Edição anterior, no Azerbaijão, teve mais representantes da indústria fóssil do que a soma dos dez países mais vulneráveis à crise climática.
COP30 ainda nem começou, mas já há fumaça no ar - e não é da queimada amazônica; é de petróleo. A expansão vertiginosa da presença de lobistas do setor nas duas últimas conferências da ONU acendeu um alerta entre ambientalistas e representantes da sociedade civil que estarão em Belém. A COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, teve mais credenciados do setor de combustíveis fósseis do que a soma das delegações dos dez países mais vulneráveis aos extremos climáticos.
Na ocasião, a ministra Marina Silva subiu o tom contra os subsídios aos combustíveis fósseis, estimados entre US$ 1,5 trilhão e US$ 7 trilhões -, enquanto o investimento global em energia limpa mal chega a US$ 500 bilhões. “Pela primeira vez, o mundo adotou decisão que trata explicitamente da transição justa, ordenada e equitativa para o abandono dos fósseis”, disse Marina, com a convicção de quem sabe que está pisando em solo escorregadio.
Logo depois, os sauditas reagiram: disseram que transição energética não é sinônimo de cortar petróleo. Índia, China, Bolívia e parte do bloco árabe engrossaram o coro. Tudo junto e misturado: interesses, barris e bilhões.
Relatório da coalizão Kick the Big Polluters Out mostrou que 1,7 mil pessoas ligadas aos interesses do carvão, petróleo e gás participaram da COP29. Um número maior que o das dez nações mais vulneráveis ao clima, somadas. Em 2023, na COP28 de Dubai, o recorde foi ainda mais escandaloso: 2.450 lobistas fósseis - quase uma conferência paralela.
Entre eles, nomes de peso: Chevron, ExxonMobil, Shell, BP, além de associações industriais como a International Emissions Trading Association, que levou 43 representantes. O Japão enviou lobistas da Sumitomo, o Canadá e o Reino Unido mandaram os seus da Suncor e Tourmaline. Um verdadeiro OPEP Club, agora rebatizado de “sala azul da ONU”.
Belém, anfitriã da COP30, herda o desafio de lidar com esse mar de dinheiro e influência. As novas diretrizes da ONU preveem que todo participante não vinculado a delegação oficial pode divulgar quem financia sua presença. Mas “pode” não é “deve”. E quando a transparência é opcional, o lobby dorme tranquilo.
“Quem não está ligado a um governo vai à COP para fazer lobby - empresarial ou de causas. Isso pode servir ao bem ou ao mal”, diz André Castro, do Instituto LaClima. Ele pondera que o diálogo com o setor fóssil é necessário, mas o risco de desequilíbrio é evidente.
Sara Ribeiro, da Arayara, vai mais longe: “O capital desses atores é gigantesco em comparação aos esforços da sociedade civil. A transição para longe dos fósseis foi ignorada nas últimas COPs - e Belém pode repetir o enredo.”
Mais de 260 organizações internacionais já pediram que o Brasil estabeleça mecanismos de transparência e regras contra a influência indevida nas negociações. “A liderança brasileira tem a oportunidade de restabelecer o curso da diplomacia climática”, diz a carta aberta enviada ao Itamaraty.
O Ministério das Relações Exteriores, por sua vez, respondeu com uma nota escovada: a transparência “é um princípio central” e haverá chamada pública para credenciamento da sociedade civil. Na prática, o acesso à chamada Zona Azul da UNFCCC - onde as decisões acontecem - será controlado, mas “diverso”. Tradução livre: o governo promete abrir as portas, mas continua com a chave no bolso.
A COP30 promete ser o evento em que a Amazônia será a paisagem - e o petróleo, o protagonista.
Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
ALina Kelian
19 de Maio de 2018 ResponderLorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip ex ea commodo consequat.
Rlex Kelian
19 de Maio de 2018 ResponderLorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip commodo.
Roboto Alex
21 de Maio de 2018 ResponderLorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipisicing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip ex ea commodo consequat.