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Culinária

Pirarucu selvagem ganha destaque em festival gastronômico que chega a Belém

O Festival Gosto da Amazônia será realizado de 19 de setembro a 5 de outubro com pratos especiais dedicados ao peixe que é símbolo da região.

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  • 11/09/2025, 21:00
Pirarucu selvagem ganha destaque em festival gastronômico que chega a Belém

Belém, PA - Belém recebe, entre os dias 19 de setembro e 5 de outubro, o Festival Gosto da Amazônia, iniciativa que celebra o pirarucu selvagem de manejo sustentável, considerado o maior peixe de escamas de água doce do mundo. Cerca de 25 restaurantes da capital paraense participam do evento, oferecendo pratos exclusivos com o pescado amazônico e unindo sabores regionais à valorização de práticas sustentáveis de conservação da floresta, no ano em que a cidade se prepara para receber a COP 30.


Com até três metros de comprimento e 200 quilos, o pirarucu chama atenção não só pelo porte imponente, mas também pela carne clara, tenra, sem espinhas e de sabor suave. Além das qualidades gastronômicas, o destaque do festival é o modelo de manejo sustentável, realizado no estado do Amazonas, que contribui para a conservação de mais de 11 milhões de hectares da floresta e promove geração de renda e melhoria da qualidade de vida para comunidades indígenas e ribeirinhas da região.


De acordo com Ana Alice Britto, coordenadora comercial da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) - organização que representa comunidades manejadoras no Médio Juruá (AM) - o Festival tem como objetivo estimular o consumo do pirarucu de origem sustentável, ampliando o conhecimento da população sobre os benefícios socioambientais dessa cadeia produtiva. “A iniciativa também gera visibilidade para os chefs e restaurantes parceiros, que passam a integrar essa história de valorização da sociobiodiversidade e conservação da floresta por meio da gastronomia”, afirma.


Para ela, ver o peixe manejado pelas comunidades amazônicas chegar à mesa de grandes restaurantes é um símbolo de transformação. “É uma vitória sair das margens dos rios amazônicos e chegar aos cardápios de restaurantes renomados, como os de Belém, cidade histórica e de culinária espetacular. Essa parceria entre floresta e cidade mostra que é possível construir uma nova Amazônia, onde a sociobiodiversidade nos alimenta e aponta para um futuro melhor. Quem conhece o Gosto da Amazônia e seus valores sociais, ambientais e gastronômicos não esquece mais do pirarucu manejado”, completa.


O evento já percorreu outras capitais brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Recife, além de cidades do interior paulista. Em Belém, a expectativa é reforçar o protagonismo da Amazônia na gastronomia nacional e valorizar ingredientes oriundos da sociobiodiversidade regional. Durante os dias do festival, cada restaurante participante servirá um prato exclusivo com o pirarucu do Gosto da Amazônia, fortalecendo a conexão entre a conservação da floresta e a culinária brasileira.


Entre as criações que devem surpreender o público no Festival está uma combinação inusitada: o clássico sanduíche japonês Sando ganhará versão paraense com pirarucu empanado e pão de leite, pelas mãos do chef Marley d'Oliveira, do restaurante Eugenia.

"Nosso prato é inspirado no clássico do Japão, país onde esse sanduíche tem diferentes versões, a mais conhecida é o Katsu, feito com porco empanado. Mas como sou fascinado por sanduíches, resolvi criar uma versão amazônica usando o pirarucu, que é um peixe riquíssimo em sabor e textura. É a receita perfeita para esse momento", conta o chef, que apostou na fusão entre técnica internacional e ingredientes nativos.


Para Marley, o festival é uma oportunidade valiosa de dar visibilidade ao pirarucu fresco, que ainda enfrenta limitações de acesso, mesmo em Belém. "Na região da capital, ainda usamos muito o pirarucu salgado. O fresco, infelizmente, ainda é difícil de encontrar com boa qualidade. Esse festival vai incentivar muita gente a conhecer e valorizar o produto in natura, que tem um potencial gastronômico imenso", afirma.


