Paraná omite dados sobre rejeição de candidatos e cria ambiente duvidoso para as eleições de 2026

A omissão, seja qual for o motivo, favorece artificialmente um equilíbrio entre adversários, ou até mesmo a supervalorização de um nome que enfrenta resistência nas urnas.

29/06/2025, 09:00
Paraná omite dados sobre rejeição de candidatos e cria ambiente duvidoso para as eleições de 2026
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uando uma pesquisa de intenção de voto coloca Eder Mauro e Daniel Santos em uma disputa parelha pelo governo do Pará e desloca Hana Ghassan para um lugar secundário, o impacto vai além dos números apresentados. Em um Estado cuja política é marcada no presente pelo domínio de uma família, movimentos surpreendentes e mudanças inesperadas de intenção de voto não são esperados com frequência e cada pesquisa eleitoral feita com uma distância colossal entre o hoje e o dia do pleito manifesta mais interesses e recados - e, via de regra, camufla armadilhas.

 

Levantamento aponta delegado - que não manifesta interesse no cargo - em situação de quase igualdade com Daniel Santos e distancia Hana Ghassan da disputa/Fotos: Divulgação.

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De início, a ausência de dados sobre rejeição dos candidatos nesta pesquisa do Instituto Paraná já levantaria questionamentos.

No Pará, como em qualquer cenário político competitivo, saber quem está vinculado a altas taxas de rejeição é tão relevante quanto conhecer o percentual de intenção de voto. Omitir tal dado pode servir para criar artificialmente um ambiente de equilíbrio entre adversários ou até supervalorizar um nome que, na prática, venha a enfrentar resistência significativa nas urnas. Ao apresentar dados inconsistentes e pesquisas parciais, a extrema direita tenta conduzir o debate ao seu favor, influenciando o noticiário, as articulações de bastidor e, claro, a percepção do eleitor. E deixa dúvidas e incertezas.

Avesso do avesso

Essa movimentação não é novidade na história do Pará. O Estado sempre viveu entre tentativas de construir frentes amplas, acordos costurados entre legendas opostas e estratégias desenhadas para isolar ou cooptar determinados candidatos. 

O pragmático Daniel Santos, atual figura em ascensão, nunca escondeu seu fastio com as pautas mais ideológicas, mas teve sua adesão ao PSB cacifada pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que se sente muito à vontade em um partido que costuma dialogar com setores progressistas.

A súbita pressão para que Daniel mude não se limita à negociação partidária: exige dele não apenas uma troca de sigla, mas também de postura e discurso. O Daniel low-profile daria lugar a um negacionista da vacina, ou abraçado à bandeira de Israel? Quem convive com ele diz que isso não ocorrerá. 

Preço da mudança

O PL, partido de Jair Bolsonaro, enxerga em Daniel uma oportunidade de ganhar espaço no Pará, controlado pela família Barbalho e onde o voto na esquerda sempre teve um peso significativo - lembrando que a esquerda governou Belém por três gestões, tem presença no Senado e já governou o Estado. A oferta pelo apoio vem com preço alto: além da filiação, há a expectativa de que Daniel adote as principais bandeiras que mobilizam o eleitorado bolsonarista em outros Estados, perdendo a chance de dialogar com o centro amplo, que cansou da polarização. Para o candidato, as implicações são profundas. Se aceitar, pode desagradar o eleitor moderado, perder a confiança daqueles que sempre o apoiaram ou ser visto como alguém disposto a qualquer negócio em nome da sobrevivência política. 

Se recusar, não terá contra si a máquina eleitoral e o peso financeiro e midiático que o PL pode garantir, porque esses votos não são do PL, mas de um público mais amplo que rejeita a polarização e quer mudanças. Nas palavras de Jota Netto, consultor de estratégia da Coluna Olavo Dutra, Daniel não vence sem os votos da direita, mas perde se passar a fazer parte disso. E esclarece: os votos da Direita anti-Helder serão de Daniel, independente do que venha a acontecer com o PL, porque o prefeito de Ananindeua é o adversário com mais chances. “O pragmatismo vencerá a ideologia”, ensina Jota Netto.

