Prefeitura de Belém se manifestou nesta quinta-feira, 12, sobre o escândalo envolvendo a contratação de uma empresa com sede em Xinguara, sudeste do Estado, para atuar na remoção e alocação de carros irregulares na capital paraense. A empresa Auto Lance Pátio e Leilões - antiga Chaves Pátio e Leilões - pertence a dois velhos conhecidos das forças policiais: os irmãos Cleidson e Clidean Chaves.
O contrato milionário para atuar nas ruas de Belém - onde não faltam infrações, absurdos e carros irregulares pedindo para serem guinchados - foi dado “de bandeja” à dupla, sem processo de licitação ou qualquer outro tipo de exigência. No governo Igor Normando, Cleidson é conhecido como Cleiton e ocupava, até pouco tempo, o cargo de Chefe de Gabinete. Após informações sobre a “Máfia dos guinchos”, ele assumiu a Secretaria de Zeladoria e Conservação Urbana, a Sezel.
“Sem querer querendo”
Depois de uma semana de silêncio, a Prefeitura de Belém emitiu uma nota onde tenta se isentar de culpa sobre o episódio, mas não consegue. O documento, assinado pela Secretaria Municipal de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade Urbana, a Segbel, menciona como realizada “uma contratação em caráter emergencial, atendendo a todos os requisitos legais de habilitação e diante das demandas administrativas e operacionais desta secretaria”.
A prefeitura não esclarece, no entanto, o que justificou o caráter emergencial da contratação, o porquê de não iniciar por um processo licitatório e - o mais grave de tudo - as razões que levaram à escolha da Auto Lance Pátio e Leilões para o prêmio milionário que é esse contrato emergencial.
Desde o início da gestão Igor Normando, a prefeitura - ou seja lá quem for - demonstra uma sede insaciável pelo rompimento de contratos com empresas remanescentes da administração anterior, o que acaba, como neste caso, fazendo o prefeito meter os pés pelas mãos.
O site Folha do Pará, o primeiro a denunciar o assunto, teve acesso aos valores cobrados pelo serviço executado pela Auto Lance Pátio e Leilões, em Belém. De acordo com o portal, o condutor de uma motocicleta paga R$ 257,29 pela remoção, mais R$ 68,00 por diária no pátio e R$ 4,08 de taxa bancária.
Em apenas uma moto, tem-se o total de R$ 329,67. Numa conta rápida, caso a empresa guinche 100 motos por dia - o que ainda é pouco para Belém -, o valor gerado - apenas com um veículo desta categoria - é de R$ 32.967,00. Em um mês, esse mesmo serviço garante aos irmãos Cleidson e Clidean Chaves o montante de R$ 989.010,00 - quase R$ 1 milhão. A família está, por assim dizer - e com o perdão do trocadilho infame -, com as chaves do cofre na mão.
Na nota que emitiu por meio da Segbel, a Prefeitura de Belém confirma que a rescisão do contrato com a empresa dos irmãos Cleidson e Clidean foi publicada no dia 5 de junho no Diário Oficial do Município, mas não revela que fez isso às pressas, a partir de uma edição extra do impresso, somente porque o escândalo veio à tona - o que coloca um bocado de culpa sobre o episódio no colo da gestão Igor Normando.
A Prefeitura de Belém informa, ainda na nota, que uma chamada pública para a licitação do serviço de guincho e retenção de veículos seria publicada nesta sexta-feira, 13, para iniciar um processo licitatório para o serviço. Mesmo sendo a data sugestiva para dirigir um assunto tão azedo, fica no ar a pergunta sobre “por que fazer agora o que poderia - e deveria - ter feito antes?” - depois do leite derramado. A nota da Prefeitura de Belém, na íntegra, pode ser conferida no final desta matéria.
São velhos conhecidos
Informações já publicadas nas redes sociais mostram que Cleidson e Clidean Chaves foram acusados de irregularidades e corrupção no Sul do Pará, onde Cleidson é conhecido como “Cleitinho”. Quando foi vereador e secretário de Saúde na cidade de Pau d’Arco, Cleitinho teria desviado R$ 2 milhões da saúde. Também pesa contra ele uma acusação de estupro, motivo pelo qual o ex-vereador teria se mudado para Belém.
Contra o irmão dele, Clidean - conhecido na região como “Dean” - pesa a acusação de venda de carteiras de habilitações falsas, motivo que o levou a ser indiciado na “Operação Galezia”, da Polícia Federal. Com o acusado, os agentes encontraram uma lista que sugere o repasse de R$ 980 mil sem origem declarada para candidatos a cargos públicos no Pará. Dean teria recebido o dinheiro de Pedro Lima, velho conhecido das autoridades policiais por envolvimento com a prática ilegal de garimpo.
Para burlar as aparências, o “contrato emergencial” da “Máfia dos guinchos” feito pela gestão Igor Normando mostra como responsável pela empresa Auto Lance Pátio e Leilões uma pessoa de nome Edson Vicente do Nascimento Filho, que aparece nas redes sociais como chefe de gabinete de Cleidson Chaves.
Na internet, Edson Vicente Nascimento Filho aparece como único responsável pelo CNPJ da Auto Lance Pátio e Leilões, mas, ao fazer o pagamento para a empresa via PIX, por exemplo, a razão social que aparece no comprovante bancário é da Chaves Pátio e Leilões, o que reitera a condição de “laranja" de Edson Filho no esquema e a verdadeira presença dos irmãos Cleidson e Clidean Chaves à frente do negócio.
