á cerca de uma década e meia, com o avanço da tecnologia, o mundo começou a ouvir falar sobre “depósitos de minerais de terras raras”, elementos cruciais para pesquisas e uso em áreas tecnológicas. E com o “olho grande” de Donald Trump sobre esses minerais, o Brasil está no foco: o subsolo brasileiro tem a segunda maior reserva desses minerais, atrás da China.
Um levantamento do Serviço Geológico do Brasil aponta que doze Estados apresentam potencial para a presença de terras raras. O Pará é um deles, com os depósitos de minerais na mina de cobre de Salobo, em Carajás, descobertos em 2011, que apresentam qualidade similar à de depósitos de alta qualidade na Austrália, segundo o Centro de Tecnologia Mineral.
A mineradora Vale, detentora dos direitos sobre mina de Salobo, foi convidada para explorar a possibilidade de produzir terras raras e começou a prospectar a área em busca desses metais usados na fabricação de microchips e no refino de petróleo.
No Pará, a Universidade Federal do Pará possui pesquisas relacionadas a terras raras, com uma tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica que abordou o tema. O Serviço Geológico do Brasil integra o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, que reúne 15 instituições, incluindo a UFPA, e impulsiona estudos sobre terras raras e a formação de especialistas na área.
A Universidade Federal do Oeste do Pará, Ufopa, também integra projeto do INCT, ou INCT Matéria. Com um investimento de R$ 10,2 milhões em cinco anos, essa iniciativa tem a participação de especialistas, formando uma rede multidisciplinar para desenvolver tecnologias estratégicas baseadas em terras raras.
O que são terras raras
O conceito de terras raras é aplicado a um grupo de 17 elementos químicos que surgem, geralmente, misturados a outros minérios de difícil extração e de isolamento em alta pureza, o que torna o processo caro e complexo. No Brasil, há presença desses minerais ou regiões em que já foram confirmados depósitos, como em Goiás e Minas Gerais. Segundo o SGB, além do Pará, há mais onze Estados onde há grande potencial de as terras serem encontradas: Goiás, Tocantins, Minas Gerais, Bahia, Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rondônia, Roraima, Amazonas e Piauí, sendo que a maior parte das reservas está associada a rochas alcalino-carbonáticas em Araxá (MG), Tapira (MG), Catalão (GO), e depósitos de argila iônica associadas a alcalinas em Poços de Caldas (MG).
Além desses, há o caso de Seis Lagos, localizado na Reserva Biológica Morro dos Seis Lagos, município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, onde a reserva é de 2,9 bilhões de toneladas de terras raras, o que resultaria em 43,5 milhões de toneladas de metal contido.
As grandes reservas
O Brasil é dono de uma das maiores reservas de terras raras do planeta, mas, hoje, praticamente não explora esses recursos minerais. As terras raras são usadas também em superimãs, telas de tablets, computadores e celulares, no processo de produção da gasolina e em painéis solares. Estimativas da agência Serviços Geológico Norte-Americano apontam que as reservas brasileiras podem chegar a 3,5 bilhões de toneladas de terras raras.
A Fundação Certi, de Santa Catarina, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, de São Paulo, e o Centro de Tecnologia Mineral do Rio de Janeiro estão se articulando para dar apoio à iniciativa privada caso o Brasil decida explorar esses recursos minerais e entrar no mercado, que atualmente é dominado pela China, responsável por 95% da produção e dona de 36% das reservas conhecidas. O valor do mercado mundial dos óxidos de terras raras é da ordem de US$ 5 bilhões anuais.
Novas ocorrências
Recentemente, foram apontadas novas ocorrências de fosfato, e urânio na borda oriental da bacia do rio Parnaíba, no Piauí. Há também projetos de pesquisa avançados no sul da Bahia, que inclui rochas monazíticas e argila iônica, e projetos em argila iônica do grupo Mata da Corda (MG). Em Araxá, Minas Gerais, em uma mina explorada pela Vale, haveria o segundo maior depósito brasileiro: a estimativa é de 450 milhões de toneladas de terras raras e 8,1 milhões de metal contido para essa mina.
“Cerca de dez empresas no Brasil estão discutindo entrar na produção de terras raras. A Vale é citada por ser a maior mineradora, mas há outras interessadas que não se manifestam publicamente”, diz o Ibram.
Dezessete elementos
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração, Ibram, as terras raras são 17 elementos químicos muito parecidos, que se diferem no número de elétrons em uma das camadas da eletrosfera do átomo e são agrupadas em uma família na Tabela Periódica, porque ocorrem juntos na natureza e são quimicamente muito parecidos.
Também têm como característica comum os nomes complicados: lantânio, neodímio, cério, praseodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, escândio e lutécio. E apesar do nome sugerir, esses metais não são tão raros como o ouro, por exemplo.
Atualmente, o mundo consome 150 mil toneladas por ano de terras raras. O neodímio, elemento químico mais usados dentro do grupo, está nos superimãs; o lantânio é usado para fabricar gasolina - e o Brasil consome 1.000 toneladas por ano desse mineral; o óxido de cério é usado para polir lentes de óculos; e nos leds brancos, que estão substituindo lâmpadas fluorescentes.
“Se até poucos anos atrás não compensava para o Brasil entrar no setor, por não haver condições de competição com a China, o potencial das reservas brasileiras e o aumento dos preços das terras raras no mercado internacional podem tornar o negócio economicamente viável”, diz o Ibram.
Interesse americano
No ano passado, a China deu uma amostra de seu controle sobre o fornecimento de terras raras e embargou as exportações desse produto para o Japão, em represália à prisão de um comandante de barco de pesca chinês em uma área marítima disputada por ambos os países.
Os japoneses tiveram problemas, já que sua indústria é sustentada em produtos de alta tecnologia que usam as terras raras. Diante desse panorama, os EUA, por exemplo, já elegeram as terras raras como recursos críticos à sua economia, igualmente baseada na produção e venda de produtos de alto conteúdo tecnológico. A empresa Molycorp Minerals, com operações na Califórnia, está investindo US$ 200 milhões para recolocar sua fábrica em operação.
Muitos analistas de política internacional apontam que a aplicação de 50% de taxa de impostos sobre a exportação de produtos brasileiros para os EUA está intimamente ligada ao interesse do governo Trump nas reservas de terras raras no Brasil.