Cotidiano de uma cidade tetraplégica: mobilidade urbana é sonho possível, mas pesadelo em Belém

Não se pode mais andar em Belém e região: a ditadura do BRT espalha seus tentáculos e tira da população o direito de ir e vir.

16/05/2024 09:33

BRT Metropolitano se alia ao Túnel do Entroncamento e igarapés, fecha a cidade e imobiliza a região metropolitana/Fotos: Divulgação-Redes Sociais.


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or mais boa vontade que se tenha, é inevitável comparar: transformaram a Região Metropolitana de Belém em uma arapuca tão gigantesca que, se depender da vontade de cada um, quem está fora não entra, quem está dentro não sai. Não se pode mais andar em Belém e região senão a um custo altíssimo de tempo, paciência e dinheiro, como ratos de laboratório, que patinam por longo tempo em uma esteira até o destino final.

 

Não há dúvida de que o sentimento geral gira em torno da “obra do fim do mundo”, o BRT Metropolitano, onde o tráfego é reconfigurado do dia para a noite e, não raro, faz vítimas uma atrás da outra depois de cada noite mal dormida pela expectativa do fantasma da entrada e da saída seguintes.

 

Ironicamente, para se alcançar a tão sonhada mobilidade urbana que enfeita os discursos oficiais, em Belém a população é manietada por falta de planejamento e diálogo. O poder público não “fala” com o trânsito; manda recados que os mensageiros, provavelmente cansados e com má vontade, sequer transmitem com precisão - e tudo para ou se arrasta.

 

Vias sem alternativas

 

São louváveis as tentativas de criar vias alternativas para tirar a população de Belém da “caixa”, mas a preferência é pela linha reta - o corretor tradicional -, até porque as vias secundárias também carecem da presença do homem de trânsito para orientar. O poder público prefere as máquinas, o olho do big brother que denuncia, julga e condena ao mesmo tempo e carrega na sentença, com multas e punições pesadas. Andar em Belém é um calvário escrito pelo Estado insensível.

 

Cinco carnavais e mais

 

Depois de cinco invernos, cinco carnavais, cinco semanas santas, cinco férias escolares, cinco círios, cinco festas de fim de ano e mais cinco meses por cima, o BRT Metropolitano não evoluiu a ponto de criar uma expectativa de conclusão para a população da Região Metropolitana e o restante dos municípios do Estado que demandam a capital; muito pelo contrário.

 

Adiamentos eternos

 

Anunciado com pompa e circunstância como um dos primeiros atos do governo Helder Barbalho, em 2019, o projeto, deixado pelo governo anterior pronto e acabado e com recursos em caixa - R$ 384.607.698,55, segundo o contrato -, tinha prazo de conclusão de 19 meses, isto é, janeiro de 2020, ano em que contava cerca de 10% da obra executada. Foi adiado para 2021, depois 2022, 2023 e 2024, mas, nada... Aliás, hoje, o governador Helder Barbalho ainda arrisca este prazo, mas a vice-governadora se refere à conclusão em 2025.

 

Calvário todo santo dia

 

O certo é que no trecho traçado do projeto, que representa bem mais do que uma via expressa de 10,8 Km de Belém a Marituba, o que se vê é um calvário, perigo de morte, metade das estações de passageiros destruída, blocos de concreto deslocados para redefinir espaços, trânsito lento, engarrafamentos e fiscalização feita por estátuas fardadas sob o ar-condicionado de carros oficiais afrontando os mortais irritados e avexados.

 

Águas que imobilizam

 

O torniquete aperta quanto mais chove: não bastasse a água acumulada nas pistas e os igarapés que transbordam, agora é o túnel do Entroncamento ditando o ritmo da mobilidade.  Nesta semana, o novo secretário de Urbanismo de Belém, Lélio Costa (vídeo), veio a público admitir que as bombas usadas para drenar as águas do túnel estão quebradas – mas serão recuperadas pelo prefeito de Belém, uau! -, apontando restos de material de construção despejados pelas obras do BRT como um dos responsáveis pelos alagamentos.

 

A caixa é sufocante e não sinaliza saída honrosa. Na última sexta-feira, funcionários de um hospital particular em Ananindeua fecharam literalmente a BR-316 das 15 horas às 19 horas em defesa dos seus direitos trabalhistas, mas, no dia seguinte, sábado, a população que tentou sair da cidade em busca de descanso não teve esse direito, como todo santo dia.   

 

Uma cidade tetraplégica

 

Belém está tetraplégica. Mobilidade é apenas um discurso dentro e fora da cidade, para quem entra ou quem sai, ainda que seja em cadeira de rodas, e tudo passa pelas intermináveis obras do BRT Metropolitano. Cobrar providências do poder público é como acender uma luz: quem não se levanta para apertar o botão não deve reclamar da escuridão.

 

Papo Reto

 

· Sobre o contrato da prefeitura e a ex-secretária de Educação de Belém Márcia Bittencourt, que o prefeito Edmilson Rodrigues (foto) desconhecida, diz que.

 

· Para a alegada inexigibilidade de licitação, seriam necessários especialização tão extraordinária e saber tão grandioso na área que a Secretaria exigiu assessoria e consultoria técnico-pedagógica para projetos estruturantes do Alfabetiza Belém e outros itens do contrato.

 

· Para uma professora do município que avaliou a questão: “Em Belém há toneladas de professores com essa expertise”.

 

·  Resumo da ópera: pelo contrato e seu objeto pode-se afirmar que existem graves indícios de clara manipulação, compadrio, esquema e privilégio de contratação fraudulenta para apropriação do dinheiro público. Com a palavra, o MP e o TCM. 

 

· Estima-se que 2% a 3% das pessoas no mundo, muitas não diagnosticadas, sofram com intolerância ao glúten, elemento presente em cereais como trigo, cevada e centeio.

 

· Hoje, Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Celíaca, vale registrar que, só no Brasil, segundo a Fenacelbra, imagina-se haver 2 milhões de pessoas sofrendo com os efeitos da intolerância ao glúten.

 

· Acredite, mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. São 241,1 mil pontos sem energia elétrica e 136 mil domicílios sem abastecimento de água.

 

·  Aliás, ontem, o Senado aprovou, por 61 votos a 0, o projeto de lei complementar que suspendeu por três anos o pagamento da dívida do estado, estimada em R$ 98 bilhões.

 

· Em nome de recomposição salarial, realização de concurso público e reestruturação das unidades, servidores de hospitais federais no Rio de Janeiro paralisaram atividades por tempo indeterminado. 

 

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