em rendido grande comoção, especialmente entre a população do Arquipélago do Marajó, o anúncio da cúpula da Igreja Católica de afastamento do bispo emérito, Dom José Luís Azcona Hermoso. O religioso deverá deixar a prelazia em janeiro. Detalhe: Dom Luís Azcona é integrante da Congregação dos Padres Agostinianos Recoletos, a mesma do bispo da Diocese de Bragança, Dom Jesus Berdonces, onde, como se sabe, a Nunciatura Apostólica já andou incursionando.
No comunicado feito pela Nunciatura Apostólica, que é a representação do Vaticano no Brasil, o motivo da saída de Dom Azcona não foi informado. O bispo foi apenas “convidado” a não ter mais residência no Marajó. Trocando em miúdos, significa retirar-se do arquipélago para se recolher à casa dos bispos aposentados, em Belém.
Fonte da coluna que acompanha os
bastidores do caso informou que a principal especulação sobre a motivação faz
todo o sentido. Seria uma imposição do novo bispo, Dom José Ionilton Lisboa,
que também começa em janeiro sua missão católica na Prelazia do Marajó.
Esclarecimento do bispo
Dom José, por sua vez, tratou de
imediato de tentar desfazer os rumores. Em uma longa mensagem de áudio, ele
disse que também foi pego de surpresa com a notícia, no sábado, enquanto estava
em visita pastoral em paróquias de outros municípios. “Tomei conhecimento pelas
redes sociais e já manifestei ao clero, e também à própria Nunciatura, e aqui
quero deixar claro ao povo católico do Marajó, de que esta transferência não
foi uma solicitação minha. Eu não coloquei isso como condição para assumir o
ministério”, afirmou categórico o novo bispo.
Mistério e comoção popular
O fato é que, mesmo por motivações
misteriosas, o assunto gerou uma grande comoção, por ser Dom Azcona uma figura
muito querida pela população marajoara. Diversas notas e posicionamentos de
repúdio à decisão foram emitidos ontem, incluído o do Instituto Dom Azcona,
lamentando o recebimento do comunicado na véspera do aniversário de 75 anos da
Declaração Universal de Direitos Humanos, e lembrando o trabalho corajoso de 40
anos de Dom Azcona à frente da Prelazia do Marajó, onde ele se dedicou de forma
incansável em prol da comunidade, especialmente no enfrentamento ao abuso
sexual de crianças e adolescentes e ao tráfico de pessoas.
Na tarde de ontem, um comunicado da
Paróquia da Igreja Matriz de Soure convidou toda a população para a missa das
19 horas, na qual o pároco José Antônio e o vigário Padre Rafael assumiram o
compromisso de levar o clamor da população ao novo bispo, para que Dom Azcona
continue, na condição de emérito, residindo no Marajó, onde o bispo já tem uma
vida construída.
Açaí com peixe assado
A mesma fonte da coluna lembra que
Dom Azcona é uma pessoa idosa, de 83 anos, mas que come peixe assado com açaí
dia sim, dia não. "Deixar o modo de vida que ele tem no Marajó significa
acabar com a saúde dele; vão matar muito rápido o Dom Azcona”, afirmou a fonte,
taxativa.
A quem interessa?
Dom Azcona é conhecido pelo seu
histórico combativo no Marajó. Há mais de 30 anos no arquipélago, luta pelos direitos
humanos na região, em particular contra a exploração sexual infantil, tráfico
de pessoas e, sempre que pode, entra na luta por questões ambientais. E, assim
como já foi premiado por essas questões, também já foi ameaçado de morte por
poderosos e criminosos locais.
Mas Azcona nunca recuou. Em 2009,
suas denúncias sobre casos de pedofilia e exploração sexual de crianças e
adolescentes no Marajó, envolvendo políticos e empresários, levou a Assembleia
Legislativa do Pará a instaurar a CPI da Pedofilia.
O bispo emérito não poupou nem o
Estado e, recentemente, vinha se manifestando contra o programa Avança Pará. De
acordo com Azcona, a ação não considera as reais necessidades do povo marajoara
e é assistencialista, mantendo a população na pobreza e na dependência do
Estado.
Ele condenou em seus artigos a
ausência de consulta popular na região do Marajó para determinar prioridades e
necessidades reais para os recursos do empréstimo de 280 milhões de dólares
feito pelo Estado, argumentando que o governo estadual faz questão de adotar
uma postura assistencialista, fazendo com que a região sempre precise do
“grande padrinho político”.
Da mesma congregação
Dom Azcona nasceu em Pamplona, na
Espanha, em 1940, atua no Brasil desde 1985, e, no Marajó, desde 1987. Ele
pertence à Congregação dos Padres da Ordem dos Agostinianos Recoletos, uma
ordem religiosa católica, da família agostiniana, seguidora do pensamento de
Santo Agostinho. Essa também é a mesma ordem de Dom Jesus Maria Cizaurre
Berdonces, outro bispo católico espanhol residente no Brasil e que atualmente,
no Pará, é bispo diocesano de Bragança, nordeste do Estado, desde agosto de
2016.
A observadora fonte da coluna
argumenta que é quase impossível que uma decisão dessas do Vaticano, sobre Dom
Azcona, não tenha sido comunicada ao Governo Geral da Congregação dos Recoletos
na Espanha. "Eles devem ter sido consultados, e devem ter
concordado", avalia.
Papo Reto
Afinal, o que o deputado federal
Antônio Doido (foto) tem a ver com as obras de macrodrenagem
do Igarapé São Joaquim, em Belém?
"O inferno resolveu abrir franquia em Belém" - comenta assíduo
leitor da coluna: "Não bastasse o calor insuportável que se abate sobre o
Aeroporto de Val-de-Cães, agora também a Estação das Docas virou sauna; neste
domingo, restaurantes às moscas, enquanto os poucos clientes que lá
permaneceram precisavam se abanar".
De fato, em Belém ganham contorno de "cabeça de burro" as
questões envolvendo climatização de espaços públicos. Dos ônibus, nem se fala.
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