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Jogo com a saúde

Incidente no PSM da Augusto Montenegro escancara falhas e abre feridas políticas

Episódio revela um sistema de portas giratórias, onde pacientes viram estatística, editais viram contratos e a rede municipal segue à deriva.

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  • 24/09/2025, 08:00
Incidente no PSM da Augusto Montenegro escancara falhas e abre feridas políticas
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sábado, 20, começou como tantos outros na capital, até que um episódio no Pronto Socorro Municipal Dr. Roberto Macedo, na Augusto Montenegro, escancarou as mazelas da rede de saúde de Belém. Um paciente, recusado pela UPA de Icoaraci, chegou em busca de atendimento. A resposta: negativa. O PSM alegou falta de regulação - responsabilidade da própria UPA que negara o caso. A Polícia Militar foi acionada, e o médico de plantão só não saiu dali algemado por omissão de socorro porque o paciente acabou improvisadamente instalado… na ala pediátrica.

 

Organizações Sociais que antes gerenciavam boa parte da rede perderam espaço, deixando o campo livre para a entrada da Tríade Serviços/Fotos: Divulgação.

A cena resume o “jogo de empurra” que marca a rede municipal: unidades que recebem recursos, mas não atendem; prontos socorros superlotados que absorvem o que deveria ser resolvido antes; e uma engrenagem burocrática que transforma a vida dos pacientes em uma via-crúcis.

Superlotação é rotina

No PSM da Augusto Montenegro, um espaço que deveria abrigar 40 leitos, ostenta hoje 70 pacientes. Macas espremidas nos corredores, pacientes em situação grave misturados a casos que poderiam ser resolvidos em unidades de menor complexidade. A equação é simples: quanto mais as UPAs deixam de cumprir o papel para o qual foram contratadas, mais os prontos socorros transbordam.

E não é por falta de recursos. Cada especialidade que uma UPA oferece tem financiamento compartilhado entre União, Estado e município. O dinheiro chega, mas o serviço, em muitos casos, não.

Especialidade fantasma

O exemplo mais emblemático é o da ortopedia. Editais são lançados, contratos assinados, recursos repassados. Mas, diante do paciente, a resposta é padrão: “não temos estrutura para cirurgias ou imobilizações”. Ou seja, o dinheiro está na planilha, a justificativa está nos papéis, mas a tala ou a cirurgia ficam para os prontos socorros - que, ironicamente, não recebem o reforço financeiro previsto para o atendimento primário.

A matemática é cruel: basta que o paciente dê entrada na UPA, assine papéis, preencha formulários, o contrato se justifica, o recurso se mantém, e o drama segue sendo empurrado para outra unidade.

OS na berlinda

As Organizações Sociais, que antes gerenciavam boa parte da rede, foram lentamente estranguladas até perderem espaço. Chegaram a fazer empréstimos em bancos para pagar médicos e evitar greves, já que os repasses da prefeitura eram atrasados propositalmente, segundo relatos. A resistência durou pouco: uma a uma, foram sendo afastadas, deixando o campo livre para a entrada da Tríade Serviços, empresa que hoje responde pelo gerenciamento das unidades.

Critérios de escolha? Pouco claros, mas coincidem com a reconfiguração de contratos e com a política de especialidades que aparecem nos editais, somem nos corredores e reaparecem nas estatísticas.

Gestão fala por sinais

Há pouco mais de duas semanas, um ato administrativo no Diário Oficial chamou a atenção: a exoneração de Marco Normando, até então na Secretaria de Saúde do Estado. Diferentemente da praxe, o registro não trouxe o tradicional “a pedido”. Para muitos, um recado claro: quando se trata de saúde pública, as movimentações são mais do que burocráticas - são sinais de quem manda, quem obedece e quem está na vitrine.

Coincidência ou não, a transição coincide com os episódios mais ruidosos no sistema de saúde da capital, que hoje patina entre improvisos, empurra-empurra e suspeitas de que a prioridade é o papel timbrado, não o paciente na maca.

Falas e corredor lotado

No papel, Belém conta com uma rede de UPAs e UBSs prontas para resolver casos básicos e de média complexidade. Na prática, essas portas se fecham e encaminham seus pacientes para os prontos-socorros, já congestionados. O discurso oficial fala em eficiência, planejamento, fortalecimento da rede, mas a realidade grita nos corredores: gente deitada em cadeiras, improviso na pediatria, polícia acionada para obrigar atendimento.

Metáfora do poder

O incidente na Augusto Montenegro não é um ponto isolado: é o retrato de uma engrenagem que opera mais em função da política do que do paciente. Recursos existem, contratos também. Mas, entre o edital e a maca, algo se perde. E, nesse jogo de sombras, a saúde pública em Belém acaba funcionando como metáfora do poder: quem pode, manda; quem não pode, obedece; e quem precisa, espera - nem que seja deitado no corredor.

Ao fim e ao cabo...

A cena de sábado poderia ter virado tragédia, mas virou rotina. O paciente, afinal, não morreu no trajeto, apenas foi empurrado de uma porta para outra, como tantos outros. E a engrenagem segue funcionando: editais abertos, recursos repassados, contratos assinados, corredores lotados. Belém já se habituou à maratona da saúde pública - onde a corrida não tem linha de chegada, e os únicos que não ficam sem fôlego são os gestores, especialistas em atravessar crises como quem troca de roupa.

No fim, a ironia é simples: para os doentes, vale o improviso; para os cofres, vale a rubrica; para o sistema, vale a estatística. E para os observadores, resta a constatação: a saúde de Belém não cura ninguém - mas continua sendo um ótimo paciente da política.

Papo Reto

A Justiça Federal suspendeu, nesta terça-feira, 24, a decisão que havia afastado a diretora-presidente do Detran, Renata Mirella Coelho (foto), da direção do órgão. 

•O documento, assinado pelo desembargador Marcus Vinícius Reis Bastos, derruba as sanções anteriores de suspensão da função pública e de proibição de acesso ou frequência física no Detran.

Para a Justiça, a simples convicção de que alguém “possa vir a ter cometido erro” não condiz com um sistema constitucional baseado na presunção da inocência.

•Com isso, Renata Coelho reassume o cargo, ocupado até então - temporariamente - pelo advogado Alexandre Buchacra.

A deputada federal Renilce Nicodemos levou novo revés na Justiça por, mais uma vez, tentar calar comunicadores que não lhe agradam nos comentários. 

•Em decisão monocrática assinada pelo desembargador Constantino Guerreiro, a 1ª Turma de Direito Privado do TJ paraense negou censura ao radialista Amaury Silveira, no programa “Cospe Fogo”, da Rádio Povo FM 94.3.

A deputada, a exemplo do que conseguiu fazer com o ex-deputado Wladimir Costa, alegou conteúdo difamatório contra ela no programa.

•Ocorre que, para o judiciário paraense, “não há elementos inequívocos que justifiquem a censura prévia”. Mês passado, Renilce Nicodemos sofreu revés semelhante na Justiça contra comunicadores do sul do Pará.

Acredite, o efetivo das Forças Armadas encolheu de 381.790 militares da ativa, em 2020, para 346.575 até novembro de 2024.

•O total de 35.215 homens e mulheres fardados, traduz uma das maiores quedas no contingente já registradas desde a redemocratização do País.

O Ministério da Defesa confirmou os números debitando-os à "necessidade de diminuir as despesas". Curto e direto!

Mais matérias OLAVO DUTRA

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.