Cooperação internacional deixará “praça flutuante” da Itália em Belém como mais um legado da COP30

Estrutura chegará à capital vinda de Veneza, cidade italiana que também se equilibra sobre as águas, e será apresentada ao mundo em setembro, durante Bienal de Arquitetura, na Itália.

25/06/2025, 11:00
Cooperação internacional deixará “praça flutuante” da Itália em Belém como mais um legado da COP30
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elém continua na ordem do dia - ora sob críticas, ora como “modelo” para entidades e estudiosos que acreditam que podem “salvar” a cidade. E tudo começou dois anos atrás, quando a capital paraense foi anunciada como sede da COP30.

“AquaPraça” será montada em frente à Casa das 11 Janelas durante a Conferência do Clima, para receber eventos culturais relacionados à COP/Fotos: Divulgação.

Uma das mais recentes versa sobre uma “praça flutuante” que a Itália vai doar a Belém - justamente o Pará, que tem grandes estaleiros, empresas que sabem muito bem como construir esse tipo de flutuante. Aliás, se retroceder do tempo, chega-se à época de Hélio Gueiros como prefeito de Belém e um certo entreposto pesqueiro, feito de ferro, que nunca funcionou e afundou – ou foi afundado - na Feira do Açaí...

O certo é que Belém vai ser o destino da "AquaPraça", uma estrutura metálica flutuante projetada para ser um centro de discussões e eventos sobre a crise climática global. “Uma estrutura com um propósito global”, diz o projeto.

A “Veneza” daqui

A plataforma será apresentada ao mundo antes -, dia 4 de setembro, no Arsenale -, durante a 19ª Bienal de Arquitetura de Veneza, na Itália, que, tal qual Belém, é uma cidade que se equilibra sobre as águas de muitos canais. Depois dessa estreia, a estrutura atravessará o Oceano Atlântico em direção à capital paraense, onde servirá como espaço central para eventos, debates e ações culturais relacionados às mudanças climáticas da Itália, uma espécie de marco inovador durante a COP30, de 10 a 21 de novembro próximo.  

Trata-se de um projeto colaborativo, concebido pelos escritórios Carlo Ratti Associati, da Itália, e Höweler + Yoon, dos EUA. A construção está na fase final, sendo executada pela empresa especializada em estruturas metálicas Cimolai, no nordeste da Itália. 

Legado para Belém

Com mais de 400 metros quadrados, a praça foi idealizada para funcionar como um “fórum flutuante”, capaz de receber até 150 pessoas. O espaço será versátil, abrigando exposições, workshops, simpósios e apresentações artísticas. A função principal é atuar como um catalisador aos diálogos climáticos, integrando-se à paisagem amazônica.  A estrutura ficará ancorada em frente à Casa das Onze Janelas, durante a COP30. Depois será doada às autoridades como um legado da Conferência, fortalecendo a conexão entre meio ambiente, sociedade e arquitetura. A meta é que, após a Conferência, a estrutura se torne um marco permanente na Baía do Guajará, e poderá solidificar o papel estratégico de Belém como a porta de entrada da Amazônia nos debates globais sobre sustentabilidade. O projeto é resultado de uma ampla articulação internacional, contando com o apoio de diversas entidades.  

Pavilhão do mundo 

A praça será também um pavilhão único no mundo, com o qual a Itália participará da COP30. A estrutura da plataforma flutuante foi financiada pelo Ministério das Relações Exteriores e projetada por Carlo Ratti, curador da Bienal de Arquitetura de Veneza e que recentemente esteve no Brasil para uma visita técnica.  

A estrutura flutuante, depois de ser conhecida em Veneza, chegará ao Brasil após uma viagem transatlântica, foi inspirada no Teatro del Mondo, apresentado por Aldo Rossi em 1979. Ele disse que a instalação "se inseria poeticamente na lagoa veneziana", lembrando que Rossi afirmava: “A arquitetura deveria e poderia dialogar com o passado, em um jogo de memórias". 

Princípios e fins 

A AquaPraça utiliza princípios físicos - como o de Arquimedes - para se adaptar ao aumento do nível do mar. Mas não se sabe ainda como irá se comportar nas águas da Baía do Guajará, que, além de sofrer a influência das marés, também passa pelas maresias, com ondas de considerável tamanho, como é característico da orla da cidade.  