Sobre o assunto, os irmãos Cleidson e Clidean Chaves seguem calados. O que foi arrecadado com os meses de contrato irregular não será devolvido ao distinto contribuinte e não se assustem os leitores caso seja, também, a Auto Lance Pátio e Leilões, a vencedora do certame licitatório aberto pela Prefeitura de Belém para esta nova etapa do serviço. A permanência de Cleiton como secretário municipal fala muito sobre a previsão da Coluna Olavo Dutra.
Pelo jeito, é preciso muito mais que um contrato ilegal e imoral para derrubar os irmãos Chaves. Ao menos na gestão Normando, eles seguem com moral. E segue o andor!
Excesso de peso?
Com pouco mais de seis meses, gestão Igor Normando-Cássio Andrade amarga um desgaste descomunal. Nos corredores palacianos, quando se trata do tema, ouvem-se adjetivos como “imaturo”, “inexperiente” e “vaidoso”, ouvidos e pescados por interlocutores que circulam por lá.
As crises se acumulam. Quatro pastas estratégicas foram alvo de mexidas, mesmo com pouquíssimo tempo de administração: Secretaria de Educação, Secretaria de Planejamento, Secretaria de Zeladoria Urbana e o próprio Gabinete do prefeito. Neste caso, o então chefe de Gabinete deixou o posto para assumir a Zeladoria - e enfrentar de frente uma crise já instalada que é o problema do lixo.
Porém, o recém empossado secretário arrasta consigo outro gravíssimo problema instalado no governo, que é a questão dos guinchos, onde o nome de irmão aparece como dono da empresa contratada pela prefeitura por dispensa de licitação.
Diante deste cenário caótico instalado na gestão e da “cortina de fumaça” que Belém amanheceu no último dia 11, dizem que o prefeito Igor Normando bateu às portas do TCM. Quem cruzou com ele pelos corredores percebeu ‘certa apatia, desânimo aparente’.
Nota da prefeitura
A Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade Urbana (Segbel), esclarece que não mantém mais a relação contratual com a empresa Auto Lance Pátio e Leilões. A rescisão, solicitada em 20 de maio de 2025, foi publicada no Diário Oficial do Município de 5 de junho deste mês.
A empresa anterior a essa atuava sem qualquer tipo de contrato, motivo pelo qual foi feita uma contratação em caráter emergencial, atendendo a todos os requisitos legais de habilitação e diante das demandas administrativas e operacionais desta secretaria.
A Prefeitura de Belém reafirma seu compromisso com a transparência e a legalidade e informa que até o dia 13/06 (sexta-feira), será publicada no Diário Oficial do Município uma chamada para a licitação do serviço.
A Segbel informa também que todos os esclarecimentos sobre o contrato foram enviados também ao Ministério Público Estadual.
Papo Reto
•Recado de Dom Odilo Scherer (foto), chanceler da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sobre o número de católicos do Censo 2025, a quem interessar possa: “Pastoral com pouca pregação e catequese não sustenta fé”. Entenderam?
•Diocese de Bragança tratou de publicar informação entre os fiéis e distribuída a membros do Clero dando conta do atual quadro da população católica na região à luz do Censo do IBGE.
•Fez muito bem, mas há um detalhe: no que se refere à coluna, tratamos apenas dos números - em queda, segundo o Censo - em Bragança.
•A informação da diocese mostra um quadro estável - sem queda, no português claro - na região - e não no município, como aponta a coluna - o que não reflete necessariamente, só mascara, o estudo do IBGE.
•Uma loja chama atenção no bairro do Reduto, em Belém. É a Casa Ikeuara da Amazônia, espaço de cultura e arte indígena cuja dona e curadora é Nice Tupinambá. Fica na travessa Piedade e abre de terça-feira a domingo.
•Veja como está o mercado imobiliário em tempos de COP30 em Belém: a Tuna cobra R$ 800 por diária por vaga em beliche sem ar, sem banheiros e sem café da manhã.
• Navios poderão cobrar de 700 a 1,3 mil dólares a diária. O
Hotel da Vila da COP, que está sendo construído pelo Estado e será entregue “de graça” a algum empresário, diárias de 1 mil dólares.
•Agora o secretário-geral da COP diz que os hoteleiros devem cobrar “diárias sociais” para hospedagem de delegações “pobres”. Pobre viaja ou fica em casa?
•Verdade que mercado imobiliário em Belém é o mais inflacionado do país. Um bom apartamento em São Paulo, 150m2, bairro com infraestrutura e metrô, custa de R$ 4 a R$ 8 mil.
•De dois quartos, de R$ 3 a R$ 6 mil. Um flat, de R$ 2,5 a 4,5 mil. Em Belém não se consegue nada decente por esses preços médios.
•É mais barato comprar um apartamento em São Paulo do que em Belém. Um prédio em construção na Braz de Aguiar, por exemplo - apartamento tipo dois por andar -, custa R$ 2,8 milhões na planta.
•A casa de Oscar Niemeyer está sendo vendida por R$ 5 milhões. Na Doca, em Belém, há apartamentos de R$ 15 milhões; no Cristaville, casas de R$ 25 milhões. Faça as contas...