capital do Amazonas passou da sétima para a quinta posição entre 2002 e 2021 no ranking das economias municipais brasileiras. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de 103,3 bilhões de reais, Manaus deixou para trás Curitiba - agora em sexto lugar - e Porto Alegre - que despencou para o nono lugar - em duas décadas. Os surpreendentes números contribuem para que Manaus tenha um PIB per capita de 45.782,75 reais, superior aos 42.247,52 reais da média nacional, mas que apenas reforça o caráter desigual da distribuição de renda na Amazônia.
O estudo Produto Interno Bruto dos
Municípios 2021, divulgado ontem pelo IBGE, mapeia a economia das cidades,
incluindo recortes específicos por região e ramos de atividade produtiva. Os
772 municípios da Amazônia Legal, que soma uma população de 28,4 milhões de
habitantes, possuem um PIB de 910,3 bilhões de reais, o que corresponde a 10,1%
do total nacional. Apenas para comparação, a rica região de São Paulo detém uma
economia de 2,0 trilhões de reais, o equivalente a 22,6% do PIB brasileiro.
Depois da capital paulista -
PIB municipal de 829,0 bilhões de reais -, apenas Rio de Janeiro - 359,6
bilhões -, Brasília - 286,9 bilhões - e Belo Horizonte - 105,8 bilhões -
superam Manaus. A capital amazonense, que se ancora na Zona Franca de Manaus e em
suas indústrias de transformação, viu sua economia expandir 86% nos últimos dez
anos - de 2012 a 2021. Foi o maior crescimento do período entre as capitais da
Amazônia Legal, que abrange nove Estados brasileiros - Acre, Amapá, Amazonas,
Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e uma parte do Maranhão. São
Luís, que tinha um PIB de 22,7 bilhões de reais em 2012 e saltou para 36,5
bilhões em 2021, superou a economia do Pará nesse período, e já é a segunda
capital, à frente de Belém, com 33,5 bilhões de reais.
Abaixo do PIB nacional
Os únicos Estados da Amazônia Legal
cujas capitais têm uma economia que representa menos de 30% do PIB estadual são
Belém - 12,7%-, Tocantins - 20% e São Luís - 29,2%. Em todo o Brasil, são 14
unidades da federação nessa condição, incluindo as nordestinas Recife, Salvador
e João Pessoa. No restante da Região Norte, a riqueza se concentra nas capitais
Rio Branco -51,3% -, Macapá - 64,4%, Boa Vista - 74,1% - e Manaus -
78,5%.
Discurso do governador
O Pará é um Estado cada vez mais
dependente da extração mineral, carro-chefe da sua economia e que acaba por
contradizer o discurso do governador Helder Barbalho de converter o território
que governa em uma área voltada para o desenvolvimento sustentável. Como fazer
isso se Parauapebas, 22ª cidade “mais rica” do Brasil, ou Canaã dos Carajás,
34º maior PIB municipal brasileiro, se baseiam na mineração massiva? Ambos
possuem economias maiores que a capital Belém.
“Entre os 20 municípios de maior participação
no valor adicionado da indústria, em 2021, 14 pertenciam à região sudeste, dos
quais seis eram fluminenses; cinco paulistas; e três mineiros. Três pertenciam
à Região Norte, sendo eles Parauapebas, Manaus (AM) e Canaã dos Carajás”, anota
a pesquisa do IBGE, que permite traçar o perfil econômico das cidades
brasileiras.
Mineração para poucos
Canaã dos Carajás é um caso à parte.
O PIB per capita atual dessa cidade paraense é de 894.806,28 reais, mais de 20
vezes superior à média nacional. Só perde para Catas Altas, em Minas, que detém
o maior PIB per capita brasileiro: 920.833,97 reais.
A lista dos dez municípios mais
“ricos” da Amazônia Legal se refere a economias baseadas na mineração. Canaã
está localizada no sudeste do Pará, que nasceu de um assentamento agrícola. A
cidade, em tese, poderia conferir uma renda aos seus cidadãos 42 vezes maior
que a média dos 772 municípios da Amazônia Legal. Mas sua riqueza, ligada ao
projeto Serra do Sossego, tem dono: a mineradora Vale. O PIB municipal é de 35
bilhões de reais.
