Café com pão vira ‘bomba’ que pode estourar em blitz pelos altos níveis de álcool conservante

“Não, é pão”, diz a gíria: duas fatias de ‘pão caseiro’ pela manhã são capazes de estragar o dia, sem falar que algumas marcas nacionais já não fazem café como antigamente...

12/07/2024, 13:00
Café com pão vira ‘bomba’ que pode estourar em blitz pelos altos níveis de álcool conservante
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magine essa em pleno veraneio: você acorda, se espreguiça e se prepara para tomar o tradicional café com pão na primeira refeição do dia. Pouco tempo depois, começa a sentir um mal-estar, mas sai de casa - e é flagrado em uma blitz. No teste de alcoolemia, o chamado “teste do bafômetro”, pimba!


Estudo da Proteste coloca o “pão de forma” e marcas de café como “vilões” para o consumidor pelo excesso de álcool/Fotos: Divulgação.

Todo cuidado é pouco: tudo isso pode acontecer porque os brasileiros estão bebendo café contaminado e comendo ‘pão de forma’ com altos níveis de álcool.

 

Nota do redator: favor não tentar esse argumento para negar que ingeriu álcool além da conta.

 

Dois estudos divulgados recentemente mostram que a população está consumindo alimentos impróprios. No início deste mês, o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Mapa, divulgou uma lista com 19 marcas de café torrado consideradas impróprias para consumo humano, e na quinta-feira, 11, uma pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, a Proteste, mostrou que há presença de álcool em marcas populares de ‘pães de forma’.

 

Álcool no pão

 

Se algumas marcas de ‘pão de forma’ fossem consideradas bebidas, elas seriam alcoólicas. O levantamento foi feito pela Proteste em fevereiro deste ano. Pelo Decreto 6.871, de 4 de junho de 2009, para que uma bebida seja considerada não alcoólica, a legislação brasileira determina que ela deve conter um teor máximo de etanol de 0,5%.

 

O estudo mostra que alguns pães brasileiros deveriam ter um aviso na embalagem: “Contém álcool”. A lista com as marcas acima de 0,5% de teor alcoólico são: Visconti (com 3,37), Bauducco (1,17), Wickbold 5 zeros (0,89), Wickbold Sem Glúten (0,66), Wickbold Leve (0,52) e Panco (0,51).

 

Assopra aqui

 

Segundo o Departamento Nacional de Trânsito, Detran, a quantidade segura de álcool no organismo seria abaixo de 3,3g de álcool. Ou seja, ao consumir duas fatias de alguns produtos, isso pode aparecer no teste do bafômetro e 'acusar' alcoolemia.

As três marcas que podem causar esse problema são: Visconti, com 1,69% por 50 gramas ou duas fatias de pão de forma; Bauducco, com 0,59 e Wickbold 5 zeros, como 0,45.

 

Parede; e é álcool

 

É fato que o pão é um alimento muito perecível. Para evitar o mofo e garantir que o pão fique intacto e dure mais, a indústria usa conservantes diluídos em álcool e borrifados no produto antes de embalar.

 

Quando essas aplicações são exageradas, o pão fica com um teor de etanol muito elevado, e isso se junta ao tempo que esses produtos podem ficar expostos nas prateleiras dos supermercados e padarias porque, mesmo em um produto dentro do prazo de validade, o teor de álcool continua presente.

 

“O álcool usado para diluição do conservante - colocado após o pão passar pelo forno -, deve ser evaporado até o consumo em si do pão, mas, se houver um abuso na quantidade do antimofo ou em sua diluição, isso pode não ocorrer e ocasionar um pão com um teor de etanol muito elevado”, diz o texto da pesquisa.

 

A Proteste considera esses casos muito graves. Tanto que lançou um site na internet, no link https://www.temalcoolnopao.com.br/, no qual está a campanha “Tem álcool no seu pão de forma” e com várias informações sobre o assunto.

 

Café impróprio

 

 Além de mostrar a lista dos cafés torrados impróprios ao consumo, o Mapa informou que os produtos na lista devem ser recolhidos pelas empresas responsáveis. “A ação está respaldada pelo artigo 29-A do Decreto 6.268/2007, que prevê a aplicação do recolhimento em casos de risco à saúde pública, adulteração, fraude ou falsificação de produtos”, destacou.

 

O ministério detalhou ainda que o alerta faz parte de desdobramentos da Operação Valoriza, com fiscalizações realizadas em todo o País entre os dias 18 e 28 de março deste ano, quando foram coletadas 168 amostras de café torrado.

 

Parece, mas não é

 

As fiscalizações de café torrado são realizadas pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal da Secretaria de Defesa Agropecuária. As marcas irregulares apresentam impurezas como cascas, galhos e resíduos de outras espécies vegetais.

 

“A matéria-prima utilizada para fraudar o café costuma ser de baixa qualidade, podendo conter resíduos de agrotóxicos ou outras substâncias prejudiciais à saúde. Para celíacos, por exemplo, o café fraudado com cereais traz os efeitos característicos do consumo de glúten”, explica Hugo Caruso, diretor do departamento.

 

Evite se possível


São 19 os lotes de marcas de café que foram considerados impróprios: os lotes 01, 11 e 02 do Café do Norte, do estado do Amazonas; lotes 003 do Café do Povo, 125 do café Sultão e 120 do Aladdin, de Goiás; os lotes 545 e 177 do café Mila, de Minas Gerais; o lote 05824 do café Quitada, do Mato Grosso; lote 24fev2024 do café Serrano, de Pernambuco; lote 08 do Lago Bom, Paranaense, dois lotes do café Sansão e o lote 4 do café Castro, todos do estado do Paraná; lotes 139 e 143 do café Meu Café, do Tocantins; lote 4 do Córrego de Ouro, de Minas Gerais; lote 62 do Bule Nobre, de Goiás; lote 203 do Café de Minas, de Minas Gerais; lote 05/06/2024 do café Ouro Minas, de Minas Gerais; lote 185 do Aroma Premium, de Mato Grosso; lote 90 do café Casão, do Mato Grosso; e lote 7809, do café Made in Brazil, de São Paulo.

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