Rio de Janeiro, RJ - A corrida da CBF por um técnico para a seleção brasileira ganhou novos elementos nos últimos dias. Apesar do recuo de Carlo Ancelotti e da sinalização da entidade de que saiu das negociações, o italiano ainda não pode ser descartado. Jorge Jesus, considerado bola de segurança, segue no radar. Mas a resistência do presidente Ednaldo Rodrigues e de Neymar ao português do Al-Hilal colocou um terceiro nome de vez na disputa: Abel Ferreira.
O técnico do Palmeiras ganhou força nos últimos dias e tomou a dianteira em relação a Jorge Jesus por ter uma maior aceitação interna na CBF. Além da aprovação de Ednaldo, é bem visto por profissionais do departamento da seleção. Diferentemente de Jesus - preferido mais externamente do que internamente -, e que ainda enfrenta restrições de Neymar, com quem teve rusgas no Al-Hilal.
Nem a iminente demissão de Jorge Jesus mudaria esse cenário. O pai do craque também torce o nariz, tendo inclusive indicado intermediários para atuarem na força-tarefa desta semana por Ancelotti. O maior inimigo para a definição do nome é o tempo: faltam pouco mais de duas semanas para o envio da lista inicial de convocados para os jogos da Data Fifa de junho, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, contra Equador (dia 5) e Paraguai (dia 10).
Nos bastidores, Abel tem adotado uma postura menos “oferecida” que a de Jesus. Mesmo tendo tomado conhecimento da possibilidade de um avanço da CBF, manteve discrição. O estafe do técnico está atento às movimentações, e o próprio treinador indicou que estaria aberto a aceitar o convite, mas que respeitaria a decisão do Palmeiras. Até o momento, porém, a CBF não fez contato com o clube para tratar sobre o treinador.
Após a vitória do alviverde sobre o Ceará pela Copa do Brasil, na quarta-feira, Abel foi questionado se aceitaria um eventual convite e foi evasivo. “Claro que é uma honra ter seu nome associado a uma das melhores seleções do mundo. Mas tenho contrato com o clube. O meu foco é total e absoluto com os meus jogadores, com o Palmeiras. Não posso dizer muito mais do que isso”.
A boa relação entre Ednaldo e a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, poderia facilitar uma conversa rápida para um eventual acerto. Também na quarta-feira, porém, a dirigente reforçou a relação amigável do clube com a CBF e reiterou o compromisso de Abel em meio à proximidade da Copa do Mundo de Clubes, que será disputada a partir do dia 14 de junho, nos Estados Unidos. O time paulista viajará no começo de junho, entre os jogos da seleção pelas Eliminatórias.
“O Abel é técnico do Palmeiras. Tem contrato conosco até o fim do ano, e todos sabem do meu desejo de renovar com ele até o fim do meu mandato como presidente do clube, em 2027”, disse, para completar: “Nenhuma pessoa da CBF ou ligada à CBF procurou o Palmeiras para falar sobre o Abel. Tenho certeza de que, se a CBF tiver interesse em fazer futuramente um convite ao Abel, o presidente Ednaldo vai me telefonar antes de qualquer movimentação”.
Jorge Jesus à espera
Desde que a negociação com Ancelotti esfriou, também não houve avanço em direção a Jorge Jesus. O técnico tem contrato com o Al-Hilal até o meio do ano, mas corre o risco de ser demitido antes do Mundial de Clubes, após temporada irregular. Ele próprio indicou que abriria mão da disputa do torneio para dar preferência à seleção.
Com relação a Ancelotti, a CBF sinalizou ter encerrado as negociações estrategicamente, como forma de deixar o treinador mais livre para definir seu futuro no Real Madrid. O italiano ainda é o grande sonho de Ednaldo, que cogita esperar o fim da temporada europeia, em 25 de maio. Apesar de ter contrato até junho de 2026, entende-se que o ciclo do técnico no clube espanhol está perto do fim, com Xabi Alonso como favorito para substituí-lo. A dúvida é se Ancelotti rescindirá antes ou depois do Mundial de Clubes.
No cenário de Ancelotti e Jesus estarem livres antes de junho, o italiano segue como plano A. Mesmo disponível no mercado, Jesus pode, inclusive, perder o posto de plano B para Abel Ferreira. Por ter se tornado uma espécie de garantia, o português ex-Flamengo não fez novos movimentos de aceno à CBF e aguarda que a entidade manifeste interesse.
O Brasil precisa fechar a lista de 23 convocados para os jogos contra Equador e Paraguai até o dia 28 de maio. A chamada “lista larga” deve ser enviada à Fifa no dia 17. Enquanto a seleção segue sem treinador, o diretor Rodrigo Caetano e o gerente Juan elaboram relatórios para a futura comissão técnica. A dupla, porém, está fora do processo de escolha neste momento. Ednaldo centraliza as negociações com intermediários de fora do futebol e com interlocutores de sua confiança na parte política.
O presidente da CBF havia prometido definir o substituto de Dorival Júnior antes da Data Fifa de junho. Com as opções na mesa, ainda não foi cogitado que um interino assuma, para que haja mais tempo de encontrar uma solução após o Mundial de Clubes. Caso essa possibilidade venha a ser considerada, o técnico da seleção sub-20, Ramon Menezes, é a alternativa mais acessível — a mesma que Ednaldo utilizou em 2023, quando aguardava por Ancelotti e não obteve resultados.
Foto: Al-Hilal/Palmeiras
(Com O Globo)