Ex-ministro faz marola suficiente para empurrar o debate político para a beira da prancha, mas corre o risco de ser arremessado pelas próprias ondas.
ex-ministro José Dirceu não perde o faro para momentos de inflexão - ou, pelo menos, para anunciá-los. Ao afirmar que o País pode viver um “momento revolucionário” caso o projeto político do PT não avance, o ex-todo-poderoso da sigla recoloca-se no centro de um debate que ele próprio acende: o da ruptura. Um déjà vu direto do 8 de janeiro, mas agora embalado como previsão, quase profecia, de quem se diz “intuitivo”.

As declarações ocorreram no Congresso Nacional do PT, realizado no último dia 8, em Brasília, e escolheram o palco perfeito. Dirceu, empenhado em se eleger deputado federal, voltou a testar o tom que sempre o guiou: a fala messiânica, pictórica, cheia de alertas sobre forças ocultas prestes a se mover. Funciona como palco, mas também como risco. Ao “antever” uma possível debacle eleitoral da esquerda em 2026, o ex-ministro faz marola suficiente para empurrar o debate político para a beira da prancha - e corre o risco de ser arremessado pelas próprias ondas.
O que seria, afinal, essa “ruptura” que ele anuncia? Uma rereedição tropical do trumpismo - aquilo que tanto se critica no outro polo, agora embrulhado em verniz progressista? Ou apenas a velha retórica de mobilização interna para energizar militantes e tensionar adversários?
O discurso deixa mais dúvidas que respostas - e talvez esse seja o ponto.
No PT, a leitura é dupla. Há quem veja em Dirceu um alerta genuíno, a partir de quem enxerga cenários antes dos demais. Há quem veja apenas a velha busca por protagonismo, uma tentativa de ocupar espaço num partido onde Lula segue absoluto, Gleisi segura o comando e a disputa por voz para 2026 já está em curso. A fala sobre “sentir e intuir” um momento revolucionário funciona como senha para parte da militância - e como ruído para outra parte, mais pragmática, que prefere não atiçar fantasmas.
É fato: a esquerda vive um ponto de tensão. A economia não entrega a velocidade prometida, a base parlamentar do governo patina, e o cenário eleitoral se desenha mais competitivo do que a narrativa oficial gostaria. É nesse tabuleiro que Dirceu entra. Ele sabe o peso - e o desconforto - que sua voz ainda carrega. Quando fala em “guerra”, mesmo metafórica, desloca o eixo do debate para um campo que a institucionalidade democrática preferiria manter trancado no porão.
Do lado de fora, o impacto é imediato. Para adversários, é munição. Para analistas, motivo de atenção. Para o próprio governo, dor de cabeça: o Planalto tenta esfriar tensões enquanto o ex-ministro aquece o ambiente. Na prática, cria a sensação de que o PT flerta com o mesmo método que tanto condenou: o da política de barricada, do embate anunciado, da ruptura como horizonte possível - e não como risco a ser evitado.
Resta saber se o partido está preparado para o que Dirceu anuncia. Talvez ache que sim. Mas, como diz o ditado, quando um não quer, dois não brigam - e o ex-ministro já está com a mão no coldre. O problema é simples: quem saca primeiro nem sempre acerta o alvo. E, em política, bala perdida costuma voltar na forma de crise. Dirceu sabe disso. O PT também. O País, mais ainda. Mas, mesmo assim, há quem insista em riscar fósforo em sala com cheiro de gasolina.
É o tipo de “revolução” que dispensa anunciadores - porque, quando chega, não pede licença.
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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