A visita ao Brasil que o presidente da França, Emmanuel Macron, realiza a partir de terça-feira, 26, começando por Belém, deve marcar o capítulo principal de uma aliança política pensada pelo presidente francês e por Lula, presidente do Brasil, como uma espécie de ponte entre os países ricos e o chamado Sul Global.
Trata-se de uma parceria que começou a ser construída antes de mesmo de o petista iniciar seu terceiro mandato. A visita de Estado de Macron foi pensada para transmitir a mensagem de que o Brasil, ao menos no aspecto político, diferencia os franceses dos demais parceiros europeus.
O presidente francês permanecerá três dias no país e participará de uma agenda densa de compromissos em quatro cidades: Belém (PA), Itaguaí (RJ), São Paulo (SP) e Brasília (DF). Lula só não o acompanhará nas atividades em São Paulo.
Nada de repasses
Cada cidade concentrará um eixo da relação entre França e Brasil. Belém, sede da COP30 no próximo ano, será palco das discussões ambientais. Macron se reunirá com Lula e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), na Ilha do Combu, que fica de frente para Belém e é vista como palco de pautas relacionadas ao meio ambiente.
Mas, apesar do simbolismo e do peso de uma cidade localizada no coração da Amazônia, os franceses frustraram as autoridades brasileiras ao sinalizar que não pretendem anunciar, durante a visita de Macron, doação para o Fundo Amazônia - o principal mecanismo de financiamento de ações de preservação no bioma.
Outros assuntos
Os dois presidentes pretendem ainda trocar experiências sobre práticas de combate à desinformação e à disseminação de notícias falsas. Macron deve relatar a Lula as regulamentações adotadas na Europa para aumentar a responsabilidade das plataformas e redes sociais no ambiente digital.
A expectativa é de que não haja avanços nas negociações sobre o acordo União Europeia-Mercosul, uma vez que a França é hoje a maior força de resistência ao tratado.
Em Brasília, a pauta deve incluir assuntos da geopolítica atual, entre eles as guerras na Ucrânia e na faixa de Gaza. Ambos já tentaram assumir posições de mediadores nos conflitos, sem sucesso.
Parceria e discordâncias
Em Paris, o diagnóstico é de que Brasil e França possuem uma agenda comum, que se apoia na ideia de negociações no âmbito político para a resolução de conflitos, mas têm análises distintas sobre a situação.
Ambos os países defendem que a solução para a guerra na Faixa de Gaza passa pela criação de um Estado da Palestina, mas divergem quanto ao uso de algumas terminologias, como a da palavra "genocídio" para descrever o cenário na região.
Durante a visita de Macron, o plano é direcionar a discussão para pontos consensuais entre os dois governos tanto no tema da Ucrânia como no de Gaza. As situações no Haiti e na Venezuela também devem ser colocadas na mesa durante o encontro bilateral.
Foto: AFP
Com a Folha