Jogos de Azar

Noelle e Mago das Unhas são presos por lavagem de dinheiro e indução ao endividamento

Os alvos da ação policial movimentaram R$ 42 milhões e são investigados por associação criminosa, lavagem de dinheiro, crimes contra a economia popular e outras fraudes

17/04/2025, 19:00
Noelle e Mago das Unhas são presos por lavagem de dinheiro e indução ao endividamento

Belém, PA - Os influenciadores digitais Noelle Araújo e Gleison Soares, conhecido como “mago das unhas”, foram novamente presos na manhã desta quinta-feira, 17, durante a operação “All In”, deflagrada pela Polícia Civil do Pará, em diferentes pontos de Belém. O objetivo da ação é desarticular um amplo esquema de movimentação financeira ligado à exploração ilegal de jogos de azar por meio de plataformas digitais, conhecidas popularmente como “jogo do tigrinho”.


A Operação deu cumprimento a dois mandados de prisão preventiva e dois mandados de busca e apreensão domiciliar, expedidos pela Vara de Inquéritos Policiais e Medidas Cautelares de Belém. A ação policial foi coordenada pela Divisão de Combate a Crimes Contra Direitos Individuais Praticados por Meios Cibernéticos (DCCCDI), vinculada à Diretoria Estadual de Combate a Crimes Cibernéticos (DECCC).


De acordo com a Polícia Civil, a movimentação bancária destes influenciadores indicava o crime de lavagem de dinheiro, o que foi constatado após meses de investigação sobre transações financeiras. A partir da comprovação de ilegalidade, a polícia pediu à Justiça os mandados que foram cumpridos hoje e culminaram na prisão de Noelle e Gleison, assim como na apreensão dos celulares dos acusados, objetos de marcas luxuosas e um veículo importado de luxo.


Esquema criminoso


Os presos são investigados por praticar crimes contra a economia popular e outras fraudes relacionadas à exploração ilegal de cassinos on-line e jogos de azar em plataformas digitais, além de participação em esquema criminoso de lavagem de dinheiro para dissimular a origem ilícita dos bens e valores provenientes do crime. Os alvos da ação policial movimentaram R$ 42 milhões em contas bancárias associadas às práticas criminosas.


Como pagamento pela divulgação dos jogos on-line, os influenciadores recebem das plataformas de jogos alta quantia em dinheiro. Um dos investigados realizou transações financeiras que ultrapassaram R$ 20 milhões - mais de R$ 1,54 milhão em apenas 60 dias. Os investigados tentaram ocultar o fluxo financeiro real por meio de transações fracionadas e utilizando “laranjas”.


Violações


Essa prática, segundo a investigação, revela uma rede estruturada que manipula a percepção pública, utilizando estratégias que envolvem a promessa enganosa de prêmios, levando os consumidores ao erro e violando diretamente os princípios da boa-fé nas relações de consumo e na comunicação digital e comercial.


“Apesar da repercussão de diversos cumprimentos de mandados judiciais anteriores relacionados à ilegalidade dos jogos on-line, muitos influenciadores digitais dão continuidade à prática delitiva, aumentando o volume da divulgação desses ‘joguinhos’, o que aumenta, também, o número de transações ilícitas. Nós conseguimos observar que a exibição constante de padrão de vida dos nossos alvos era incompatível com as atividades e os valores oficialmente declarados por eles, o que reforça indícios de ocultação patrimonial. Essas constatações evidenciam que os investigados mantêm práticas que indicam a continuidade da atividade criminosa, operando de forma recorrente e estruturada”, explicou a delegada Vanessa Lee, diretora da DECCC.


Os presos foram conduzidos à delegacia especializada, onde passaram pelos procedimentos de praxe, e agora estão à disposição da Justiça.


Impacto social


Os jogos de azar on-line, como o “Fortune Tiger”, tornaram-se muito populares, especialmente entre as classes sociais D e E, sendo difundidos rapidamente nas redes sociais, envolvendo principalmente jovens e adultos endividados. O papel dos influenciadores digitais é criar uma atmosfera de "facilidade financeira", atraindo um público mais vulnerável.


Esses influenciadores, que atuam como "embaixadores" das plataformas, são vistos como um veículo direto para atrair um público com promessas de "dinheiro fácil e rápido". O vício em jogos de azar tem consequências desastrosas para a saúde financeira e mental dos indivíduos. Uma pesquisa realizada pelo Serasa, em parceria com o Instituto Opinion Box, revelou que 40,2% dos endividados das classes D e E mencionaram o "jogo do tigrinho" como uma de suas principais apostas. Outros 25% dos endividados nessas classes citam outras modalidades de apostas, como “bolões”, videogames e apostas em entretenimentos.


Já a pesquisa do Instituto DataSenado, divulgada em 1º de agosto de 2024, mostra que homens de até 39 anos, com ensino médio completo, são os principais usuários de aplicativos de apostas esportivas no Brasil. O levantamento, realizado entre 5 e 28 de junho, com mais de 21 mil pessoas, mostrou que 13% dos brasileiros com 16 anos ou mais apostaram nos últimos 30 dias.


Foto: Ascom/PCPA

(Com a Agência Pará)

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