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PASSANDO O PANO

Emendas suspeitas colocam cerca de 100 parlamentares sob a lupa de Flávio Dino

Investigação lança luz sobre o uso de emendas parlamentares e expõe um sistema que naturalizou a fronteira entre o público e o privado

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  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 30/12/2025, 17:00
Emendas suspeitas colocam cerca de 100 parlamentares sob a lupa de Flávio Dino
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specula-se que cerca de cem parlamentares estejam sob a lupa do ministro Flávio Dino, no âmbito das investigações que envolvem o uso - e o desvio de finalidade - das chamadas emendas parlamentares. Especula-se. Porque, quando o assunto envolve o próprio Congresso Nacional, a regra não é a transparência, mas o silêncio.

 

Uso de emendas, que deveria ser exceção, virou regra e o que era instrumento, virou moeda, daí o volume de denúncias na mesa do STF/Fotos: Agência Câmara.

Não se trata de um caso isolado, nem de um episódio pontual. O que vem à tona é mais um capítulo do já conhecido escândalo à brasileira: amplo, difuso, de difícil individualização de responsabilidades e, justamente por isso, conveniente para quem prefere empurrar o problema para debaixo do tapete institucional.

As emendas, criadas para garantir capilaridade orçamentária e atender demandas regionais legítimas, foram gradualmente capturadas por um modelo de poder que mistura interesses eleitorais, alianças espúrias e mecanismos pouco republicanos de controle do orçamento. O que deveria ser exceção virou regra; o que era instrumento virou moeda.

No atual estágio da política nacional, o espanto não está mais na denúncia, mas na naturalização do escândalo. Quando se fala em dezenas - ou centenas - de parlamentares sob suspeita, o debate público esfria. A conta é simples: se muitos estão envolvidos, ninguém quer aprofundar. O barulho morre antes de chegar ao plenário.

“Cautela excessiva”

O Congresso, que deveria ser o primeiro interessado em depurar seus quadros e defender a lisura do processo legislativo, reage com cautela excessiva, discursos genéricos e uma coreografia conhecida: respeito às instituições, defesa do devido processo legal e nenhuma palavra sobre responsabilidades políticas.

Nesse ambiente, a política deixa de ser vocação pública e passa a ser vista como carreira de risco moral. Não por acaso, quando comparada a democracias minimamente civilizadas, a realidade brasileira soa como advertência. Um pai atento aos seus deveres dificilmente estimularia o filho a ingressar nesse universo - não por desprezo à política, mas por respeito à ética.

A distorção é profunda. O sistema premia quem opera nas zonas cinzentas, penaliza quem insiste em regras claras e transforma o mandato em ativo negociável. O orçamento público, que deveria refletir planejamento e prioridade social, acaba fragmentado em feudos, balcões e rotas paralelas.

Custo vem depois

Mal comparado, entrar na política brasileira tem se assemelhado a debutar no mercado das drogas: há promessa de ascensão rápida, sensação de poder imediato e ganhos fáceis no curto prazo. O custo - institucional, moral e, muitas vezes, penal - costuma vir depois. E quase nunca recai sobre todos.

O problema, portanto, não é apenas quem está sob investigação, mas o modelo que permite que tantos estejam. Enquanto o País tratar escândalos estruturais como acidentes de percurso, a política seguirá afastando os melhores e protegendo os piores. E o silêncio seguirá sendo o mais eficiente dos acordos.

Papo Reto

Depois de três episódios de risco em voos oficiais neste mandato, o presidente Lula (foto) estuda a compra de um novo avião presidencial pela bagatela de R$ 1,4 bilhão a R$ 2 bilhões, segundo cotações de mercado.

• O valor, por si só, no entanto, é o de menos. Como se explica um gasto desses em pleno ano eleitoral? 

Aliados têm desaconselhado a troca no momento, mas, ainda assim, o Ministério da Defesa entregará o orçamento nas mãos do petista no início de 2026. 

•O Conselho da Justiça Federal já autorizou a liberação de R$ 2,3 bilhões em atrasados a aposentados, pensionistas e outros beneficiários da Previdência Social. 

O Diário Oficial da União publicou o extrato do empréstimo de R$12 bilhões - com aval do Tesouro -, para a tal "reestruturação" dos Correios.

•O fato chocante é que os mesmos dirigentes que levaram a estatal à insolvência serão os mesmos que a tentarão tirá-la do buraco.

O Ministério Público da Bahia ajuizou uma ação civil pública contra a cantora Claudia Leitte em que pede indenização de R$ 2 milhões por dano moral coletivo sob a acusação de “discriminação religiosa”.

•A ação tem como base a alteração da letra da música “Caranguejo”, na qual a artista substituiu o verso “saudando a rainha Iemanjá” por “eu canto meu rei Yeshua”.

Para o MP, a mudança atingiu diretamente religiões de matriz africana.

•O relator da CPMI do INSS, deputado Alfredo Gaspar, pediu novamente a convocação de Lulinha para explicações sobre um suposto envolvimento no caso.

No início do mês, a comissão impediu a convocação devido à forte articulação da base do governo.

•Grevistas dos Correios devem manter 80% do efetivo em atividade em cada unidade da estatal, diante do risco de prejuízo à população e do agravamento da crise financeira da empresa. A ordem foi do Tribunal Superior do Trabalho.


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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.