A Câmara aprovou nesta terça-feira, 21, a urgência de um projeto para
sustar imediatamente a portaria do governo Lula que revogou a permissão
contínua de trabalhos aos domingos e feriados. Foram 301 votos favoráveis e 131
contrários O mérito da proposta deve ser analisado agora nas próximas sessões
do plenário, sem necessidade de passar antes por comissões. O movimento para
derrubar a nova regulamentação publicada pelo Ministério do Trabalho foi
liderado pela Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).
Foram protocolados 17 Projetos de Decreto Legislativo (PDL), por deputados
de vários partidos, para derrubar a medida. O número foi recorde, segundo a
FPE, que quer sustar a portaria para não prejudicar as vendas do comércio do
Natal.
Em nota, a frente parlamentar comemorou a aprovação da urgência.
"Continuaremos trabalhando não só para que o Ministério do Trabalho
esclareça a nova portaria, editada sem diálogo ou consideração dos consequentes
impactos regulatórios, como para regulamentar em lei a norma anterior referente
ao trabalho aos domingos e feriados, que elimina a intermediação sindical sobre
o tema", diz a FPE.
A portaria exige que as empresas do comércio obtenham autorização prévia por
meio de convenção coletiva e aprovem a legislação municipal para operar aos
domingos e feriados. O presidente da FPE, deputado Joaquim Passarinho (PL-PA),
disse hoje que não há tempo a perder diante do calendário das festas de fim de
ano.
Parlamentares cobraram do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), a
votação do projeto com urgência porque já no próximo final de semana a portaria
já poderá ter efeito. "Na época do governo Temer, houve uma ampla
discussão e isso foi vencido. É uma matéria esdrúxula, um retrocesso",
reclamou o presidente da FPE.
Passarinho disse estranhar o momento da publicação da portaria pelo governo.
Ele alertou que a medida é contrassenso com a agenda do ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, de aumento da arrecadação. "É uma medida que reduz a
arrecadação. No final do ano, é quando dá esse impulso maior na economia",
advertiu.
Segundo ele, o número de projetos é recorde e sinaliza a rejeição da medida
pelo Congresso Nacional. Na avaliação de Passarinho, o governo publicou a
medida para cumprir compromissos de campanha eleitoral . "É acordo de
campanha para fazer receita para sindicato", avaliou. "O governo quer
fazer uma medida em resposta a um segmento que o ajudou [os sindicatos]. Mas é
ruim para o próprio governo, que vai deixar de arrecadar", ressaltou.
O PDL que ganhou urgência para a tramitação foi apresentado pelo deputado Luiz
Gastão (PSD-CE). Ele disse nesta terça-feira, 21, que não se trata de obrigar
as empresas a abrir aos domingos e feriados, mas dar a liberdade de escolha. O
deputado cearense informou que o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ficou de
marcar uma reunião ainda nesta semana para fazer um acordo com as confederações
dos trabalhadores. Um caminho é que a vigência da medida só comece a valer
daqui a dois, três meses, e possa se negociar as condições de negociação com os
sindicatos.
Além de reverter imediatamente os efeitos da portaria do Ministério do
Trabalho, a FPE também articula a aprovação de um projeto de lei, de autoria do
próprio Passarinho, para proibir o governo de editar medidas que restrinjam
atividades econômicas. "É um esforço desesperado de recompor um
sindicalismo que não corresponde com o mercado de trabalho do País, que se
modernizou", disse o presidente da frente parlamentar.
Fonte: Estadão conteúdo
Foto: Jonas Pereira/Agência Senado