MP endurece fiscalização após denúncias; supermercados alertam para marcas irregulares e setor admite colapso do controle sanitário
coluna vem alertando há tempos: o mercado de pescado no Pará opera, em larga escala, fora da lei. A legislação é clara ao exigir que todo produto desembarcado no Estado passe por inspeção sanitária, única garantia real de segurança alimentar. Mas a prática é outra - e escancara risco diário à saúde pública.

Depois de denúncias que vão do chão do Ver-o-Peso transformado em “indústria de filetamento a céu aberto” ao uso indiscriminado de água para aumentar o peso de filés, o Ministério Público do Estado, por meio da 1ª Promotoria do Consumidor, finalmente reagiu. O resultado aparece: marcas adulteradas identificadas e, na última semana, o fechamento de uma “fábrica” clandestina em Outeiro, acusada de injetar até 40% de água no pescado vendido.
A revelação é ainda mais grave porque ocorre em plena COP30, enquanto Belém recebe debates globais sobre sustentabilidade. Nos bastidores da cadeia pesqueira, armadores afirmam que 95% do pescado que chega a restaurantes e supermercados da Região Metropolitana de Belém não passa por inspeção alguma.
A frase que circula entre eles é contundente: “o pescado de hoje, no Pará, é o boi de ontem.” Abatido sem controle, distribuído sem critério e consumido às cegas.
Diante do escândalo, a Associação Paraense de Supermercados enviou circular aos associados em 7 de novembro, alertando para o risco jurídico e sanitário, e citando sete marcas já flagradas com irregularidades: Forte do Pescado, Amazon Norte, Adriano Pescados, Guajará Pescados, Norfrios, Excellent Fish e Parafish.
No documento, a entidade lembra que tais práticas configuram “lesão ao consumidor”, sujeita a responsabilização criminal, civil e administrativa, e orienta supermercados a cobrar comprovação sanitária imediata de seus fornecedores.
A crise atual revela um ciclo de negligência repetido. Nem os surtos da doença da urina preta, registrados em 2021 e 2022 em Belém e Santarém - ambos associados ao consumo de pescado contaminado - foram suficientes para instaurar políticas sólidas de prevenção. Um ex-prefeito paraense foi vítima fatal da síndrome; mesmo assim, a estrutura de fiscalização permaneceu fragilizada.
A ação do MP surge, enfim, como o primeiro sinal de ruptura na escalada de insegurança alimentar que se espalha pelo Estado. O quadro que se vê hoje resulta da omissão prolongada dos órgãos responsáveis pela vigilância sanitária pesqueira, incapazes de garantir que o alimento chegue ao consumidor sem contaminação, fraude ou riscos severos à saúde.
Os próximos capítulos dependem de algo simples, mas raro: fiscalização contínua, responsabilização efetiva e coragem política para enfrentar interesses que lucram no subterrâneo da cadeia do pescado.
O consumidor paraense, que come peixe como parte da própria identidade cultural, não pode continuar pagando essa conta - e, pior, arriscando a vida no prato.
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
ALina Kelian
19 de Maio de 2018 ResponderLorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip ex ea commodo consequat.
Rlex Kelian
19 de Maio de 2018 ResponderLorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip commodo.
Roboto Alex
21 de Maio de 2018 ResponderLorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip ex ea commodo consequat.