rasília - Ao mesmo tempo em que negocia com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), um pacote de ajuda aos gaúchos flagelados pela chuva, que inclui a suspensão do pagamento das dívidas do Rio Grande do Sul, cujos serviços custam cerca de R$ 3,5 bilhões ao ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva liberou um investimento da Itaipu Binacional, a fundo perdido, para obras de infraestrutura de Belém da ordem de R$ 1,3 bilhão. A capital do Pará sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, a COP 30, em 2025.
Esses recursos de Itaipu sempre foram
destinados ao Paraná e ao Mato Grosso do Sul, porém, desde março, vinham sendo
negociados entre o diretor-geral brasileiro da empresa, Enio Verri, o ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e o
prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol), para reforçar o pacote de
investimentos na infraestrutura da cidade. Belém deve receber cerca de 50 mil
pessoas durante a COP30, a primeira a se realizar em plena Amazônia.
Projetos contratados
Os projetos a serem executados já estão
contratados. Um dos convênios, com o governo do Estado destina-se ao
aprimoramento de infraestrutura viária e implantação do Parque Linear Doca, na
avenida Visconde de Souza Franco, no centro de Belém; à execução de 50 km de
rede coletora de esgoto, 4,8 mil ligações de esgoto; à pavimentação de vias de
acesso à COP30, implantação de vias marginais do Canal Água Cristal e
equipamentos de controle de tráfego, entre outras. Tal investimento passa de R$
1 bilhão.
O segundo convênio, no valor de R$
323,5 milhões, será assinado pela Itaipu e a Prefeitura de Belém, para
implantação do Parque Urbano Igarapé São Joaquim, incluindo projetos de
arquitetura, paisagismo, rede esgoto, abastecimento, iluminação pública, pavimentação
e sinalização viária. O mesmo acordo prevê a reforma e revitalização do
Complexo Ver-o-Peso, símbolo da capital paraense, que abriga um dos mercados
mais antigos do Brasil, e a restauração do Mercado Municipal de São Brás,
construção histórica localizada no centro da cidade.
O terceiro convênio, no valor de R$
41,8 milhões, destina-se ao Parque Tecnológico Itaipu, à Prefeitura de Belém e
à Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), para o
desenvolvimento de metodologia de gestão de resíduos sólidos, ações de educação
ambiental e de inovação em biotecnologia.
Dever de casa
Segundo o governador Helder Barbalho, a
realização desses investimentos é fundamental para o sucesso da COP, que
receberá um total de R$ 4 bilhões em obras, a maior parte financiada pelo BNDES
e a serem pagas pelo governo do Estado. Entretanto, Belém sofre um ataque
especulativo. É péssima a avaliação do prefeito Edmilson Rodrigues, que
concorre à reeleição, em razão do desgaste provocado pelo colapso do sistema de
coleta de resíduos sólidos na capital.
Surgiram especulações de que a cidade
não teria condições de receber a COP30 e propostas no sentido de compartilhar o
evento com o Rio de Janeiro e São Paulo, que teriam uma infraestrutura pronta,
passaram a ser ventiladas. Barbalho garante que esse problema será superado com
a nova concessão do serviço de limpeza pública, e que todas as metas para
realização do evento serão alcançadas no prazo previsto. O arranjo
institucional para execução das obras está completo. Os problemas mais críticos
são a dragagem das Docas, para atracação dos navios de cruzeiro, que serão
utilizados como hotéis pelas delegações estrangeiras, e o reforço da rede de
hotéis da cidade e construção de novos alojamentos de arvoredo com as
exigências da ONU.
“Tenho absoluta certeza de que fazer a
COP na floresta será a mais importante rodada de conferência desde o Acordo de
Paris, que completa 10 anos”, afirma Barbalho, que acredita na mobilização da
sociedade, sobretudo indígenas e quilombolas, para restabelecer a centralidade
da questão das florestas na discussão sobre o clima. Hoje, o eixo de debate,
inclusive no Congresso, é a transição energética. “Precisamos preservar 75% do
nosso território hoje ocupado por florestas, isso exige uma nova economia, que
garanta a sobrevivência de seus ocupantes”, argumenta.
Alterações climáticas
Questionado sobre os investimentos de
Itaipu num momento em que o Rio Grande Sul vive sua maior tragédia, Barbalho
argumenta que é um erro não levar em conta que o desastre ambiental no Sul
também é consequência das alterações climáticas, cuja contenção depende muito
da sustentabilidade da Amazônia, e que "o problema não é falta de
recursos no Orçamento da União, é a forma como estão sendo pulverizados pelas
emendas parlamentares”. Essas emendas somam R$ 53 bilhões.
A consumação do acordo com Itaipu é polêmica,
diante da destruição das cidades, da infraestrutura e das lavouras gaúchas. O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva está numa saia-justa, apesar de todo o
empenho do governo federal para ajudar o Rio Grande do Sul. Ontem, Lula
anunciou que suspenderá o pagamento da dívida do Estado com a União, cuja
rolagem custa R$ 3,5 bilhões por ano, e convidou o governador Eduardo Leite
para discutir a reestruturação da dívida total, que chega a R$ 90 bilhões.
Rolagem da dívida, porém, não é investimento direto da União na reconstrução do
Estado.
Papo Reto
· Dá um longa: o sucesso do resgate da água
“Caramelo”, anunciado pela primeira dama, Janja (foto), em meio a
uma reunião do presidente Lula, viralizou nas redes sociais mais do que...
Deixa prá lá.
· A 9ª Vara Federal da Seção Judiciária do
Pará determinou a destinação de R$ 276.478,61para ajudar as vítimas da tragédia
causada pelas inundações no Rio Grande do Sul.
· Até agora, sabe-se de mais de 90 mortes e
milhares de pessoas e desabrigadas. Os recursos deverão ser depositados na
conta da Defesa Civil no Banco do Estado do Rio Grande do Sul.
· As exportações de peixes originados de
cultivo atingiram a marca de US$ 8,7 milhões no Brasil. Não é nada, não é nada,
representam crescimento de 48% em um ano.
· Os (contundentes) números da pesquisa
Genial/Quaest, divulgada anteontem, indicam que a maioria dos brasileiros (49%)
acredita que o País caminha para o buraco. Só 41% dos brasileiros consideram
que o Brasil está na direção correta.
· Uma nova vacina, desenvolvida na Universidade de Cambridge, apresentou potencial de
proteção contra vários tipos de coronavírus, inclusive alguns sequer
conhecidos, diz estudo da Nature Nanotechnology.
· O novo imunizante treina o sistema
imunológico humano para reconhecer pelo menos oito tipos de coronavírus
diferentes, entre eles o Sars-CoV-1 e o Sars-CoV-2.
· Depois de vender mais de 3 bilhões de
doses da vacina contra a covid-19, AstraZeneca e Universidade de Oxford
anunciam a retirada do imunizante do mercado.
· Segundo a indústria, "o surgimento de novas variantes do coronavírus fez com que a demanda se voltasse para as vacinas mais recentes e atualizadas".