A base que ficará submersa se ajusta continuamente por meio de um sistema de retenção e liberação de água, mantendo a estabilidade da estrutura e permitindo que o público perceba, em tempo real, as oscilações naturais do nível das águas. Isto é, foi pensada para se adaptar e mover de acordo com a variação do nível da água. 

“A AquaPraça incorporou uma tecnologia, baseada nos princípios da flutuabilidade e do equilíbrio, que permite o armazenamento e liberação da água, por meio de câmaras construídas para serem inundadas, como tanques de lastro de um submarino, fazendo com que a estrutura ‘mergulhe’ ou ‘emerja’. Sensores das câmaras de ar monitoram os níveis e controlam bombas para manter esse equilíbrio com precisão”, explica o arquiteto Eric Höweler, do escritório Höweler + Yoon. 

Mais detalhes  

Para se integrar à paisagem amazônica, a praça flutuante passará por adaptações, que vão desde a escolha dos materiais e detalhes construtivos, até a adição de uma cobertura protetora, que fornecerá sombra, protegerá da chuva e canalizará água. A instalação também incluirá facilidades de acesso por terra, através de um cais e uma passarela.  

“A natureza flutuante da AquaPraça responde diretamente aos desafios dos altos níveis de água, particularmente crucial na Amazônia, onde a infraestrutura urbana é vulnerável a enchentes e à elevação do nível da água”, reflete Carlo Ratti. 

Redes sociais  

Há duas semanas, quando foi divulgada a notícia sobre a praça flutuante, os internautas de Belém ficaram entre felizes e injuriados. Um deles, ironicamente, disse: “Façamos silêncio: a Itália vai nos ‘ensinar’ sobre o movimento das águas dos nossos rios”.  

Outro: “Belém já flutua diariamente e atualmente já começa a flutuação natural por falta de macrodrenagem, esgoto e saneamento básico. Qualquer praça daqui de Belém, depois que chove, vira flutuante”.  

“Já existe a ‘aquarua’ nos dias de chuva, e como gostam de ‘mandar real’ para o governador do Pará”.  

“Essa estrutura deveria ficar lá na prainha do Ver o Rio, iria ficar lindo”, sugere outra pessoa.  

Papo Reto

Parece que o procurador-geral do Estado, Ricardo Sefer (foto), planeja ficar no comando da Secretaria de Educação mais tempo que se previa. Ricardo foi nomeado para responder pelo cargo interinamente.

•Desde segunda-feira, o procurador está levando sua equipe de trabalho para a Secretaria. Gisleno Cruz, por exemplo, foi escalado por Ricardo Sefer para atuar simultaneamente na Cosanpa e na Seduc. 

O nome da cantora Fafá de Belém foi anunciado como curadora cultural da Casa Brasil, espaço estratégico e destaque durante a COP30. 

•Idealizado pelo Gael Grupo, o projeto terá dez eixos temáticos alinhados aos ODS, com programação imersiva que inclui rodas de conversa, artes visuais e performances. 

O espaço vai operar como plataforma física e digital, com transmissão global, destacando soluções que integrem conhecimento científico e saberes tradicionais. 

•Visando aumentar a arrecadação, vem aí o novo marco dos benefícios fiscais, prevendo um corte mínimo linear de 10% nas renúncias tributárias. Resta ver o que os artistas acham disso.

•Sob a justificativa de "combater a desinformação sobre as mudanças climáticas", Lula mandou criar um comitê interministerial, juntando 12 ministérios para garantir "comunicação pública baseada em ciência".

•O Ministério da Agricultura e Pecuária bloqueou R$ 445,17 milhões do orçamento 2025, fatia destinada ao Programa de Subvenção ao Seguro Rural.

•Não é nada, não é nada, mas é o equivalente a 42% de toda dotação prevista na Lei Orçamentária anual - que é de R$ 1,06 bilhão - para este fim.

•Dizem especialistas que o corte no seguro rural aumenta a insegurança do produtor, devendo impor efeitos negativos em toda a cadeia do agronegócio, desestimular investimentos e reduzir a competitividade do agro brasileiro.


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