Um ministério de Lula para Beto Faro pagar acordo com Helder de levar Josenir ao Senado

Preso em 2004 na Operação Faroeste pelo atual Secretário de Segurança Pública do Pará, Ualame Machado, Beto Faro deve ceder a vaga a Josenir Nascimento no Senado da República.

18/03/2025, 11:00
Um ministério de Lula para Beto Faro pagar acordo com Helder de levar Josenir ao Senado
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s vezes parece que o Brasil não passa nem no crivo de um especialista, para lembrar a frase de Tom Jobim de que este Brasil varonil não é para principiantes. O impossível tem ocorrido com certa frequência na Pátria amada. As irresponsabilidades têm crescido de tamanha forma, seja na condução política, seja no mercado de peixes, que as tornou o Congresso Nacional, com piabas, tubarões e trairões na pedra, seja na progressão de uma política tóxica e corrosiva para a democracia, seja para torcer pelo Oscar, que foi o mais próximo de um gozo que os brasileiros ensaiaram em 2025.

Atual senador do PT, Beto Faro foi preso e algemado em 2004 na Operação Faroeste pelo então agente federal Ualame Machado, em Manaus/ Fotos: Divulgação.
Não é apenas o calor abrasador que perturba os brasileiros, que se depara frequentemente com contradições que testam a ética de homens e mulheres públicos e, via de regra, eles e elas ficam para segunda época.

Ministro de Helder

Por exemplo: circula em blogs e nos corredores de Belém a informação de uma possível indicação de Beto Faro, ex-deputado federal e agora senador pelo PT, para assumir o cargo de Ministro do Desenvolvimento Agrário, justamente a pasta responsável pelas ações de reforma agrária, regularização fundiária, regularização de territórios quilombolas, cadastro de imóveis rurais e educação do campo.

O fato chamou a atenção e gerou um debate acalorado nas redes sociais. A proposta é especialmente polêmica, considerando o histórico de Beto Faro, que inclui acusações de corrupção e atividades ilícitas relacionadas à grilagem de terras, quando ele ainda respondia pelo codinome de Beto da Fetagri. 

O delegado Ualame

Recordando. Em dezembro de 2004, a Polícia Federal desencadeou a Operação Faroeste, uma investigação que tinha como alvo um robusto esquema de grilagem de terras públicas no oeste do Pará. Entre os 18 detidos estavam servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra, incluindo o próprio José Roberto de Oliveira Faro, que foi conduzido algemado para a carceragem pelo hoje secretário de Segurança do Pará, Ualame Fialho Machado, então delegado da PF. A operação expôs uma rede complexa de formação de quadrilha, corrupção e violação de leis sobre propriedade pública, manchando, sem dúvida, a reputação do Incra, que é responsável por regulamentar a reforma agrária e proteger os direitos dos trabalhadores rurais, mas também da Fetagri, cujo histórico de lutas é inquestionável.

Endemia nacional

Os detalhes das prisões, publicados na “Folha de S. Paulo”, não são meras estatísticas policiais; são representações de um problema endêmico no Brasil, onde a grilagem de terras é uma das principais causas de conflitos fundiários. A acusação de que Beto Faro teria facilitado negociações ilegais sobre terras da União nunca foram encaradas de frente por ele. Esse histórico não só compromete a imagem pessoal e pública de Faro, mas também coloca em xeque sua pretensão a um cargo que deveria estar alinhado com os princípios de justiça social, sustentabilidade e proteção dos direitos dos agricultores.

Após ser preso na operação, em 2004, Faro obteve um habeas corpus e, posteriormente, seu caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), devido ao foro privilegiado conquistado ao assumir um mandato eletivo. Em 2018, a ministra Rosa Weber decidiu pelo encaminhamento das investigações à Justiça do Pará, pois os alegados crimes ocorreram antes de ele assumir a posição de parlamentar. Desde então, o processo dorme em uma gaveta funda no TJE, o que indica um futuro incerto, com ausência plena de transparência pública.

É claro que a trajetória política de Faro não se limitou a escândalos de corrupção. Ele continuou a ascender na política e, atualmente, sua aventada nomeação para ministro, por indicação do governador Helder Barbalho, representa uma ironia digna de nota.

A expressão “a raposa cuidar do galinheiro” parece ter sido criada para essa ocasião.

Catapulta estatal

Em 2022, Beto Faro foi eleito senador pelo governador Helder Barbalho. As pesquisas da época mostravam que, sozinho, o PT não teria votos suficientes para eleger um senador. Até o meio do ano, Faro figurava nas pesquisas com menos de 8% de intenções de votos. O acordo com Helder envolveu um terceiro nome, do empresário Josenir Nascimento, historicamente ligado à família Barbalho e ao MDB. Josenir filiou-se ao PT na undécima hora para ser o primeiro suplente de Faro. Movimentação de Helder para agasalhar Faro em um ministério não tem por objetivo ajudar Beto, mas catapultar Josenir, que não se elegeria vereador nem em Castelo dos Sonhos, à posição de senador da República. No cargo, Josenir seria candidato a reeleição em 2026, ficando Beto como vice numa composição MDB-PT, tendo como candidata ao governo Hana Ghassan. Chicão Melo, plano B de Barbalho, seguiria na Assembleia Legislativa, lugar onde se acomodou confortavelmente.

Reações à vista

Beto no Desenvolvimento Agrário tende a ser o pivô da reação do movimento social independente, especialmente das Ongs, da ala mais à esquerda do Psol e do MST. Afinal, um ministério que deveria estimular ações de reforma agrária, regularização fundiária e educação, se veria agora nas mãos de um ex-presidente da Fetagri que não deixou saudades, a não ser na carceragem da Polícia Federal.

Papo Reto 

·Muito se falou, brincando, que o rebaixamento do Rancho Não Posso Me Amofiná teria sido “praga” dos funcionários dos Supermercados Líder à escola que homenageou o fundador do grupo Oscar Rodrigues (foto).

·Mas os empregados têm lá suas razões: muita gente não foi trabalhar no final de semana passado porque o grupo não pagou a chamada quinzena dos trabalhadores, e que só ocorreria na segunda-feira, 17

·Todos ficaram muito chateados e sem dinheiro. É o segundo mês consecutivo que o grupo paga no dia 17 do mês. “O povo está mordido”, disse uma fonte.

·Aliás, na concentração do Rancho, dizia-se que o presidente da escola entrou negativamente para a história como o único que teve a façanha de “conquistar o rebaixamento” da campeoníssima escola.

·Uma demonstração como Belém está rapidamente perdendo o posto de cidade amigável para cidades vizinhas na Grande Belém, e não só para Ananindeua.

·Sabe-se agora os ônibus do transporte coletivo que circulam em Barcarena passaram a aceitar Pix para pagamento do bilhete de passagem. 

·Há quem garanta que a operação deflagrada ontem pela PF para combater fraudes contra o INSS em São Luís, Maranhão, pode ter desdobramentos no Pará.

·Faz sentido. Por estas plagas já há investigação de suposto esquema de reativação fraudulenta de benefícios previdenciários, com prejuízo colossal aos cofres públicos.

·Outra operação da PF, deflagrada para combater o garimpo ilegal de organizações criminosas no rio Madeira, Amazonas, acabou libertando 25 trabalhadores que atuavam em situação degradante, análoga à escravidão.

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