Grupo Liberal "apaga" expoentes de salão de arte e perde expressão nacional na edição deste ano

Versão 2024 não terá coordenação de Roberta Maiorana, nem curadoria do Paulo Herkenhoff, nem artistas nacionais.

09/07/2024 12:00
Grupo Liberal
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reportagem que ocupou a capa inteira do caderno de domingo de “O Liberal” confirma mais um indício do ‘cisma’ entre os herdeiros da família Maiorana, dona do jornal. Como é tradicional nesta época do ano, a reportagem mostra o início dos preparativos para o Salão Arte Pará 2024, promovido pelo grupo, mas sem a coordenação de Roberta Maiorana, que estava no cargo havia mais de 40 anos.  


Capa do caderno de Cultura de domingo: supressão de nomes antes considerados importantes no evento/Fotos: Divulgação.

 

A ausência de Roberta à frente do Salão se junta ao pequeno detalhe, de março deste ano, quando o nome de Rosângela Maiorana, que constava como vice-presidente do grupo, desapareceu do expediente dos jornais “O Liberal” e “Amazônia”.

 

Os dois fatos tendem a confirmar o que se comenta, à boca pequena, nos corredores da imponente sede no bairro do Marco e até fora: que Ronaldo Maiorana, presidente, teria afastado as irmãs Rosângela (Loloca), Ângela e Roberta das diretorias do grupo, mantendo apenas Rose, diretora Comercial e, de um tempo para cá, artista plástica da família.

 

Indícios nas redes

 

Mais indícios podem ser acompanhados nas redes sociais. Quem sabe - ou desconfia - dos problemas pelos quais o grupo está passando vê com outros olhos as postagens de Roberta e de Ângela, quando falam sobre “ingratidão” ou sobre “filhos que não ligam para a mãe”, especialmente no Instagram.

 

Mais recentemente, a irmã mais velha do clã, Rosana Maiorana, que não faz parte do grupo há muito tempo, mas ainda é da família, “abriu o verbo” e falou com todas as letras sobre detalhes ácidos envolvendo os irmãos Ronaldo e Romulo Jr., o Rominho. Essas falas ficam meio que “ao vento”, porque as irmãs usam muito os stories do Instagram, aqueles que duram somente 24 horas no ar, mas há sempre alguém que vê, que lê e que até printa os vídeos.

 

Salão Arte Pará

 

O Salão Arte Pará foi criado pelo empresário e jornalista Romulo Maiorana no início da década de 1980 e é gerenciado pela Fundação Romulo Maiorana. A primeira diretora-executiva foi Sônia Renda - também esquecida na reportagem de domingo -, amiga de muitos anos da família, que passou a ser auxiliada por Roberta, recém-saída da adolescência. As primeiras exposições do Salão foram realizadas ainda no antigo prédio do jornal, na rua Gaspar Viana, Centro de Belém.

 

Com a morte de Sônia Renda e de Romulo Maiorana, o  pai, no final dos anos 1980, Roberta assumiu a presidência da Fundação e a coordenação do Salão e convidou para auxiliá-la na curadoria o capixaba Paulo Herkenhoff, curador e crítico de arte brasileiro que mora no Rio de Janeiro. Mas com as disputas internas no grupo, Roberta, assim como Herkenhoff, estão fora da organização do evento deste ano.  

 

Alcance nacional

 

O Salão Arte Pará, desde o início, tinha um momento em que os artistas inscreviam suas obras e passavam por um julgamento, que terminava por premiar as melhores obras, e sempre havia também artistas convidados. No início, o Salão era aberto somente para artistas paraenses, mas, com o crescimento, alcançou nível nacional.

 

O Salão também deixou o espaço do jornal “O Liberal”, que era um improvisado, e passou a ocupar as galerias de museus da cidade, como o Museu do Estado do Pará.

 

Em 2022, o conselho curador da Fundação e do Salão decidiu que o evento, na sua edição de 40 anos, passaria a ser bianual. E foi assim que, há dois anos, houve outra mudança, e o Salão foi julgado, pela primeira vez, em outro Estado, no Rio de Janeiro, em uma das salas do Museu Nacional de Belas Artes, que estava e continua fechado para reformas, mas foi aberto apenas para essa seleção - uma mostra do prestígio de Paulo Herkenhoff e de Roberta Maiorana.

