São Paulo, SP - A deputada alemã Charlotte Neuhäuser, do partido de esquerda Die Linke, afirma que teve de deixar o Pavilhão Alemão na COP30 porque estava usando uma kufiya, um lenço tradicional palestino. As informações são da colunista Mônica Bergamo, da Folha.

O episódio ocorreu na tarde de segunda (10), em Belém, onde é realizada a conferência da ONU que discute mudanças climáticas. Em mensagens de áudio enviadas à coluna, a deputada disse que passou o dia inteiro na Zona Verde (Green Zone), um dos principais espaços do evento, usando o lenço e não teve qualquer problema.

Mas, cinco minutos depois de entrar no Pavilhão Alemão, Charlotte afirma que foi abordada por uma recepcionista que disse que não eram permitidos no local símbolos relacionados à Palestina ou a Israel.

"Ela sinalizou que eu teria que tirar a kufiya ou teria que sair do espaço porque não poderia usar a peça especialmente em um encontro oficial com pessoas do governo alemão", relata. O pavilhão receberia a ministra alemã de Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Reem Alabali Radovan.

Um assessor que acompanhava a deputada quis saber mais informações sobre a proibição. "Ela [a funcionária] disse que a kufiya era antijudaica. Depois, ela também se referiu a um código de conduta do pavilhão alemão que não permitiria o uso da peça no espaço."

"Nós preferimos sair do pavilhão porque não quero ficar em um lugar onde não posso criticar o que o governo israelense está fazendo com o povo palestino", acrescenta Charlotte. Procurada, a Embaixada da Alemanha no Brasil não se manifestou até a conclusão deste texto.

Para a deputada, o que aconteceu hoje na COP30 é um reflexo de como o debate sobre a situação de Israel e da Palestina é realizado hoje na Alemanha. "Não podemos defender abertamente uma Palestina livre, o povo palestino, sem receber represálias de fontes oficiais do governo ou até mesmo da polícia."

Ela disse também que se sentiu mal com o ocorrido pois sempre imaginou que teria liberdade para levantar a voz quando "injustiças acontecem" sem ser punida, mas que não foi isso que ocorreu.

"Esse comportamento do governo alemão não é uma exceção porque, há algumas semanas, levantamos a bandeira palestina no Parlamento para defender os direitos dos palestinos e fomos expulsos."

Charlotte Neuhäuser diz usar a kufiya em locais políticos como forma de demonstrar solidariedade "aos palestinos que ainda sofrem sob o apartheid e a ocupação".

Foto: Redes sociais

(Com a Folha)