A expressão "o mundo de cabeça pra baixo" remete-nos a uma tremenda inversão das expectativas tradicionais sobre comércio e cooperação internacional. Se não, vejamos.
Sanções comerciais são medidas impostas unilateralmente por um país ou bloco econômico, a fim de restringir ou simplesmente bloquear relações comerciais com outro país, empresa ou até mesmo indivíduos. Normalmente, carregam tarifas alfandegárias, embargos a produtos específicos - tecnologia ou energia, por exemplo -, proibição de transações financeiras e até mesmo restrições a investimentos.
A grande verdade é que o mundo demonstra estar "de cabeça para baixo", tamanha a subversão das dinâmicas que, até pouco tempo, permeavam as relações comerciais globais.
As desavenças entre EUA e China, ou, mais recentemente, EUA e Brasil, simplesmente desafiam a lógica da globalização que, historicamente, sempre perseguiu a intensificação da integração econômica, social e até cultural entre as nações, impulsionada pelo avanço dos meios de comunicação e transporte, facilitando o fluxos de bens, serviços, capitais, pessoas e informações em escala planetária.
A realidade nua e crua, hoje, é que as cadeias de suprimentos ou já foram ou se preparam para ser reconfiguradas, literalmente subvertidas pelo chicote da política.
Observe-se as sanções impostas à Rússia após a invasão da Ucrânia em 2022: elas viraram o mercado de energia de ponta-cabeça, com a Europa buscando alternativas e os russos reorientando suas exportações para a Ásia. Ou seja, é impossível ignorar que as sanções podem alcançar e prejudicar não só o país-alvo, mas também outras economias que dele dependem.
Outro exemplo icônico é a crise dos fertilizantes devido às sanções à Rússia, que provocou brutal desestruturação de mercado por conta do abastecimento desses insumos, tão indispensáveis à agricultura.
Mas quais são os impactos práticos na vida das pessoas a partir de sanções impostas ao comércio global? Entre tantos efeitos, a inflação sobressai, haja vista que as commodities - como petróleo, ferro e grãos - têm seus preços elevados, impactando toda cadeia econômica.
Outra sequela importante do "enlouquecimento" das tarifas tem sido a chamada fragmentação. As empresas são forçadas a buscar fornecedores em outros países, o que acaba aumentando seus custos diretos de produção.
Destaque-se ainda no novo cenário de "guerra econômica mundial" que países como China e Rússia ensaiaram evitar o dólar em suas transações, preferindo yuan e rublo. Segundo especialistas, esse capítulo foi o que "mais irritou o governo Trump", estimulando a ira americana e um futuro de mais sanções e menos cooperação.
As sanções comerciais estão virando as regras do jogo, criando um cenário onde a competição a qualquer preço supera a saudável cooperação. Enquanto alguns veem nelas uma ferramenta para pressionar mudanças políticas, outros alertam para riscos de recessão e instabilidade global. Harmonizar segurança geopolítica com prosperidade econômica é o grande desafio do milênio. Quem se habilita?
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