que, ao taxar os produtos, pode-se até
aumentar a arrecadação ou mesmo o lucro das empresas americanas, mas isso
não necessariamente será revertido em empregos de qualidade e bem remunerados
aos americanos ─ o que poderia fazer com que a qualidade de vida da população,
sobretudo da classe média, melhorasse.
“As tarifas apenas aumentam a lucratividade de certos
segmentos da manufatura. Agora, quando algumas empresas se tornam mais
lucrativas, elas necessariamente inovam mais? Elas necessariamente investem
mais? Elas investem mais em seus trabalhadores? Elas necessariamente contratam
mais trabalhadores? Elas tentam ser mais competitivas? Todas essas coisas boas
não estão diretamente ligadas ao fato de que, agora, elas estão ganhando mais
dinheiro, porque você também pode reverter os lucros maiores aos gerentes ou
acionistas”, diz.
Para ele, as tarifas, quando adotadas pelos países, devem
ser medidas temporárias e devem ser associadas a ações internas que estimulem a
economia.
“As tarifas são um expediente temporário, um escudo
temporário, mas não são o principal instrumento pelo qual você atinge esses
objetivos, porque, para isso, não são muito eficazes”, diz. “Os impostos podem
ter um papel a desempenhar, mas o papel que desempenham seria, na melhor das
hipóteses, um complemento, sempre que você tiver uma estratégia doméstica ─
seja para proteger certos setores ou políticas sociais, seja para promover a
inovação por meio de políticas industriais ou por meio de mais empregos e bons
empregos”, acrescenta.
O economista cita a China como um exemplo de modelo de
crescimento. “A China tem seguido políticas que promovem seus próprios
interesses econômicos nacionais acima de tudo. Mas, como resultado, essas
políticas foram, em sua maioria, bem planejadas em termos de crescimento
econômico”, defende.
Investimentos no Brasil
Trump também foi criticado pelo presidente do Conselho da
Open Society, Alex Soros, que também participou do seminário. A Open Society é
uma rede internacional de filantropia fundada por George Soros, pai de Alex.
Soros comentou o fechamento da Usaid, a Agência dos Estados
Unidos para o Desenvolvimento Internacional, que era a principal agência de
ajuda externa do governo dos EUA. Segundo ele, as ações humanitárias
sofreram “muitos dos cortes mais dolorosos. Agora se sabe que pessoas morreram
ao redor do mundo por conta dos cortes da Usaid”, diz.
“Falando como um americano, isso não é um interesse
americano”, disse Alex Soros.
Na quarta-feira (20), no dia do evento, a Open Society
Foudations anunciou que apoiará iniciativas na América Latina voltadas
para populações historicamente marginalizadas, com foco especial em povos
indígenas, comunidades afrodescendentes e mulheres. A estratégia terá Brasil,
Colômbia e México como foco principal.
A intenção é apoiar, com um plano de investimento com
duração de oito anos, organizações da sociedade civil e parcerias com governos
para criar conjuntamente políticas públicas que atendam de forma direta às
necessidades dessas populações, promovendo acesso a serviços, saúde, meio
ambiente saudável, empregos de qualidade e segurança.
Para a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello,
esses cortes feitos por Trump impactam principalmente os países pobres.
"Nós não temos como enfrentar as desigualdades no mundo
de forma isolada, muito menos os países em desenvolvimento e países
pobres", diz. "Eu acho que é muito importante que a gente tenha uma
reação dos atores comprometidos com a democracia, que não se fechem no olhar
somente da agenda econômica e comercial, mas que passem a olhar o que está em
risco de fato", defende.
Fonte: Agência Brasil
Foto: Reprodução