Manifestação trava acesso à Blue Zone; Munduruku exigem reunião com Lula Comunicação dura da ONU exige segurança e acena com possível intervenção na COP Poder legislativo recebe delegações de 40 países amanhã em encontro da COP30
Pressão da floresta

Manifestação trava acesso à Blue Zone; Munduruku exigem reunião com Lula

Um fluxo de chefes de missão, ministros e técnicos ficou retido na barreira improvisada; quem não tinha crachá, ficou esperando e reclamando.

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  • Da Redação | Coluna Olavo Dutra
  • 14/11/2025, 10:20

Pacote de cobranças também exige o cancelamento definitivo da Ferrogrão, que pode impactar o Tapajós com o fluxo de soja/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


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ONU nunca trabalhou tanto na COP30. Antes das 9h desta sexta, 14, uma nova manifestação em frente à entrada principal da Blue Zone obrigou a UNFCCC a emitir alerta aos delegados: “não há perigo, mas usem a entrada lateral”. 

Dessa vez, o protesto é do povo Munduruku, articulado pelo Movimento Ipereg Ayu, que cobra reunião urgente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O alvo é o Decreto 12.600/2025, que instituiu o Plano Nacional de Hidrovias e incluiu Tapajós, Madeira e Tocantins como eixos prioritários de navegação. Na avaliação das lideranças, a medida “abre a porteira” para dragagens, explosão de pedrais sagrados e avanço acelerado dos portos privados - sem consulta prévia, livre e informada, como manda a Convenção 169 da OIT.

“O governo e o mundo precisam entender que nossa floresta não está à venda”, afirmou uma liderança ao microfone.

Pacote de críticas

Os Munduruku também protestam contra projetos de crédito de carbono e mecanismos de REDD+ jurisdicional discutidos na COP30. Para o movimento, trata-se de “venda da floresta” que entrega autonomia aos intermediários e ignora o verdadeiro motor da crise: desmatamento industrial, garimpo, hidrovias e soja.

Números levantados pelo Inesc ajudam a ilustrar o quadro: cargas nas hidrovias do Tapajós saltaram de 4 mil t (2019) para 167 mil t (2022) - alta de mais de 4.000%; crescimento dos portos e barcaças reduz pesca, contamina água e estrangula a circulação de ribeirinhos; dragagens emergenciais recentes remexeram sedimentos contaminados e afetaram igarapés usados para pesca e navegação.

Conflito anunciado

O movimento exige também o cancelamento definitivo da Ferrogrão, que pode multiplicar por seis o fluxo de soja no Tapajós até 2049. Isso significaria mais portos em Miritituba, Itaituba e Trairão; mais dragagens; mais pressão fundiária; e risco maior de contaminação por agrotóxicos.

“Querem destruir o fundo do rio e explodir nossos pedrais sagrados. Quem mora aqui somos nós, não as empresas”, disse outra liderança.

 Fora dos eixos

A manifestação ocorre na mesma semana em que o governo defende, na plenária da COP30, um “mapa do caminho” para superar a dependência dos combustíveis fósseis. A ministra Marina Silva e aliados de peso conseguiram apoio de Alemanha e Reino Unido. Mas Lula segue defendendo a exploração da Margem Equatorial como “recursos necessários” para financiar a própria transição energética. “O presidente fala em transição, mas quer expandir petróleo e hidrovias na Amazônia”, afirma Luene Karipuna.

Recado direto

Outro ponto cobrado é a retomada das demarcações paradas no Ministério da Justiça e na Casa Civil, e a responsabilização do Estado pelo aumento de conflitos na expansão da soja. O recado dos Munduruku, entregue diante da porta mais simbólica da COP30, é curto e direto: “Revogue o decreto. Cancele a Ferrogrão. Demarque nossas terras. Nossa floresta não está à venda.”

Papo Reto

 O embaixador Corrêa do Lago (foto) está eufórico. A ONU divulgou os números preliminares da COP em Belém: cerca de 50 mil participantes inscritos, podendo aumentar ainda mais nos próximos dias, perdendo apenas para a COP28, em Dubai.

•A comitiva brasileira é a maior com 3,8 mil participantes, seguida da China, com 789; Nigéria, com 749, e jornalistas, que somam cerca de 4 mil, um recorde entre as COPs.

A ONU trouxe cerca de 13,5 mil funcionários que estão debruçados sobre as deliberações da cúpula internacional montando o relatório final, avanços e compromissos fechados durante os debates.

•Quem predizia um caos total em Belém durante a COP está surpreso. Cinco por cento da capacidade hoteleira da cidade ainda estão disponíveis.

Povos de todos os continentes misturam-se pelos corredores e salas de reuniões no Parque da Cidade, além do espaço térreo do hangar, totalmente ocupado por delegações.

•O deputado federal Airton Faleiro reiterou o compromisso do Brasil no cumprimento dos acordos firmados nas COPs anteriores.

Faleiro destaca a defesa dos grandes temas como aquecimento global, a sustentabilidade, o uso correto da biodiversidade e principalmente a valorização dos povos da floresta.

•A julgar pelos comentários e o intenso debate nas redes sociais, o tema preços do que comer na COP supera de longe tudo que diz respeito ao legado da Conferência da ONU para Belém.

A prefeita de Marituba, Patrícia Alencar, era vista ontem desfilando charme e simpatia nos corredores da Conferência do Clima. Entrou na vitrine mundial.

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Olavo Dutra

Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.