Com dívidas a pagar a um custo cada vez mais alto a reboque da Selic, elas buscam recursos para manter a operação rodando
Rio de Janeiro, RJ - Em meio à escalada dos juros no Brasil - a Taxa Selic está em 15% ao ano, o maior patamar em 19 anos -, a busca por crédito por micro, pequenas e médias empresas não para de crescer. Mas o aumento trouxe um efeito colateral: a inadimplência atingiu em maio o maior patamar da série do Banco Central (BC).
Em maio, segundo dados do BC, esses negócios somaram R$ 1,179 bilhão em empréstimos, aumento de 11,6% em 12 meses. É financiamento usado principalmente como capital de giro. Com dívidas a pagar a um custo cada vez mais alto a reboque da taxa de juros, essas empresas buscam recursos para manter a operação rodando.
Nesse cenário, a inadimplência está em alta, enquanto avança o número desses negócios em recuperação judicial - em abril, eles representaram perto de 90% dos pedidos de proteção apresentados ao Judiciário. A inflação ainda alta, que reduz o consumo, também dificulta as vendas.
“A procura maior por financiamento é reflexo da dificuldade das empresas nesse ambiente de juros elevados. Estão buscando mais crédito para complementar o faturamento menor, pois as vendas estão sendo comprometidas pelos juros, que afetam o crescimento econômico. E isso leva as empresas a uma maior necessidade de capital de giro”, avalia Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
Com IOF, impacto seria maior
O aperto no caixa poderia ser maior, caso o decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) tivesse entrado em vigor, já que o IOF incide toda vez que a empresa faz empréstimo para capital de giro ou antecipação de recebíveis. O tema será alvo de uma reunião de conciliação entre Executivo e Legislativo determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Qualquer aumento de imposto num ambiente já extremamente tributado encarece o crédito e pesa na capacidade das empresas de pagar dívidas”, diz Oliveira. Ele destaca que, junto com a Selic, sobe o custo de crédito de todas as linhas, como as de capital de giro e desconto de duplicatas.
“Apesar do empréstimo estar mais caro, o crédito é a forma que o empreendedor de menor porte tem de manter a rotina financeira. Ele recorre ao crédito para ter capital de giro”, diz Camila Abdelmalack, economista da Serasa Experian.
A busca por crédito pelas empresas no país chegou a subir cerca de 13% em fevereiro ante igual mês de 2024, segundo a consultoria. Essa alta foi impulsionada pela procura vinda de MPEs. Em abril, a variação anual foi de 6,3%. Do total de empresas no país, diz a economista, mais de 90% são micro, pequenas e médias.
Além da alta no volume de crédito a micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), os dados do BC apontam que a inadimplência de empresas deste porte foi de 4,5% em janeiro até alcançar 5,1% em maio, o maior nível da série histórica.
Pela classificação do BC, PMEs são aquelas com receita bruta anual de até R$ 300 milhões ou com ativo total de até R$ 240 milhões.
Diante do encarecimento do crédito, afirma Camila, da Serasa, os pequenos empreendedores têm recorrido a operações de antecipação de recebíveis para acessar recursos. Ela chama atenção para o efeito do nível recorde de inadimplência. Segundo dados de março, de 7,3 milhões de CNPJs negativados, 6,9 milhões são de MPMEs.
O cenário de juros altos, afirma Nelson Andreatta, fundador da Eats For You, um aplicativo de alimentação para empresas, afeta diretamente os planos de crescimento.
“Os investimentos previstos para 2024 e 2025 foram postergados para 2026 e 2027. Se o crédito convencional estivesse mais acessível, nossos investimentos em novos negócios já estariam ativos há um ano. Com crédito limitado e caro, tivemos que reestruturar a companhia, focando na autossuficiência e no crescimento com recursos próprios no curto e médio prazo.”
Andreatta lembra que o ciclo de alta dos juros gerou uma diminuição maior do apetite dos investidores.
“É inviável investir em inovação dependendo de recursos externos nas condições que temos hoje.”
A cervejaria Hocus Pocus analisa se vai recorrer ao crédito ou buscar aporte de um investidor para expandir operações, segundo Pedro Butelli, diretor executivo de Marketing da companhia. A meta é elevar a capacidade de produção de cerca de 120 mil litros para 200 mil litros mensais.
“A fábrica chegou à capacidade. Vamos precisar de mais dinheiro. Estamos indo bem, batendo metas e tendo lucratividade. Mas a gente queima caixa se ficamos abaixo das metas. E, subindo ainda mais a Selic, fica ainda mais difícil obter financiamento. É uma corda no pescoço”, diz.
O Sebrae atua como avalista a micro e pequenas empresas na contratação de crédito. Viabilizou R$ 3,5 bilhões em empréstimos a mais de 50 mil empreendedores entre 2023 e 2024, com previsão de alcançar R$ 12 bilhões este ano, diz Décio Lima, presidente do Sebrae.
Um dos motores de crescimento está no lançamento do Fundo Garantidor BNDES-Sebrae (FGBS), com operação compartilhada pelas duas instituições. O Sebrae já tem diversos bancos parceiros na concessão de crédito avalizado a empreendedores.
“O crédito com aval ajuda na queda da inadimplência, tira o risco e enfrenta a Selic”, diz Lima.
Lena Matos, sócia da RR Adventure, agência de turismo receptivo em Boa Vista (RR), está entre os negócios que tomaram crédito com aval do Sebrae em 2024:
“Tomamos R$ 65 mil em crédito direto no banco. Com o aval, o juro fica mais baixo. Preservamos caixa para uma emergência e usamos como capital de giro e para a renovação constante de equipamentos.”
Fundo para PMEs
O BNDES reflete a alta demanda por financiamento. No ano passado, aprovou R$ 92,4 bilhões em crédito para MPMEs, o maior nível desde 2013, em valores nominais — e um aumento de 47% ante 2023. Mais de 203 mil negócios foram apoiados em 2024.
Desses R$ 92,4 bilhões, R$ 52,2 bilhões foram para médias empresas, R$ 27,5 bilhões para pequenas e R$ 12,7 bilhões a microempresas, diz Maria Fernanda Ramos Coelho, diretora de Crédito Digital para MPMEs do banco. A meta para 2025 é manter o mesmo patamar do último ano.
“Estudamos a criação de um fundo para pequenas e médias empresas. O objetivo é garantir acesso ao crédito.”
Há mais R$ 63,9 bilhões em operações de MPMEs por agentes financeiros com garantias de fundos garantidores, somando R$ 156,3 bilhões em oferta de crédito ao segmento.
Foto: Freepik
(Com O Globo)
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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