Belém, PA - Certificado na Jornada do Museu da Universidade Federal do Pará e prestes a integrar a Semana Nacional de Museus, o Museu da Mandioca da Amazônia leva ao Castanheira Shopping, em Belém-PA, um olhar inovador sobre a rainha alimentar da região: a mandioca. Longe de ser apenas mais um evento ecológico, a mostra será inaugurada neste sábado, dia 17, entrada franca, com o propósito de desvendar a profunda conexão entre a mandioca, a cultura local e a urgência da sustentabilidade.
A mostra vai além da narrativa tradicional, conectando novos mercados aos afroprodutores do tubérculo que vivem na comunidade quilombola de Espírito Santo do Itá, no município de Santa Izabel do Pará, a 47 km de Belém, onde está instalado há três anos o Museu. Conta com o apoio da Prefeitura local, do instituto de Gastronomia Paulo Martins e da Amazon Connection Carbon, especialista em inventário e redução da emissão de poluentes.
A exposição fica em cartaz até 8 de junho. Aos sábados e domingos, o público será convidado a uma experiência imersiva que une a rica história da mandioca a uma vibrante programação cultural e a uma feira de produtos orgânicos, com menus de degustação exclusivos. Essas atividades serão conduzidas pelos próprios guardiões da terra, os produtores da agricultura familiar da comunidade, fomentando um ciclo virtuoso de valorização da sociobiodiversidade.
Para a professora e pesquisadora Rosa Arraes, curadora da exposição, a iniciativa
ultrapassa a preservação de tradições. “Nosso objetivo é apresentar de forma dinâmica a cultura da mandioca e o trabalho inovador dos produtores, proporcionando uma imersão na sua história e na sua relevância ambiental na Amazônia.”
Ela destaca que a inspiração para a mostra vem do trabalho pioneiro desenvolvido pelo Museu da Mandioca da Amazônia junto à comunidade quilombola, explorando o potencial do tripé tucupi, farinha e maniva como ingredientes que contam histórias de resiliência, inovação e respeito ao meio ambiente.
A exposição, composta por um acervo vivo do Museu da Mandioca da Amazônia, funciona como um espaço de memória ativa, aprendizado e celebração da cultura secular dos povos indígenas aprendida pelos afro-escravos. Ressignifica o papel da mandioca na segurança alimentar, na economia criativa e, sobretudo, na preservação ambiental.
Ao evidenciar as práticas sustentáveis da comunidade e a inovação em seus processos produtivos, a mostra convida o público a refletir sobre a relação entre cultura, costumes dos povos originários e meio ambiente no coração da Amazônia.
Valorização dos produtores
A pedagoga paraense Sigla Freitas, idealizadora do Museu da Mandioca, destaca que um dos principais objetivos da exposição é valorizar os produtores do alimento e dar visibilidade aos seus produtos, ajudando-os a conquistar novos mercados.
“O Shopping Castanheira gentilmente abriu um espaço para que o Museu da Mandioca pudesse montar essa exposição, ganhando mais visibilidade e valorizando essa cultura”, afirmou Sigla, ativista da Associação Quilombola de Espírito Santo do Itá.
E prosseguiu: “Com o Museu, também estarão os produtores da comunidade afrodescendente vendendo seus produtos e comidas típicas à base de mandioca. A curadora Rosa Arraes deu ênfase à gastronomia, pois a mandioca é a base da culinária do Pará. Ela precisa ser cada vez mais valorizada, pois faz parte da estratégia alimentar de sobrevivência dos povos tradicionais da Amazônia” .
A dirigente do Museu da Mandioca também ressaltou a presença das novas gerações e de especialistas em gastronomia entre o público que visitará a exposição. “Vamos receber chefs de cozinha, ativistas de causas ambientalistas e consumidores em geral. Nos finais de semana, teremos atrações culturais diversas do Pará, como carimbó, cantores regionais e comidas típicas.”
Eventos de museus
Além de ocupar um espaço de destaque em um dos principais shoppings de Belém, Sigla Freitas anunciou que o Museu da Mandioca participará da 23ª Semana Nacional dos Museus, que celebra, no próximo dia 18, o Dia Internacional dos Museus.
Para carimbar ainda mais esse período, o Museu da Mandioca na Amazônia foi homenageado na I Jornada Acadêmica do Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA), recebendo o Certificado de Melhor Trabalho no eixo Museologia, Memória e Patrimônio Cultural. O evento aconteceu de 22 a 25 de abril de 2025, na própria universidade.
Além de Sigla, o certificado também homenageou o esposo e o primogênito do casal, respectivamente o também pedagogo Antonio Freitas e Augusto Freitas, que é funcionário da Amazon Connection Carbon.
No ano passado, durante o Festival da Mandioca, a empresa realizou medições e compensações de créditos de carbono provocados pelo evento, reforçando o compromisso ambiental de seus promotores e parceiros.
COP 30
Sigla Freitas também destacou que a exposição é um dos eventos locais inseridos na pauta de preparação para a Conferência Nacional sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, que será realizada no mês de novembro, em Belém.
“Com a realização da COP 30, queremos reforçar a importância de fortalecer práticas sustentáveis e de preservar nossas tradições culturais, incluindo nossa gastronomia única”, reforçou.
Na avaliação dela, a exposição é um passo importante para promover o reconhecimento e o fortalecimento da culinária de origem indígena e afrodescendente.
“O evento contribui para valorizar nossa identidade cultural e para o desenvolvimento sustentável da nossa região. Contamos com a sua presença para juntos celebrarmos nossa história e cultura através da nossa deliciosa gastronomia paraense!”
Foto: Divulgação