Nas últimas duas décadas, entre 2002
e 2021, o IBGE detectou que Porto Velho (RO) foi a única capital brasileira que
aumentou sua participação no PIB brasileiro, com crescimento de 3,3%. Isso foi
decorrente da construção e da entrada em atividade das usinas hidrelétricas de
Jirau e Santo Antônio. No período, as capitais da Região Norte tiveram um
decréscimo de 14,1%, com destaque para o tombo de 17,1% de Belém e o recuo de
10,7% da capital do Acre, Rio Branco.
Rumo ao interior
Nesse recorte, o IBGE detectou que a
economia tem se movido para os interiores. Nacionalmente, as capitais detinham
36,1% do PIB em 2002; duas décadas depois esse número caiu para 27,6% - ou
seja, os municípios menores já comandam 72,4% da riqueza brasileira. As capitais
do Amazonas, Pará, Amapá, Acre, de Roraima e do Tocantins viram a diferença
entre os seus PIBs per capita e o do Brasil cair substancialmente no período de
duas décadas. Isso ocorreu, a título de comparação, com outras capitais “mais
ricas”, como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto
Alegre. Mas a queda dessa participação de Manaus está entre as dez maiores do
Brasil. Se em 2002, a capital amazonense tinha 1,39 vez o PIB brasileiro,
dois anos atrás caiu para 1,08.
No estudo, o IBGE ressaltou que a
economia continua concentrada no Brasil. “Em 2002, 13 grandes concentrações
urbanas apresentavam PIB per capita maior que a média nacional. À exceção de
Brasília (DF) e Manaus, as demais se encontravam nas regiões Sudeste e Sul”, registrou.
Salto para o futuro
Os crescimentos dos municípios seguem
uma vocação histórica, mas há sobressaltos. Um caso é o de Vitória do Xingu,
que dentre as cidades da Amazônia Legal apresentou o maior crescimento na
última década. Em 2012, ela possuía um PIB de 154,6 milhões de reais e um PIB
per capita de 11 mil reais. Os dados atualizados do IBGE trazem uma surpresa. A
riqueza local agora é da ordem de 4,2 bilhões de reais e o PIB per capita, de
274 mil reais. No período, esse município paraense vizinho a Altamira verteu
sua economia ligada a áreas administrativa para a de eletricidade. Não deixa de
ser irônico que no ano passado a prefeitura de Vitória do Xingu corria contra o
tempo para eletrificar bairros da zona rural.
Os recortes que o IBGE apresenta para
o PIB municipal segundo as atividades econômicas, revela o que muitos já sabem.
A riqueza da Amazônia não passa, necessariamente, pela agropecuária. Sorriso
(MT), com PIB de 12,5 bilhões de reais e PIB per capita de 131.899,11 reais, é
a primeira cidade cuja atividade agrícola lidera a economia. Mas esse destaque
confere ao município mato-grossense apenas a 123ª posição no ranking nacional.
Atividade “de ponta”
Na Amazônia Legal, 154 cidades têm na
lavoura sua atividade predominante, enquanto 51 se baseiam na pecuária. Apenas
8 dos 772 municípios rastreados nesse estudo do órgão federal têm dedicação à
extração vegetal e à pesca. São eles: Formoso do Araguaia (TO), Chapada dos
Guimarães (Mato Grosso), Aliança do Tocantins e Sucupira (TO), Codajás (AM),
Limoeiro do Ajuru (PA), Almas e São Miguel do Tocantins (TO).
Cidades que vivem à base de serviços
foram os que mais sofreram durante os últimos anos, aponta o IBGE: “Os
resultados mostram que municípios das capitais e demais agregações municipais
de maior participação no PIB brasileiro, por concentrarem as atividades de
serviços presenciais, foram os mais afetados pelas medidas restritivas de
isolamento decorrentes da pandemia de covid 19, ao longo de 2020, apresentando
queda nominal, entre 2019 e 2020″. Nos dois anos seguintes, houve uma
recuperação, mas ainda não suficiente para recuperar o padrão de antes da
pandemia.