 

Edição 2024

 

A edição de 2024 começa com uma mudança clara: a curadoria será da artista plástica paraense Nina Matos, mas as atividades educacionais do salão continuam com o artista plástico, também paraense, Emanuel Franco.

 

Houve mudança também na forma como o Salão será montado. Se antes havia um edital e regulamento divulgados pelo Brasil inteiro e artistas e obras eram inscritos e depois julgados, este ano, o evento terá o formato de uma mostra com a participação de 20 artistas paraenses convidados e uma sala especial para um artista que será homenageado, mas ainda não teve o nome divulgado.

 

Perda de alcance

 

Com o Salão se voltando apenas aos artistas paraenses, o alcance nacional que o evento já tinha alcançado poderá ficar prejudicado. Nada contra os locais, que são ótimos artistas, mas o Salão perde muito do intercâmbio entre as artes que já promovia.

 

Uma mostra desse alcance nacional é visível quando exposições são feitas em centros como Rio de Janeiro e São Paulo, que têm a curadoria de Paulo Herkenhoff, e sempre há a presença de artistas paraenses como Emmanuel Nassar, Paula Sampaio, Elza Lima, Guy Veloso, Dirceu Maués, Nay Jinkings, Walda Marques, Klinger Carvalho e outros mais. Herkenhoff é um grande estudioso e entusiasta da fotografia e das artes do Pará.

 

Roberta, do seu lado, é especialista em curadoria de exposições e mora em São Paulo, onde tem contato mais imediato com o que se produz no Brasil.

 

Salão longevo

 

Nina Matos e Emanuel Franco são ótimos no que fazem. Não há dúvidas sobre isso. Mas o Salão Arte Pará, como frisou Herkenhoff há dois anos, “o único mantido por uma única família e tão longevo no mercado das artes”, perde o alcance nacional conquistado quando se fecha apenas aos artistas locais.

 

Segundo a reportagem de domingo, 7, o Salão Arte Pará continua sendo apresentado pelo Instituto Cultural Vale e as mostras estarão em cartaz nas galerias do Museu de Arte Contemporânea Casa das Onze Janelas, na Cidade Velha, no próximo mês de setembro próximo.

 

Papo Reto

 

· Morreu ontem, vítima de infarto, o economista e estatístico Renato Conduru (foto), amigo da coluna, técnico da Secretaria de Planejamento do Estado e ex-presidente do extinto Idesp.

 

· Só faltava essa: dizem que a conselheira Ann Pontes botou o dedo no suspiro para interromper o processo que garante a aquisição de novos ônibus pela Prefeitura de Belém.

 

· Esse fatiamento de interesses - aliás, supostos interesses, pois o TCM ainda não se manifestou -, é tudo que o prefeito Edmilson Rodrigues não precisa.

 

·  Se bem que o conflito é de parte a parte - só falta combinar com os coordenadores da COP30.

 

·  De um leitor da coluna do bairro da Terra Firme: é triste ver que até as passagens com poucos moradores no Conjunto Médice I, na Marambaia, são recuperadas.

 

·  Enquanto isso, na Terra Firme, a principal rua do bairro, a Celso Malcher, segue sem asfalto, esburacada e interditada pelas barracas retiradas do Mercado Municipal.

 

· O diretor-geral do Instituto de Polícia Científica do Pará, Celso Mascarenhas, entrou em gozo de férias e deu um bolo em três diretores substitutos.

 

· Em vez de deixar um deles, na vaga, optou por entregar o cargo a um coordenador de unidade regional, de terceiro escalão.

 

· Não à toa, Mascarenhas amarga uma rejeição de 99% da classe e se notabiliza pela grosseria, que vitimou até a presidente da Associação dos Peritos Oficiais do Pará.

 

·  O fiasco da abertura da reunião anual da SBPC em Belém estava anunciado até pelo pessoal de gabinete da Reitoria da UFPA.

 

· Sorte é que, como sempre, quem dá brilho ao evento são os pesquisadores, não a dinastia instalada na instituição. 

 

· Peritos e advogados: faltam definições sobre os procedimentos necessários ao cumprimento da decisão do Supremo sobre o porte da maconha.

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