Estratégica cara

Recorde de pesquisas eleitorais financiadas pelos próprios institutos acende alertas no TSE e no Congresso

De janeiro a abril, foram 1.127 levantamentos, quatro vezes mais do que no último pleito para prefeito e vereador, em 2020.

07/05/2024 23:07
Recorde de pesquisas eleitorais financiadas pelos próprios institutos acende alertas no TSE e no Congresso

Brasília, DF - A cinco meses das eleições municipais, o número de pesquisas eleitorais registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) neste ano é o maior da série histórica da Corte, iniciada em 2012. De janeiro a abril, foram 1.127 levantamentos, quatro vezes mais do que no último pleito para prefeito e vereador, em 2020, quando houve 296 no mesmo período.


Os dados mostram que quase metade, 500 (44,4%), foram autofinanciadas - ou seja, pagas pela mesma empresa que realizou a sondagem. Nesse formato, ao informarem que realizaram o levantamento com verba própria, os responsáveis não precisam prestar contas sobre a origem do dinheiro, o que acende o alerta em entidades e gera debate no Congresso.


Aumento exponencial


Os números da Corte Eleitoral mostram que essa modalidade já havia sido maioria em 2020, respondendo por 74% dos levantamentos, mas caiu na eleição seguinte, de 2022 (36%). Na ocasião, a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) chegou a pedir uma investigação sobre a proliferação de CNPJs que registravam pesquisas eleitorais bancadas pela própria empresa.

“Empresas de pesquisa não são atividades beneficentes. Se surgem empresas que se dedicam a uma prática reincidente de levantamentos feitos com recursos próprios, isso pode ser um indicativo de que está acontecendo um financiamento implícito, que não aparece”, afirmou o presidente do Conselho de Opinião Pública da Abep, João Meira, que também é diretor e fundador do Vox Populi.


Mudanças


A proibição de pesquisas autofinanciadas é um dos pontos do projeto que trata do Código Eleitoral, já aprovado na Câmara dos Deputados, mas ainda sem consenso no Senado. O relator, senador Marcelo Castro (MDB-PI), defende acabar com essa modalidade.


“O que um instituto ganha em fazer a pesquisa de um candidato? É como se fosse uma loja que não vende as suas mercadorias. Isso serve para esconder quem o contratou, geralmente com dinheiro vivo”, afirmou Castro.


Em fevereiro, o TSE aprovou uma resolução para dar mais transparência às pesquisas autofinanciadas. Neste ano, as empresas são obrigadas a mandar à Corte o Demonstrativo de Resultado de Exercício (DRE) do ano anterior para comprovar que tem capacidade financeira para custear os seus próprios levantamentos.


Especialistas em eleições e representantes de empresas do setor também atribuem a alta à popularização dos métodos de coletas de dados. Se antes os levantamentos eram feitos pessoalmente, hoje, com processos automatizados, é possível enviar uma série de perguntas somente com uma base de e-mails ou telefones.


Pesquisas contratadas


A sigla que mais gastou até agora com pesquisas foi o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, que investiu R$ 199 mil em municípios nos quais pretende disputar a prefeitura. A legenda, por exemplo, contratou dois levantamentos, em Santos (SP) e em Londrina (PR), cada um por R$ 40 mil.


Na cidade do litoral paulista, a legenda avalia lançar a deputada federal Rosana Valle. Já na cidade do norte paranaense, ainda não há consenso se o nome da urna será o do deputado Filipe Barros ou o do presidente da Companhia de Habitação (Cohab), Bruno Ubiratan.


A segunda legenda que mais gastou com pesquisas foi o PSD, 18 ao todo, apenas em cidades do interior do Piauí. O custo total foi de R$ 66,5 mil - cada levantamento variou entre R$ 3,5 mil a R$ 5,5 mil - financiados por meio do Fundo Partidário da sigla comandada por Gilberto Kassab.


O estado que mais teve pesquisas registradas, contudo, foi Goiás, com 157 levantamentos até o momento. A de maior valor foi contratada pelo PL, que vive um racha na definição de quem será candidato na capital, Goiânia. O partido gastou R$ 34 mil para checar a viabilidade do deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que já se lançou como pré-candidato, mas enfrenta resistências internas.


Foto: Divulgação internet

(Com O Globo)

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