gua com areia não se pode misturar...” é uma expressão popular bastante conhecida e cantada em prosa e verso. Em Bragança, nordeste do Estado, pode ser aplicada para expressar a disputa política intestina que nunca esteve nos bastidores - mas nos palanques - envolvendo dois ramos de famílias chamadas Oliveira: a do ex-prefeito Edson Oliveira, agora sustentada pelo irmão mais novo, deputado Renato Oliveira, e a do quase ex-prefeito, Raimundo Oliveira.
Os bragantinos de boa cepa sabem que
os Oliveiras de Edson são MDB raiz, criados sob o poderio político do atual
senador Jader Barbalho, que governou o Pará por duas vezes; os Oliveira de
oposição à família de Edson e Renato, porém, são praticamente noviços no
partido, desde que Raimundo Oliveira, depois se exibir em saltos triplos mortais
carpados, se jogou do ninho tucano para os braços do atual governador, Helder
Barbalho, filho de Jader e irmão do ministro Jader Filho.
Essas são as duas famílias Oliveira
que têm se digladiando publicamente em Bragança nos últimos anos, com perdas
para um lado e outro e muitos escândalos recentes para um lado, mas a árvore de
Oliveira é bem mais frondosa na região e abriga personagens tão ou mais
conhecidos, apesar da atuação política discreta - e por óbvio dispendiosa - nos
bastidores, algumas vezes provocando arrepios até no alto
clero.
Fato é que, diante desse cenário, a
eleição para escolha da nova direção da Câmara de Vereadores também segue um
roteiro de disputa familiar, em nome das famílias Oliveira. Os candidatos: dois
vereadores que também são irmãos e tentam chegar à presidência em lados
opostos, com apoios distintos, mas, ambos, compondo a base do governador Helder
Barbalho - o que pesa muito nesse momento no cenário político local.
Um dos grupos tem como candidato o vereador Júnior do Pneu, do MDB, eleito com
1.946 votos e que conta com o apoio do atual prefeito de Bragança, Raimundo
Oliveira, e do prefeito eleito, Mário Júnior, também do MDB. Júnior do Pneu
volta à Câmara depois de ter sido cassado, em agosto deste ano, por fraudes na
cota de gênero.
O outro grupo é comandado pelo irmão dele, João Paulo, do PP, vereador eleito
com 1.376 votos e que representa, na cidade, os interesses do deputado estadual
Renato Oliveira, do MDB, que presidiu a Câmara de Bragança em 2020. Àquela
altura, Renato e Raimundo Oliveira já eram inimigos declarados na política.
Aparente vantagem
Em cenários normais de temperatura e pressão, o atual prefeito não teria
dificuldades para eleger o presidente do Legislativo, já que conquistou 15 das
19 cadeiras da Câmara. O problema, no entanto, está no nome sugerido por ele.
Júnior do Pneu não gerou consenso na escolha e a maioria dos vereadores alega
que não possui diálogo com a base, age apenas em benefício próprio e não cumpre
acordos firmados com seus pares.
Ouvido pela Coluna Olavo Dutra, o deputado Renato Oliveira alega
que quer aproveitar essa insatisfação para emplacar o nome de João Paulo na
presidência da Casa. “Vendo a insatisfação da chapa do atual prefeito, iremos
dialogar com todos os vereadores, até mesmo porque não queremos uma Câmara
calada e obediente por mais quatro anos”.
Chapa única nem pensar
Por algum momento, os vereadores chegaram a conversar entre si para compor uma
chapa única, o que facilitaria os trabalhos e demonstraria traços de união
entre o grupo que seguirá no Legislativo pelos próximos quatro anos. Mas o
prefeito Raimundo Oliveira se posicionou contra e, durante o evento de
diplomação, deixou claro, à sua maneira, que não permitiria associação com
grupos políticos contrários.
Fontes ouvidas pela coluna afirmam que ninguém mais suporta “as grosserias de
Raimundão” na cidade - nem mesmo o próprio governador Helder Barbalho - que,
por conta do comportamento intempestivo do gestor, cancelou participação em
evento importantes em Bragança, como as inaugurações da rodovia PA-112 e a
entrega da Usina da Paz. Dizem que, não raro, Helder tem saído de Bragança
esbravejando contra o prefeito temperamental e boquirroto - mas isso fica
apenas entre seus assessores mais próximos. Ninguém disse, mas, quem sabe o
governador já não pensou, lá com seus botões, que “esse é o tipo de caititu
indomável?”
Correndo por fora
A disputa também desperta o interesse de um terceiro grupo que aposta,
sobretudo, no agravamento da crise envolvendo o prefeito e o deputado Renato
Oliveira. Nesse cenário, a intenção seria correr por fora e sugerir um terceiro
nome, alguém capaz de agradar à maioria dos vereadores e que não provocasse o
desgaste que a disputa em andamento está provocando no Legislativo.
Ainda de acordo com o grupo considerado “alternativo”, o nome em questão é
mantido em sigilo para não se tornar vítima das 'arapucas' normalmente usadas
Pelo atual prefeito, definido, por muitos políticos da região, como alguém que
prefere anular seus adversários a enfrentá-los. As pedras estão posicionadas.
Agora é esperar para ver o resultado
de cada jogada - sem esquecer, voltando à expressão que abre este texto - que “...
a água vai embora e a areia fica no lugar”.
Papo Reto
· Juntadas as festanças, uma
delas, comandada por Leona Vingativa, no Centro de Eventos Benedito Nunes, da
UFPA, restou a impressão de que a gestão do reitor Gilmar Pereira tem um viés
de “lacração e ativismo”.
· O personagem principal desse
inusitado cenário é ninguém menos do que o chefe de Gabinete do reitor,
Doriedson Rodrigues (foto), “lacrando” em festa na cidade de
Cametá, terra dele e do professor e Gilmar.
· Mas, nem
tudo são festas. enquanto elas rolam, os dirigentes acadêmicos - de Institutos
e núcleos -, onde as aulas ocorrem, estão desde setembro sem receber recursos
financeiros.
· “Me impressiona que, em mais
de quatro meses de bloqueio, não tenha sido feito nenhum comunicado oficial
explicando a situação para a comunidade acadêmica”, diz fonte da coluna.
· “Universidades menores no
ranking nacional, como a UFPI postaram para que toda a comunidade
soubesse quanto foi bloqueado e o que isso impacta na realidade deles.
· Mais: nós que trabalhamos
dentro da universidade, não sabemos exatamente o que está acontecendo”,
completa.
· O governo federal raspa o
fundo do tacho: portaria publicada ontem dita as novas regras para a destinação
das moedas lançadas em espelhos d’água de residências oficiais da Presidência
da República. A ordem é recolher os trocados ao Tesouro Nacional.
· Tradicionalmente, turistas e
visitantes que vão ao Palácio da Alvorada e ao Palácio do Planalto costumam
depositar moedas nos espelhos d’água que cercam os prédios oficiais.
· Segundo a portaria, a coleta
deve ser realizada com uma periodicidade de até seis meses. Depois, o montante
será depositado no caixa da União.
· No caso das moedas fora de
circulação ou de valor histórico, cultural ou artístico, serão levadas ao Museu
de Valores do Banco Central. As estrangeiras serão convertidas e destinadas ao
Tesouro.