Inpe aponta que temperatura média anual da região subiu 1,7 ºC nos últimos 60 anos, ritmo acima da média global.
aquecimento global deixou de ser uma ameaça distante e abstrata. Na Amazônia, seus efeitos já se traduzem em perdas concretas de vidas humanas, seja pela exposição direta ao calor extremo, seja por doenças agravadas ou desencadeadas por mudanças climáticas. A combinação de aumento da temperatura média, secas prolongadas e queimadas coloca milhões de habitantes da região em risco.
As cidades amazônicas têm registrado ondas de calor mais longas e intensas. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, a temperatura média anual da região subiu 1,7 ºC nos últimos 60 anos, ritmo acima da média global. Em 2023, Manaus e Belém registraram sensação térmica próxima a 50 ºC, fator que aumenta drasticamente os casos de insolação, desidratação e choque térmico.
No interior, trabalhadores rurais são os mais vulneráveis. A falta de protocolos de proteção contra o calor - como intervalos obrigatórios, hidratação adequada e sombra - tem resultado em colapsos fatais no campo. O mesmo ocorre com trabalhadores da construção civil em áreas urbanas.
Mais do que as mortes diretamente atribuídas ao calor, os efeitos indiretos do aquecimento global ampliam os riscos na Amazônia.
Doenças respiratórias: a fumaça das queimadas, que se intensificam em períodos de seca, é associada a milhares de internações anuais. Crianças e idosos são as principais vítimas. Em 2023, o Acre decretou emergência de saúde pública devido ao aumento de mortes relacionadas à poluição atmosférica.
Doenças transmitidas por mosquitos: a alteração no regime de chuvas aumenta criadouros de Aedes aegypti e Anopheles, elevando os casos de dengue e malária. Em 2024, o Pará registrou alta de 40% dos óbitos por dengue em relação ao ano anterior.
Insegurança alimentar: comunidades ribeirinhas sofrem com a perda de safras causada por enchentes extremas ou estiagens severas. A desnutrição, ainda pouco contabilizada, é consequência direta da instabilidade climática.
Povos indígenas, quilombolas e comunidades ribeirinhas estão entre os grupos mais afetados. A dependência direta de rios e florestas, aliada ao acesso limitado à saúde, faz com que o impacto climático seja desproporcional. “Já não se trata apenas de perder a pesca ou a colheita. Temos observado aumento de mortes por doenças respiratórias e por falta de alimento em aldeias isoladas”, relata a médica sanitarista Márcia Ferreira, que atua no Alto Xingu.
Estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas alertam que a Amazônia pode ser um dos pontos mais críticos do planeta em termos de vulnerabilidade climática. Projeções indicam que a expectativa de vida em comunidades amazônicas pode cair de 10 a 12 anos até o fim do século, caso o aumento das temperaturas siga no ritmo atual.
Além disso, o fenômeno conhecido como “ponto de não retorno da Amazônia” - quando a floresta perde a capacidade de se regenerar - tende a intensificar ondas de calor regionais, tornando-as mais letais.
A Índia, em 2023, registrou mais de 100 mortes em apenas uma semana durante uma onda de calor. O governo criou centros de resfriamento em áreas urbanas e estabeleceu protocolos de emergência para hospitais. Na Indonésia, planos de arborização urbana e campanhas de hidratação foram implementados para reduzir os efeitos do calor extremo.
Na Amazônia brasileira, nenhuma capital possui protocolos consolidados para ondas de calor. Belém, cidade-sede da COP30, enfrenta déficit histórico de arborização e saneamento, fatores que potencializam o risco.
O Brasil ainda não dispõe de uma política nacional para adaptação a ondas de calor. Medidas locais são pontuais e insuficientes. Enquanto Estados e municípios discutem planos para a COP30, especialistas alertam que as populações já estão morrendo silenciosamente.
“Estamos diante de uma epidemia invisível. As mortes atribuídas ao aquecimento global não aparecem nas estatísticas tradicionais, mas já estão em curso. Precisamos de monitoramento, prevenção e ação coordenada”, afirma o climatologista Paulo Artaxo, da USP.
O aquecimento global já não é um risco futuro para a Amazônia - é uma realidade que cobra vidas no presente. A ausência de políticas de adaptação e proteção da saúde pública torna o cenário ainda mais preocupante. Se nada mudar, a região que concentra a maior floresta tropical do planeta pode também se tornar um dos epicentros globais de mortes associadas à crise climática.
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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