De acordo com a chefa Esther Weyl, do restaurante Celeste, a participação no Festival Gosto da Amazônia reflete o compromisso com os insumos regionais e sua valorização. “A gente gosta de participar de festivais porque esse movimento é bom pra cidade. É uma oportunidade de apresentar um produto de qualidade, de origem conhecida, como o pirarucu, e falar sobre ele com o respeito que merece”, afirma a chef.


Para o festival, o restaurante elaborou um prato que utiliza o pirarucu de três formas distintas: fresco, seco e defumado. No arroz, o peixe aparece em versões seca e defumada; já o molho acompanha uma explosão de sabor inspirado no tradicional XO chinês, preparado com pirarucu salgado. “É um prato muito saboroso, que mostra como esse ingrediente pode ser explorado de várias formas”, ressalta Esther.


O festival reúne uma rede diversa de restaurantes que celebram a riqueza da sociobiodiversidade amazônica com criatividade e sabor. Da alta gastronomia à comida afetiva, o Gosto da Amazônia fortalece a conexão entre a floresta e a cidade, valorizando os saberes, os territórios e os produtores da região.


No Com’è?! Ristorante, o destaque é o “Pirarucu Saltimbocca”, com lascas de presunto de parma e chicória, servido com arroz ao tomate, caldo de polvo e farofa de limão. Já o Casa Blanca apresenta o “Pirarucu da Floresta”, grelhado e acompanhado de risoto de feijão manteiguinha, chips de macaxeira e crispy de jambu. Na Saldosa Maloca, o “The Amazon King” traz a ventrecha do peixe com arroz, batatas ao forno com ervas e pirão de tapioca. O Restaurante Sushi Boulevard aposta no “Poke Amazônico”, que combina arroz japonês, pirarucu grelhado, kani na manteiga, camarão na tapioca, manga e topping de crispy, acompanhado de harumaki de pirarucu com cream cheese.


Sobre o manejo sustentável do pirarucu


O Festival é uma iniciativa da marca coletiva Gosto da Amazônia, que representa organizações comunitárias da região e promove os princípios da conservação ambiental, comércio justo e desenvolvimento socioeconômico sustentável. Nos últimos 10 anos, o manejo do pirarucu levou a um aumento de mais de 600% na quantidade da espécie em áreas monitoradas, comprovando o sucesso da estratégia de preservação aliada ao uso sustentável.


O manejo sustentável do pirarucu é uma prática de uso racional e gestão participativa dos recursos pesqueiros, que alia conservação ambiental, geração de renda e valorização dos modos de vida tradicionais da Amazônia. Iniciado em 1999 na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM), o modelo hoje se expandiu por diversos territórios da região, sendo conduzido por populações indígenas e ribeirinhas em Unidades de Conservação, Terras Indígenas e áreas com Acordos de Pesca legalmente reconhecidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).


Para garantir a sustentabilidade da espécie e o equilíbrio ecológico, o manejo obedece a três regras fundamentais:

  • Respeito ao ciclo reprodutivo: a pesca só é permitida durante a estação seca, entre os meses de setembro e novembro.
  • Tamanho mínimo: apenas pirarucus com mais de 1,5 metro de comprimento podem ser capturados.
  • Quota controlada: o Ibama autoriza a pesca de até 30% da população adulta existente em cada lago monitorado, conforme contagem prévia feita pelas próprias comunidades.

Esse modelo de manejo comunitário tem se mostrado altamente eficaz. Ao longo dos últimos 20 anos, o pirarucu, que já figurou na lista da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Extinção (CITES), voltou a habitar amplamente as várzeas amazônicas e deixou de ser considerado uma espécie ameaçada.


O manejo é um arranjo coletivo que fortalece a soberania alimentar dos povos da floresta e garante uma fonte de renda baseada na conservação da biodiversidade e um exemplo concreto de como o conhecimento tradicional, aliado ao monitoramento ambiental e à governança comunitária, pode transformar uma ameaça em oportunidade de desenvolvimento sustentável.


Serviço

Festival Gosto da Amazônia

Data: de 19 de setembro a 05 de outubro 

Belém - Pará

Lista completa de participantes e pratos: https://festivalbelem.gostodaamazonia.com.br 

Mais informações: https://www.instagram.com/gostodaamazonia/   


Foto: Agência Pará

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.