Peso da fidelidade

Nessa conjuntura, é impossível ignorar o olhar atento da família Barbalho. Helder Barbalho, governador que está com o segundo mandato chegando ao fim, conhece as artimanhas do poder local e já viu candidatos subestimados se tornarem protagonistas de última hora. A história do Pará mostra que alianças formadas sob pressão frequentemente racham quando chegam a grandes decisões. Para a tradição política local, fidelidade partidária tem peso - e mudanças bruscas podem cobrar um preço caro nas urnas.

Por outro lado, a experiência recente indica que nem sempre a adesão às pautas bolsonaristas garante avanço eleitoral. Candidatos que embarcaram nessa onda em Santarém, Belém, Ananindeua e várias outras cidades acabaram derrotados, o que revela a existência de um eleitor mais crítico, menos suscetível a decisões tomadas de cima para baixo e que não coloca seu voto no balcão dos ordinários, daqueles que vendem e se vendem. O eleitor paraense tem se mostrado recalcitrante às estratégias de manipulação, estejam elas disfarçadas em pesquisas duvidosas ou em discursos elaborados nos gabinetes.

Um voo indesejável

À medida que as eleições se aproximam, o debate tende a ficar mais intenso. Táticas de pressão através de pesquisas, tentativas de cooptação partidária e movimentações nos bastidores devem ocupar o centro dos debates. Para Daniel Santos, o mais difícil será manter a independência sem perder popularidade. 

Para Eder Mauro, consolidar sua posição depende de não ser visto como carta fora do baralho nas disputas majoritárias, embora até as pedras saibam que ele será candidato a deputado federal. No português claro: alçar voo rumo ao Palácio do Governo não é a praia do delegado e a prova está nas eleições municipais, quando sua candidatura foi imposta pela direção do partido.

Cruz e caldeirinha

O pano de fundo desse movimento da extrema-direita é sequestrar Daniel Santos enquanto o prefeito busca preservar sua identidade política, sem se tornar refém das disputas nacionais ou das pressões vindas de fora para dentro.

O Pará está diante de mais uma encruzilhada, e as escolhas feitas agora definirão não só o próximo governo, mas também a capacidade do Estado de se manter fiel à sua trajetória e expectativas de renovação política.

Papo Reto

A Casa Civil do governo do Estado - leia-se Luiziel Guedes (foto) - distribui convites a prefeitos e prefeitas para a apresentação oficial da empresa Aegea Saneamento, vencedora da concessão dos serviços de abastecimento de água e esgoto sanitário.

•A reunião acontece amanhã, 30, no Hangar. Detalhe: ainda está prevista para o dia 5 de agosto nova licitação para contratação de serviços no setor na região oeste do Pará. 

Em Roma para o Jubileu dos Padres, Dom Alberto Taveira foi representado nos eventos da Arquidiocese de Belém por Dom Júlio Endi Akamine, arcebispo coadjutor.

•Pelo visto, aliás, muito bem representado.   Dom Endi participou ativamente de compromissos, procissões e quermesses juninas em Icoaraci e Outeiro.

Além disso, passou por paróquias de Ananindeua e cumpriu agendas protocolares na Cúria com diversas Congregações Religiosas que atuam em Belém. 

•Até participou de uma homenagem que lhe foi prestada pela Associação Nipo-Brasileira, demonstrando que estava se sentido em casa. 

As atividades esportivas da Usina da Paz do Icuí, em Ananindeua, estão paralisadas há mais de mês, para "manutenção".

•A questão que todos perguntam é: por que a tal manutenção não foi planejada para o mês julho, quando a Usina não funciona por conta das férias?

Para surpresa de muitos, não de todos, Solange Ribeiro, irmã do prefeito Mário Júnior, foi nomeada diretora da Usina da Paz de Bragança. 

•Mais uma baixa na equipe do prefeito Igor Normando. Desta vez, foi Elson Santos, que deixou a Diretoria de Publicidade e Propaganda da Secretaria de Comunicação. 

A despedida foi na sexta-feira, 27. Elson deixa o cargo porque vai se dedicar ao doutorado na UFPA. Aliás, essa Secretaria colocou anúncio nas redes sociais para contratar assessor de imprensa e coordenador de mídias sociais.

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